ABC | Volume 112, Nº2, Fevereiro 2019

Minieditorial Avaliando a Adesão à Restrição de Sódio na Insuficiência Cardíaca Evaluating Sodium Restriction in Heart Failure Pedro Pimenta de Mello Spineti 1,2 Hospital Universitário Pedro Ernesto, 1 Rio de Janeiro, RJ – Brasil Hospital Unimed-Rio, 2 Rio de Janeiro, RJ – Brasil Minieditorial referente ao artigo: Ponto de Corte para Adesão Satisfatória do Questionário de Restrição de Sódio na Dieta em Pacientes com Insuficiência Cardíaca Correspondência: Pedro Pimenta de Mello Spineti • Hospital Universitário Pedro Ernesto Boulevard 28 de Setembro, 77. CEP 20551-030, Vila Isabel, Rio de Janeiro, RJ – Brasil E-mail: pedrospineti@yahoo.com.br , pedrospineti@cardiol.br Palavras-chave Insuficiência Cardíaca/complicações, Dieta Hipossódica/ métodos, Dietoterapia, Cooperação e Adesão ao Tratamento, Cooperação do Paciente, Inqueritos e Questionários. DOI: 10.5935/abc.20190017 Embora a retenção de sal e água desempenhe papel fundamental na fisiopatologia da insuficiência cardíaca (IC) a restrição dietética de sódio ainda é um tema controverso no tratamento destes pacientes. 1 Estudos clínicos de pequeno porte têm sugerido que a restrição excessiva de sódio (< 5 g de sal por dia), em comparação com dieta com teor normal de sódio (~ 7 g de sal por dia), pode associar-se a efeitos deletérios nos pacientes com IC crônica, incluindo exacerbação da ativação neuro-hormonal, maior número de hospitalização e maior mortalidade. 2,3 Meta-análise 4 recente de nove estudos envolvendo 479 pacientes com IC submetidos à restrição de sódio foi inconclusiva para recomendação dessa intervenção em pacientes internados. Nenhum trabalho incluiu desfechos duros como morte por todas as causas ou morte cardiovascular. Já para pacientes ambulatoriais, foi observada uma tendência modesta de melhora de classe funcional nos pacientes submetidos à restrição de sódio. O autor reforça a necessidade de estudos prospectivos randomizados com amplo número de pacientes, testando diferentes regimes de ingesta de sódio, avaliando desfechos relevantes para embasar recomendações detalhadas. A restrição do consumo de sódio – < 3 g/dia ou < 7 g/dia de cloreto de sódio (sal de cozinha) – faz parte das medidas não farmacológicas para o tratamento da insuficiência cardíaca (IC) recomendadas pela Diretriz Brasileira de Insuficiência Cardíaca 1 e pela diretriz da American Heart Association 5 (AHA). A AHA recomenda ainda que seja avaliado o grau de consciência e de restrição hidrossalina na anamnese dos pacientes com IC e que todos sejam educados a restringir seu consumo de sódio. No entanto, a adesão a essa recomendação permanece um desafio. Em 2009, Bentley et al., 6 propuseram a adoção de um instrumento denominado Dietary Sodium Restriction Questionnaire (DSRQ) com o objetivo de medir as atitudes, crenças e barreiras dos pacientes com IC sintomática (NYHA II/III) em seguir uma dieta hipossódica. O questionário segue as premissas da Teoria do Comportamento Planejado e avalia a adesão por meio de três subescalas: atitude, norma subjetiva e controle comportamental percebido. D’Almeida et al., 7 adaptaram o DSRQ para o Brasil em 2012 e demonstraram sua validade e confiabilidade em 2013. 8 A versão brasileira do DSRQ é composta por 27 itens, 11 questões descritivas e 16 questões divididas em três subescalas: atitude e norma subjetiva, controle comportamental percebido e comportamento dependente. Nesta edição da revista Arquivos Brasileiros de Cardiologia, 9 os mesmos autores propuseram a criação de um ponto de corte para avaliar a adesão à dieta hipossódica em pacientes brasileiros com IC. Trata-se de um estudo de caso controle que comparou os escores em cada subescala de 206 pacientes ambulatoriais compensados e 255 pacientes descompensados. O tempo médio para aplicação do instrumento foi de 40 minutos. A escala atitude e norma subjetiva foi a que apresentou a melhor área sob a curva ROC (0,725). O ponto de corte para esta subescala foi definido em 40 pontos de um total de 45, com uma sensibilidade de 53,8% e especificidade de 83,5%. Estudos prévios já haviam demostrado que a subescala norma subjetiva está associada à maior excreção urinária de sódio 10 e que a subescala atitude foi a única associada à adesão em longo prazo (6 meses), 11 o que reforça a validade dos resultados encontrados. O ponto de corte sugerido para aferir a adesão à restrição de sódio na dieta poderá ser útil em novos estudos longitudinais que procurem elucidar o real papel da restrição de sódio no tratamento dos pacientes com IC. 171

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