ABC | Volume 112, Nº2, Fevereiro 2019

Artigo de Revisão Fontes-Carvalho et al O ano de 2018 em cardiologia: ABC cardiol e RPC em resumo Arq Bras Cardiol. 2019; 112(2):193-200 algo que também foi demonstrado em outros estudos. 43 Portanto, este estudo mostrou claramente que existem lacunas importantes no conhecimento relacionado à saúde cardiovascular na população em geral. Todos nós, como médicos, comunidade científica e sociedade, precisamos criar uma conscientização crescente sobre a importância de melhorar o conhecimento em saúde na comunidade. Esta é uma estratégia nova e importante para ajudar a prevenir doenças cardiovasculares. É fundamental conhecer as lacunas na atenção cardiovascular, e o conhecimento sobre problemas e soluções comuns compartilhados pelos países de língua portuguesa (PLP) pode fornecer dados úteis sobre as semelhanças e diferenças entre eles, enfatizando ações bem-sucedidas no combate às DCV. Nascimento et al. 1 descreveram as tendências na morbidade e mortalidade por doenças cardiovasculares no PLP entre 1990 e 2016, estratificadas por sexo, e sua associação com os respectivos índices sociodemográficos (ISD), utilizando os dados e a metodologia do Global Burden of Disease (GBD) 2016. Eles observaram grandes diferenças, principalmente relacionadas às condições socioeconômicas, no impacto relativo da carga de DCV no PLP. Entre as DCV, a cardiopatia isquêmica foi a principal causa de morte em todos os PLP em 2016, com exceção de Moçambique e São Tomé e Príncipe, onde as doenças cerebrovasculares a suplantaram. Os fatores de risco atribuíveis mais relevantes para DCV entre todos os PLP são hipertensão e fatores dietéticos. Fatores genéticos, implícitos na identidade cultural, fatores inerentes ao hospedeiro, bem como a enorme desigualdade social, poderiam ter contribuído para explicar as taxas de mortalidade observadas. A colaboração entre os PLP pode possibilitar o compartilhamento de experiências bem-sucedidas para enfrentar as DCV nesses países. Cardiomiopatias e valvopatia cardíaca Na edição de janeiro de 2018 da Rev Port Cardiol, Cardim et al. 44 relataram os resultados gerais do Registro Nacional de Cardiomiopatia Hipertrófica (PRo-HCM), que incluiu 1042 pacientes de 29 centros. Este é um dos maiores e mais significativos registros mundiais de CMHe fornece uma avaliação contemporânea detalhada do perfil clínico, estratégias demanejo e desfechos de CMH em Portugal. As principais conclusões foram que a CMH é caracterizada pela idade relativamente avançada ao diagnóstico, uma vez que em mais de um quarto dos doentes o diagnóstico foi feito apenas após os 65 anos. Houve uso limitado de Ressonância Magnética Cardíaca para avaliação de CMH, mas, por outro lado, mais de 50% realizaram testes genéticos. A mortalidade de longo prazo (0,65%/ano) e o risco de morte súbita cardíaca (0,22%/ano) foram baixos, mas a morbidade permaneceu considerável. Esse registro mostra que existem diferenças importantes na abordagem da CMH entre as diretrizes e a prática clínica, o que também foi demonstrado em outros registros. 45,46 Este pode ser o resultado de diferentes cursos clínicos de CMH que representam o espectro heterogêneo da CMH. Finalmente, esses dados reforçam a importância do uso de registros clínicos como uma importante fonte de informação que deve ser usada para auxiliar a prática clínica, mas também para influenciar a redação das diretrizes. 47 Os avanços na imagiologia cardíaca não invasiva proporcionaram importantes conhecimentos novos na fisiopatologia da cardiopatia valvular e das cardiomiopatias, e no diagnóstico de complicações relacionadas com dispositivos implantados ou biopróteses. 48 Gripp et al. 49 usaram o strain longitudinal global para avaliar a incidência de cardiotoxicidade em 49 pacientes tratados de câncer de mama e os fatores independentes associados a esse evento. A cardiotoxicidade foi identificada em 5 (10%) no terceiro (n = 2) e sexto (n = 3) meses de seguimento. A alteração no strain longitudinal esteve independentemente associada ao evento (p = 0,004; HR = 2,77; IC95%: 1,39-5,54), com um ponto de corte para o valor absoluto de -16,6 (AUC = 0,95; IC95%: 0,87-1,0) ou um ponto de corte para redução percentual de 14% (AUC = 0,97; IC 95%: 0,9-1,0). Eles concluíram que a redução de 14% do strain longitudinal (valor absoluto de -16,6) possibilitou a identificação precoce de pacientes que poderiam desenvolver cardiotoxicidade induzida por antraciclina e/ou trastuzumabe. O papel do valor incremental da combinação de técnicas de imagem ou das imagens de fusão no diagnóstico e no prognóstico está crescendo exponencialmente. 48 No documento do consenso Valve Academic Research Consortium-2 (VARC-2) , a avaliação hemodinâmica quantitativa e semi-quantitativa é recomendada para quantificar a gravidade da regurgitação aórtica (RA) pelo ecocardiograma, e uma RA moderada a grave é definida como uma lesão na válvula 50 associada comdesfecho precário emortalidade. Miyazaki et al. 51 investigarama avaliação angiográfica quantitativa da RA por videodensitometria antes e depois da dilatação pós balão (DPB), uma vez que essa técnica fornece uma avaliação precisa da gravidade do vazamento perivalvar (VPV) e correlaciona-se com aumento da mortalidade e comprometimento do remodelamento cardíaco reverso pela ecocardiografia após implante de válvula aórtica transcateter (TAVI). Os autores mostraram que a videodensitometria AR (VD‑AR) diminuiu significativamente de 24,0 [18,0-30,5]% para 12,0 [5,5-19,0]%, e o delta relativo da VD-AR após a DPB variou de -100% (melhora) a +40% (deterioração). RA significativa (VD-AR > 17%) foi observada em 47 pacientes (77%) antes e em 19 pacientes (31%) após a DPB. Eles concluíram que o VD‑AR após a implantação da válvula aórtica transcateter fornece uma avaliação quantitativa da regurgitação pós-TAVI e pode ajudar no processo de tomada de decisão sobre a realização de DPB e na determinação da sua eficácia. O aumento do número de crianças com cardiopatias congênitas que tiveram menor mortalidade, especialmente nos últimos anos, exige maior preparo dos profissionais e instituições que lidam com eles. A cirurgia de Jatene tornou‑se o procedimento cirúrgico de escolha para reparar a transposição das grandes artérias (TGA) emneonatos e lactentes, e atualmente o comportamento da válvula neo‑aórtica é preocupante devido ao seu potencial para evoluir para reoperação tardia. Martins et al. 52 avaliaram a prevalência e os fatores de risco da regurgitação valvar neo-aórtica em 127 pacientes no pós-operatório tardio e observaram 29% de regurgitação valvar aórtica leve e 18% de moderada em um longo período de seguimento. Esses pacientes apresentavam maior escore Z do anel aórtico, embora a taxa de reoperação 197

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