ABC | Volume 112, Nº2, Fevereiro 2019

Artigo Original Fernandes et al Conversão para cavo-pulmonar total Arq Bras Cardiol. 2019; 112(2):130-135 do estudo (entre os anos de 1984-1994). Todas as Fontan atriopulmonares foram realizadas no primeiro e segundo períodos (entre os anos de 1984 a 2004), 23,9% delas foram eleitas para conversão anos depois, e todos esses procedimentos de Fontan foram realizados no primeiro período. Achado semelhante foi observado em nosso estudo, onde a mortalidade ocorreu no início da experiência nos anos de 1996 e 2000, nossos dois primeiros casos de conversão. É possível que esses dois casos tenham evoluído para um desfecho desfavorável devido à indisponibilidade de recursos tecnológicos apresentados na época. Arritmias atriais foram as principais indicações de conversão, pois as modificações realizadas por Kreutzer resultaram em grandes dilatações atriais gerando muitos distúrbios do ritmo atrial, o que complicou a disfunção ventricular e piorou a sintomatologia. Obtivemos uma taxa insatisfatória de resolução dessas arritmias (apenas 57% dos casos indicados). Nos casos em que foi realizada crioablação cirúrgica (três casos), os desfechos não foram favoráveis: um caso evoluiu para óbito no pós-operatório (por sangramento e coagulopatia), uma arritmia não foi resolvida e um caso evoluiu com bloqueio atrioventricular total, necessitando de implante definitivo de marcapasso. Esse paciente evoluiu com disfunções e atualmente está em linha de transplante cardíaco devido à piora significativa da classe funcional e da função ventricular. Embora a maioria dos estudos sugira um benefício na crioablação, 24,26-31 nossos achados sugerem que a crioablação cirúrgica não deve ser realizada rotineiramente em conversão à cirurgia de CCPT, apesar do pequeno tamanho da amostra. Estudos da Coreia do Sul e do Japão 32,33 relataram segurança e melhoria nos resultados clínicos implantando marcapasso permanente na conversão de Fontan. No entanto, nosso único caso com implante de marcapasso teve resultado desfavorável, e agora está na linha de transplante cardíaco. Takeuchi et al., 34 mostraram desfechos favoráveis combinando conversão de Fontan com ressincronização, mas nenhum de nossos pacientes foi eleito para ressincronização. A presença de disfunção ventricular antes do procedimento de conversão de Fontan foi encontrada em cinco casos. Todos os casos foram eleitos para conversão por arritmia, um deles morreu e todos os sobreviventes melhoraram as funções ventriculares. Portanto, concluímos que o procedimento apresentou um resultado satisfatório na melhora da função ventricular. No entanto, não observamos melhora da arritmia em dois casos de sobreviventes que apresentaram disfunção pré-operatória. Houve melhora significativa da classe funcional e da qualidade de vida desses pacientes após a conversão e, portanto, nossos resultados demonstram a importância e a necessidade de conversão de casos selecionados. Esses achados nos motivaram a realizar essa cirurgia após nossos dois primeiros casos que evoluíram para óbito. Atualmente, temos apenas alguns casos de FK vivos sendo acompanhados em nosso ambulatório. Uma revisão de Brida et al., 35 analisou 1.182 pacientes de 37 estudos e concluiu que a conversão apresentava risco substancial de mortalidade. No entanto, os resultados variam entre os centros. A mortalidade precoce foi associada em pacientes mais jovens e com tratamento sendo realizado em centros de alta experiência. Conclusão A conversão da anastomose átrio-pulmonar (Fontan- Kreutezer) em CCPT é um procedimento complexo, com alta mortalidade e morbidade, justificando um tempo prolongado de internação, portanto, essa cirurgia precisa ser realizada em hospitais terciários experientes. A conversão da anastomose átrio-pulmonar em CCPT, em nossa experiência, melhorou a classe funcional e, consequentemente, a qualidade de vida dos pacientes, apesar de uma resolução insatisfatória da arritmia. Contribuição dos autores Concepção e desenho da pesquisa: Fernandes GC, Silva GVR, Caneo LF; obtenção de dados: Fernandes GC, Silva GVR, Caneo LF, Tanamati C, Turquetto AL; análise e interpretação dos dados e revisão crítica do manuscrito quanto ao conteúdo intelectual importante: Fernandes GC, Silva GVR, Caneo LF, Tanamati C, Turquetto AL, Jatene MB; análise estatística: Fernandes GC, Caneo LF, Turquetto AL; redação do manuscrito: Fernandes GC, Silva GVR, Caneo LF, Turquetto AL, Jatene MB. Tabela 2 – Melhorias clínicas após a conversão para CCPT Variáveis Antes da conversão (n = 10) Depois da conversão (n = 8) Disfunção média 2 (20%) 1 (12,5%) Disfunção Moderada 3 (30%) 0 (0%) Arritmias 9 (90%) 4 (44%) NYHA Classe funcional I 3 (30%) 6 (75%) NYHA Classe funcional II 4 (40%) 1 (12,5%) NYHA Classe funcional III 3 (30%) 1 (12,5%) CCPT: conexão cavopulmonar total; NYHA: New York Heart Association. 133

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