ABC | Volume 112, Nº2, Fevereiro 2019

Minieditorial A Importância da Identificação de Fatores de Risco na Infância e Adolescência The Importance of Identifying Risk Factors in Childhood and Adolescence Ana Paula Marte Chacra Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, São Paulo, SP – Brasil Minieditorial referente ao artigo: Dislipidemia em Adolescentes Atendidos em um Hospital Universitário no Rio de Janeiro/Brasil: Prevalência e Associação Correspondência: Ana Paula Marte Chacra • Rua Oscar de Almeida, 240, Morumbi, São Paulo, SP – Brasil E-mail: anapmchacra@cardiol.br , anapmchacra@uol.com.br Palavras-chave Dislipidemias; Obesidade; Sobrepeso; Adolescente; Colesterol LDL-C; Triglicérides; Fatores de Risco; Aterosclerose. DOI: 10.5935/abc.20190016 O estudo “Dislipidemia em Adolescentes Atendidos em umHospital Universitário no Rio de Janeiro/Brasil: Prevalência e Associação” demonstrou alta prevalência de obesidade (53%) seguida de sobrepeso (25,2%) em adolescentes. O grupo obeso apresentou predominância de HDL-c baixo e associação positiva entre índice de massa corporal (IMC), circunferência abdominal e valores de triglicérides. 1 Esses dados são fundamentais e alertam para a importância da avaliação precoce dos fatores de risco. A obesidade está associada a níveis de triglicérides elevados e HDL-C baixo, especialmente nos jovens, 2 onde a exposição precoce a esse perfil metabólico desfavorável, contribuirá para um maior risco cardiovascular. 3 Evidências demonstram que a aterosclerose começa na infância e está correlacionada à presença precoce de fatores de risco para doença cariovascular. A progressão do processo aterosclerótico depende do tempo de exposição, além da interação entre fatores de risco convencionais, genéticos e ambientais. 4,5 Apesar do início prematuro da aterogênese, crianças e adolescentes não desenvolvem manifestações clínicas da doença arterial coronária, uma vez que os desfechos cardiovasculares dependem da exposição prolongada aos fatores de risco. Mesmo assim, alguns estudos longitudinais associaram os fatores de risco na infância à doença cardiovascular em adultos. Twig et al., 6 demonstraram associação entre IMC durante a adolescência, com aumento da mortalidade cardiovascular na idade adulta, ao longo de 40 anos de seguimento. 6 O aumento do IMC e dos níveis de triglicérides foram preditores de eventos cardiovasculares nos adultos jovens, não sendo observada associação com níveis de LDL-c. 7 As medidas da espessura médio -intimal de carótidas (EMI) são consideradas marcadores substitutos de desfechos cardiovasculares e utilizadas para detecção de aterosclerose precoce. 8 Estudos prévios demonstraram que o agrupamento de fatores de risco, na infância, são preditivos do aumento da EMI de carótidas, em adultos. 9 No estudo “International Childhood Cardiovascular Cohort (i3C)”, Koskinen et al., 10 demonstraram que obesidade, hipertensão e dislipidemia foram preditores do aumento da EMI de carótida em adultos. 10 Observaram que a obesidade em crianças foi o fator de risco mais prevalente associado ao maior EMI de carótida em adultos, aumentando o risco em 3,7 vezes. 10 Utilizando modelos de predição de risco, ao adicionar-se o perfil lipídico à obesidade e à hipertensão, houve melhora modesta na discriminação de risco para aumento da EMI da carótida na idade adulta (a área sob a curva aumentou de 0,698–0,717). Esse resultado pode ser consequente a uma fraca relação entre os níveis de LDL-c e obesidade, uma vez que a obesidade interfere minimamente com os níveis de LDL-c, 10 exceto quando alterações metabólicas relacionadas à obesidade mascaram uma dislipidemia genética subjacente. No presente estudo transversal, 1 a obesidade parece ser a propulsora das alterações lipídicas, como a prevalência de HDL-c baixo e a associação da adiposidade abdominal com os níveis de triglicérides, sem alterações nos valores de LDL-c. 1 A despeito desses achados, o LDL-c elevado é um fator de risco bem estabelecido para a aterosclerose, como observado na hipercolesterolemia familiar, e a detecção precoce permite o início da terapia farmacológica mesmo nas crianças. 11 O presente estudo reforça que a obesidade atual é uma epidemia crescente. 1 A triagemuniversal permitiria o diagnóstico e a intervenção precoces em crianças com dislipidemia secundária a fatores genéticos ou de estilo de vida. 12 152

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