ABC | Volume 112, Nº2, Fevereiro 2019

Artigo de Revisão Fontes-Carvalho et al O ano de 2018 em cardiologia: ABC cardiol e RPC em resumo Arq Bras Cardiol. 2019; 112(2):193-200 Em outro artigo interessante publicado em 2018, Pereira H. et al. 7 avaliaram, em 994 pacientes com suspeita de IAMCST, os determinantes do tempo de retardo do paciente no sistema de saúde português. Embora a maioria dos sistemas de saúde concentre suas medidas de desempenho na avaliação do “tempo porta-balão”, 8 é importante entender e abordar as razões desse “tempo de retardo do paciente”, que significa o tempo entre o início dos sintomas e o primeiro contato com o médico. 9 Os pesquisadores observaram que o tempo de retardo do paciente era muito longo (cerca de 120 minutos) e identificaram cinco preditores de aumento no tempo de retardo do paciente: 1) idade>75 anos; 2) início dos sintomas entre 0:00 e 8:00 da manhã; 3) atendimento em uma unidade de atenção primária antes do primeiro contato médico; 4) não ligar para o número de emergência médica nacional; e 5) autotransporte para o setor de emergência. Portanto, este artigo fornece informações importantes para planejar campanhas mais eficazes direcionadas ao paciente que possam diminuir o tempo de retardo do paciente, e melhorar o tratamento e o prognóstico do IAMCST. 10 As últimas diretrizes de revascularização do miocárdio de 2018 reforçam a importância da avaliação hemodinâmica de lesões coronarianas com estenoses de gravidade intermédia, que pode ser realizada por meio de FFR ou iFR. 11 A iFR é uma nova técnica para avaliar a gravidade da estenose coronariana, que tem a vantagem de não necessitar da administração de um vasodilatador, como a adenosina. Dois estudos randomizados publicados recentemente mostraram resultados clínicos comparáveis entre essas duas técnicas em pacientes com estenose de grau intermediário. 12,13 No entanto, alguns estudos mostraramque pode haver algumas inconsistências entre as duas avaliações. 14 Em um artigo provocativo publicado na Rev Port Cardiol, Menezes et al., 15 relataram sua experiência comparando diretamente a informação sobre FFR e iFR em 150 pacientes. Eles demonstraramque, emgeral, o FFR e o iFR são concordantes, mas emuma proporção significativa de casos (13%) os resultados diferiram entre as duas técnicas. Portanto, este artigo agrega importante contribuição para a discussão em andamento sobre os mecanismos subjacentes responsáveis por essa discordância e suas implicações clínicas. 16-18 Uma questão que permanece em aberto no tratamento de doença arterial coronariana é a maior mortalidade após cirurgia de revascularização do miocárdio (CRM) em pacientes com stent. Farsky et al. 19 avaliaram marcadores inflamatórios (LIGHT, IL-6, ICAM, VCAM, CD40, NFKB, TNF α , IFN γ ) em células do sangue periférico e no tecido da artéria coronária obtidos durante a revascularização do miocárdio em pacientes com stent (n = 41) em comparação com os controles (n = 26). Eles observaram que pacientes com stent apresentaram maior TNF α (p = 0,03) e menor expressão do gene CD40 (p = 0,01) em células do sangue periférico do que controles sem stent . Em amostras de artérias coronárias, a coloração da proteína TNF α foi maior em pacientes com stent , não apenas na camada íntima‑média (5,16 ± 5,05 vs 1,90 ± 2,27; p = 0,02), mas também no tecido adiposo (6,69 ± 3,87 vs 2,27 ± 4,00; p < 0,001), que apresentou maior valor de proteína interleucina-6 (p = 0,04). Eles concluíram que os níveis sistêmicos mais elevados de marcadores inflamatórios em pacientes com stents podem contribuir para um pior desfecho clínico, contribuindo para o nosso melhor entendimento das alterações fisiopatológicas que ocorrem em pacientes com stents coronarianos submetidos à revascularização do miocárdio. Outro desafio no tratamento da doença coronariana é a ocorrência de complicações cardíacas e óbitos no pós‑operatório de cirurgias não cardíacas, principalmente devido ao infarto agudo do miocárdio (IAM). Agentes antiplaquetários são a base da prevenção primária e secundária de eventos cardiovasculares. Borges et al. 20 realizaramumestudo transversal para avaliar os fatores associados ao manejo inadequado de antiagregantes plaquetários no período perioperatório de cirurgias não cardíacas. A amostra foi composta por pacientes adultos submetidos a cirurgias não cardíacas e que utilizariam ácido acetilsalicílico (aspirina) ou clopidogrel (n = 161). O tratamento não cumpriu as recomendações das diretrizes em 80,75% da amostra. Após análise multivariada, observou-se que os pacientes commaior nível de escolaridade (OR = 0,24; IC95% 0,07-0,78) e aqueles com um episódio anterior de IAM (OR = 0,18; IC 95% 0,04-0,95) apresentaram maior probabilidade de uso de terapia em conformidade com as diretrizes. Esses achados enfatizaram a importância do Heart Team no desenvolvimento de instrumentos educativos para reforçar aos pacientes a importância da adesão ao tratamento da doença arterial coronariana. Na ciência médica, é importante continuar questionando dogmas estabelecidos. Durante décadas, o uso de betabloqueadores foi considerado uma pedra angular da terapia medicamentosa após IAM, com indicação de classe I ou classe IIa para os pacientes após IAMCST e IAMSST, respectivamente. 21,22 Entretanto, na era da terapia de reperfusão, vários estudos têm questionado essa indicação, principalmente em pacientes sem disfunção ventricular esquerda, 23,24 Na edição de novembro da Rev Port Cardiol, Timoteo et al. 25 publicaram um novo artigo sobre esse tópico que “adiciona mais combustível ao fogo” e à discussão em andamento. Usando os registros de um único centro, eles realizaram uma análise utilizando escore de propensão para avaliar o desfecho em um ano de uma amostra de 1520 pacientes pós-SCA tratados com betabloqueadores. Observaram que o uso de betabloqueador foi um preditor independente de mortalidade total, incluindo os pacientes com fração de ejeção normal ou levemente reduzida. Contudo, a análise efetuada apresenta algumas limitações. Apesar de terem usado o escore de propensão,devemos ter cautela na interpretação destes dados devido ao fenômeno de confusão residual. Alémdisso, a adesão ao tratamento e, mais importante, as razões para não prescrever um betabloqueador não foram avaliadas neste estudo. Portanto, este estudo é importante porque reforça a necessidade urgente de realizar um ensaio clínico pragmático para reavaliar a eficácia e a segurança dos betabloqueadores na era moderna da terapia de reperfusão. Além disso, na ciência médica, é importante continuar questionando a eficácia da abordagem terapêutica dos nossos pacientes. De Souza e Silva et al. 26 estudaram a sobrevida de pacientes adultos com cardiopatia isquêmica tratados com intervenção coronária percutânea (ICP), no estado do Rio de Janeiro (RJ), de 1999 a 2014, pagos pelo sistema público de saúde (SUS). Eles mostraram dados de 19.263 pacientes 195

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