ABC | Volume 112, Nº2, Fevereiro 2019

Artigo de Revisão Fontes-Carvalho et al O ano de 2018 em cardiologia: ABC cardiol e RPC em resumo Arq Bras Cardiol. 2019; 112(2):193-200 (61 ± 11 anos, 63,6% homens), e as taxas de sobrevida de homens versus mulheres em 30 dias, um ano e 15 anos foram: 97,3% (97,0-97,6%) vs. 97,1% (96,6‑97,4%), 93,6% (93,2-94,1%) vs. 93,4% (92,8-94,0%) e 55,7% (54,0-57,4%) vs. 58,1 % (55,8-60,3%), respectivamente. Eles também observaram que a faixa etária mais avançada estava associada com menores taxas de sobrevida em todos os períodos, ICP com colocação de stent tinham taxas de sobrevida maiores do que aquelas sem colocação de stent durante um acompanhamento de dois anos, e mulheres apresentaram taxa de sobrevida maior que os homens em um período de 15 anos após a ICP. Esses achados realizados em uma população do mundo real podem ajudar os médicos a tomar decisões sobre a indicação da ICP, considerando os benefícios e riscos observados com este procedimento. Arritmias A fibrilação atrial (FA) é a arritmia sustentada mais comum e um fator de risco significativo para acidente vascular cerebral, insuficiência cardíaca e mortalidade. 27,28 O estudo SAFIRA, 29 recentemente publicado na RPC, teve como objetivo determinar a prevalência e a epidemiologia da FA numa grande amostra de 7500 idosos portugueses. O estudo incluiu um subconjunto significativo de 400 indivíduos que foram submetidos a monitorização por Holter de 24 horas e outro subconjunto de 200 indivíduos que tiveram um gravador de eventos de 2 semanas para identificar FA paroxística. Vários dados interessantes vieram deste estudo. Primeiro, observaram uma prevalência muito alta (9%) de FA nessa população idosa, que foi maior do que a relatada anteriormente. 30,31 Segundo, mais de um terço (35,9%) dos pacientes com FA não tinham conhecimento da doença e 18,6% tinham FA paroxística, o que reforça a necessidade de uma triagem de FA mais sistemática. 32 Mais importante, neste estudo do “mundo real”, as taxas de anticoagulação foram muito decepcionantes. Embora amédia do escore CHADSVASC tenha sido alta (3,5 ± 1,2), a maioria dos pacientes com FA (56,3%) não recebeu anticoagulação e apenas 25,8% foram considerados adequadamente anticoagulados. Portanto, este estudo destaca os enormes desafios no diagnóstico e tratamento da FA em pacientes idosos e a necessidade urgente de implementar políticas específicas de saúde (envolvendo pacientes, cuidadores, médicos e autoridades de saúde) que possam enfrentar esses importantes problemas. Como mencionado anteriormente, o tratamento da fibrilação atrial é um desafio na prática clínica, especialmente no que diz respeito ao uso de anticoagulantes orais, que são fundamentais para a prevenção do AVC. Considerando os desafios impostos por esse tipo de tratamento, Stephan et al. 33 hipotetizaramque o apoio a tomada de decisão compartilhada, através do uso de aplicativos em telefone celular, poderia melhorar o conhecimento dos pacientes e otimizar o processo de decisão. Os autores desenvolveram um aplicativo (App aFib) para ser usado durante a visita clínica, incluindo um vídeo sobre fibrilação atrial, calculadoras de risco, gráficos explicativos e informações sobre os medicamentos disponíveis para tratamento. Na fase piloto, 30 pacientes interagiram com o aplicativo, que foi avaliado qualitativamente e por um questionário de conhecimento da doença e uma escala de conflito decisional. O número de respostas corretas no questionário sobre a doença foi significativamente maior após a interação com o aplicativo (de 4,7 ± 1,8 para 7,2 ± 1,0, p < 0,001), e a escala de conflito decisional, aferida após a seleção da terapia com suporte do aplicativo, resultou em uma média de 11 ± 16/100 pontos, indicando um baixo conflito decisório. Embora estes tenham sido os achados iniciais, o App aFib melhorou o conhecimento do paciente sobre a doença e, no futuro, estudos mais recentes podem confirmar se esse achado poderia ser traduzido em benefício clínico. Prevenção de doenças cardiovasculares e epidemiologia A presença de fatores de risco cardiovascular na infância aumenta o risco de doença cardiovascular na vida adulta. 34,35 Portanto, vários estudos mostraram a importância de avaliar os fatores de risco e promover estilos de vida saudáveis durante toda a vida, começando em crianças em idade pré-escolar. 36,37 Em um estudo interessante publicado em 2018, Melo Rodrigues et al. 38 analisaram a prevalência e a interrelação de fatores de risco cardiovascular em uma amostra de 1555 crianças portuguesas (6‑9 anos). Primeiro, eles encontraram uma enorme prevalência (29,1%) de sobrepeso e obesidade nessa população, mostrando a magnitude da epidemia de obesidade infantil. 39 A prevalência de pressão arterial normal-alta (4,5%) e hipertensão (3,7%) também foi muito maior que a esperada. Houve forte associação entre os indicadores antropométricos de gordura corporal e a pressão arterial, o que reforça a necessidade de medição da pressão arterial, especialmente em crianças obesas. No entanto, a mensagem mais importante deste estudo é lembrar que nossos comportamentos de estilo de vida como adultos estão ligados às exposições anteriores durante a infância 31 e, portanto, a promoção da saúde cardiovascular deve envolver todas as idades a partir das crianças em idade pré-escolar, devendo incluir a família inteira. 40 Sabe-se também que os comportamentos de estilo de vida associados a um risco aumentado de doença cardiovascular são influenciados pelo conhecimento relacionado com a saúde do indivíduo ( alfabetização em saúde) e por sua percepção do risco de doença. 41 Portanto, a melhora do conhecimento em saúde deve ser vista como uma ferramenta essencial para reduzir a carga global de doenças cardiovasculares e melhorar o controle dos fatores de risco. Em um artigo inovador publicado em 2018 na Rev Port Cardiol, Andrade et al. 42 avaliaram em uma grande amostra de 1624 indivíduos o conhecimento específico sobre doença cardiovascular e sua relação com fatores sociodemográficos, conhecimento em saúde e história clínica. Foi impressionante observar um grande déficit no conhecimento relacionado com a saúde cardiovascular. Apenas um terço da população foi capaz de estimar o risco de infarto do miocárdio ou acidente vascular cerebral. Curiosamente, os participantes identificaram o não-tabagismo e uma dieta saudável como os principais comportamentos para a prevenção de doenças cardiovasculares e atribuíram menor importância ao controle da pressão arterial. Observou-se também que apenas um percentual muito baixo de indivíduos ligaria para o número de emergência nacional diante de sintomas sugestivos de um possível acidente vascular cerebral ou infarto do miocárdio, 196

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