ABC | Volume 112, Nº2, Fevereiro 2019

Artigo Original Vizentin et al Prevalência de dislipidemia em adolescentes Arq Bras Cardiol. 2019; 112(2):147-151 Tabela 1 – Média e desvio padrão das características antropométricas e do perfil lipídico da amostra total e estratificado por gênero Variável Sexo Valor de p Total (n = 239) Feminino (n = 135) Masculino (n = 104) Média DP Média DP Média DP Peso (kg) 76,2 ± 22,4 74,8 ± 22,2 77,9 ± 22,7 0,14 Altura (cm) 162,8 ± 0,1 159,0 ± 0,1 167,6 ± 0,1 < 0,01* IMC (kg/m 2 ) 28,5 ± 7,4 29,4 ± 7,8 27,5 ± 6,8 0,02* CC (cm) 89,9 ± 15,1 92,3 ± 15,9 88,1 ± 14,4 0,06 CT (mg/dl) 160,3 ± 34,1 163,3 ± 34,9 156,5 ± 32,9 0,06 LDL-c (mg/dl) 93,9 ± 29,2 95,5 ± 29,3 92,0 ± 29,0 0,18 HDL-c (mg/dl) 47,6 ± 14,0 49,4 ± 15,4 45.2 ± 11,6 0,01* TG (mg/dl) 99,4 ± 53,7 99,1 ± 53,8 99,9 ± 53,8 0,46 Teste estatístico: t student não pareado; *Diferença estatisticamente significativa (p < 0,05); DP: desvio padrão; IMC: índice de massa corporal; CC: circunferência da cintura; CT: colesterol total; LDL-c: low density lipoprotein (Lipoproteína de baixa densidade); HDL-c: high density lipoprotein (Lipoproteína de alta densidade); TG: triglicerídeos. A Tabela 2 descreve as características antropométricas e o perfil lipídico da população de acordo com o estado nutricional. A classificação do estado nutricional revelou que 53,1% dos adolescentes apresentavam obesidade, 25,1% sobrepeso e 21,8% eutrofia. Os adolescentes eutróficos apresentaram valores médios de HDL-c significativamente maiores do que os obesos. Em relação ao triglicerídeo os adolescentes obesos apresentaram valores significativamente maiores do que os eutróficos. As alterações com maior prevalência encontradas foram HDL-c baixo (50,6%), hipercolesterolemia (35,1%) e hipertrigliceridemia (18,4%). Em relação à prevalência de alterações no perfil lipídico, de acordo com o gênero foi observado que as meninas apresentaram maior prevalência de alteração, mas, sem diferença estatisticamente significativa. As prevalências de alteração no perfil lipídico de meninas e meninos foram respectivamente 64,3% e 35,7% (p = 0,07) para CT elevado, 73,1% e 26,9% (p = 0,07) no LDL-c, 50,4% e 49,6% (p = 0,05) no HDL e 59,1% e 40,6% (p = 0,07) no TG. A tabela 3 apresenta a prevalência de alterações no perfil lipídico de acordo com o estado nutricional pelo IMC. A prevalência de HDL-c baixo foi significativamente maior (p = 0,01) nos pacientes obesos. Nesse estudo foi observada uma correlação negativa entre IMC e o HDL-c (r = -0,23; p < 0,01) e uma correlação positiva do IMC (r = 0,25; p < 0,01) e da CC (r = 0,20; p = 0,03) com o TG. Na análise de regressão linear bivariada e multivariada a associação negativa do IMC com o HDL-c foi mantida assim como a associação positiva do IMC e da CC com o TG mesmo após ajuste para sexo e cor da pele (Tabela 4). Discussão Esse estudo apresentou valores médios maiores do perfil lipídico que outros da literatura. 19-21 O HDL-c, lipoproteína que atua como fator protetor contra doenças cardiovasculares, foi o componente com a maior prevalência de alteração encontrada entre os adolescentes, assim como no estudo de Ribas e da Silva, 2009. 22 Outro estudo de base populacional, com mais de 30 mil participantes, também encontrou resultados semelhantes. 19 Este fato é extremamente preocupante, pois a dislipidemia sozinha e principalmente acompanhada de outros fatores, sejam eles ambientais ou genéticos, pode condicionar o desenvolvimento de aterosclerose e consequentemente, aumentar o risco de ocorrência de eventos cardiovasculares. É fundamental sempre considerar a prevenção e o tratamento de dislipidemias desde a infância e adolescência com o intuito de diminuir os riscos de doenças cardiovasculares. 11,13 O perfil lipídico pode sofrer variações durante a adolescência e o sexo feminino geralmente apresenta níveis mais elevados, fato este que pode ser justificado pela menarca. 23 Apesar de não ter sido observada nesse estudo diferença significativa entre as médias do perfil lipídico entre os sexos, foi possível notar que as meninas apresentaram valores mais elevados para todos os parâmetros e isso é comumente observado na literatura. 19,22,24 No estudo de Garcez MR et al., 20 foi observado que os adolescentes com excesso de peso apresentaram valores médios maiores para CT, LDL-c e TG, além de HDL-c baixo assim como neste trabalho. 20 Da mesma forma, Oliveira et al., 24 encontraram tais resultados quando avaliaram o perfil lipídico de acordo com o estado nutricional. 24 As principais alterações que costumam estar associadas à obesidade nessa faixa etária e que vêm sendo observadas como padrão são as alterações do HDL-c e TG. 25,26 Este estudo demonstrou uma associação entre o HDL-c e o TG com CC e com o IMC, mostrando a relação com adiposidade. Esta mesma associação foi vista em outros estudos, como por Pavão et al., 21 quando avaliaram adolescentes em um município do Paraná e observaram uma predisposição a dislipidemia quando a obesidade abdominal, vista através da CC, estava presente. Outro estudo em Recife demonstrou que adolescentes com excesso de peso ou com obesidade abdominal apresentaram valores mais elevados de TG e mais baixos de HDL-c. 25 Este estudo teve como limitação uma amostra de conveniência o que não permite a generalização dos resultados. 149

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