ABC | Volume 112, Nº2, Fevereiro 2019

Artigo Original Dippe Jr. et al Estudo de perfusão miocárdica em obesos sem DCI conhecida Arq Bras Cardiol. 2019; 112(2):121-128 Tabela 1 – Características demográficas dos pacientes com índice de massa corporal (IMC) ≥ 30 kg/m 2 e sem doença cardíaca isquêmica conhecida Características Média (desvio padrão) ou número (porcentagem) Idade (anos) 59,4 (12,2) IMC em kg/m 33,9 (3,7) Sexo masculino 2605 (47,1%) DM 1727 (31,5%) HAS 4106 (74,3%) História familiar de DCI 1081 (19,5%) Tabagismo 466 (8,4%) Dislipidemia 2996 (54,2%) Sintomas antes do exame Assintomático 2996 (55,0%) Angina atípica 1210 (22,3%) Angina típica 362 (6,6%) Cansaço 878 (16,1%) Protocolo de estresse Físico 3576 (64,7%) Farmacológico 1950 (35,3%) Esforço físico em METs 8,52 (2,37) FEVE em % 59,2 (17,6) FEVE maior que 50% 4821 (92,9%) FEVE de 30 até 49% 330 (6,4%) FEVE menor que 30% 38 (0,7%) CPM-SPECT anormal 1288 (23,3%) Isquemia isolada 1228 (22,2%) Isquemia maior que 10% do VE 74 (1,3%) Fibrose isolada 22 (0,4%) Fibrose e isquemia associada 38 (0,7%) IMC: índice de massa corporal; DM: diabetes mellitus; HAS: hipertensão arterial sistêmica; DCI: doença cardíaca isquêmica; METs: equivalentes metabólicos; FEVE: fração de ejeção do ventrículo esquerdo pós-esforço; CPM-SPECT: cintilografia de perfusão miocárdica- single photon emission tomography; VE: ventrículo esquerdo. Fatores associados à anormalidade de perfusão miocárdica Após análise univariada, observamos que os fatores associados à anormalidade de perfusão miocárdica foram a idade (OR: 1,04, IC 95%: 1,04-1,05, p <0,001), sexo feminino (OR: 1,18, IC 95%: 1,18-1,21, p < 0,001), DM (OR: 1,96, IC 95%: 1,72-2,23, p < 0,001), HAS (OR: 1,79, IC 95%: 1,53-2,10, p < 0,001), dislipidemia (OR: 1,19, IC 95%: 1,04-1,34, p < 0,008), presença de angina típica (OR: 1,96, IC 95%: 1,55-2,48, p < 0,001) ou cansaço (OR: 1,29, IC 95%: 1,08-1,54, p = 0,004) antes do exame, menor duração média do esforço físico em minutos durante o TE (OR: 0,81, IC 95%: 0,78-0,84, p < 0,001) e menor FEVE média (OR: 0,996, IC 95%: 0,993-0,999, p < 0,041). Após análise multivariada (Tabela 4), idade, presença de angina típica antes do exame, necessidade de utilização de protocolo com estresse farmacológico, menor esforço físico avaliado emMETs, e menor FEVE após estresse associaram-se à anormalidade de perfusão miocárdica. Discussão Nosso estudo revela uma forte associação entre obesidade e outros fatores de risco cardiovascular. Sabemos que obesidade leva à resistência insulínica, HAS, dislipidemia, aumento de marcadores inflamatórios, tromboembolismo e apneia do sono, conhecidos fatores de risco para DAC. 4 A obesidade é um importante fator na patogênese e progressão da DAC, havendo uma relação quase linear entre IMC e risco de DAC a partir de um valor acima de 25 kg/m 2 . 7 Xingping et al., 12 avaliaram a relação entre o IMC e o valor prognóstico da CPM-SPECT em 2096 obesos sem DAC conhecida (idade média de 62 ± 12 anos). Os autores observaram uma elevada prevalência de DM, dislipidemias e HAS: 22%, 47% e 61%, respectivamente. 12 Mais recentemente, os investigadores do The Southern Community Cohort Study examinaram a relação entre o IMC e mortalidade tardia em adultos jovens. A população de obesos ao final do período de acompanhamento foi de 6276 indivíduos (idade média de 50 ± 7,8 anos). Nesse grupo, os autores também observaram uma elevada prevalência de fatores de risco associados: DM em 35,9%, dislipidemias em 38,8%, e HAS em 66,4%. 13,14 A Organização Mundial de Saúde (OMS) acredita que o sobrepeso e a obesidade sejam responsáveis por 44% do risco de desenvolvimento de DM. 1 A International Diabetes Federation (IDF) estima uma prevalência de DM no Brasil entre 10 a 12% da população adulta, totalizando mais de 14,5 milhões de diabéticos em nosso país. Além disso, a IDF projeta um aumento de 60% nos novos casos de DM na América Latina nos próximos 15 anos. 15 O estudo DIAD ( Detection of Ischemia in Asymptomatic Diabetics ) avaliou se a detecção de isquemia miocárdica silenciosa poderia reduzir eventos cardiovasculares em pacientes com diabetes assintomáticos. Um total de 1123 pacientes foram randomizados para serem submetidos, ou não, à CPM-SPECT. Após seguimento médio de 4,8 anos, os autores não observaram diferenças significativas em relação à taxa de eventos entre os dois grupos. 16 A presença de DM implica em significativo aumento do risco cardiovascular, bem como maior utilização de métodos diagnósticos, incluindo o uso racional da medicina nuclear. 17-19 Um percentual significativo de nossos pacientes (55%) era assintomático antes do exame, sendo que esse percentual foi maior entre os homens. A elevada proporção de obesos assintomáticos em nossa amostra pode ser justificada por vários motivos: estratificação de eventos futuros em pacientes considerados de alto risco cardiovascular, exames cardiológicos prévios alterados ou inconclusivos, pacientes encaminhados para avaliação pré‑operatória, ou ainda, a presença de certas anormalidades eletrocardiográficas que limitam a realização do TE (bloqueio do ramo esquerdo, ritmo de marcapasso artificial ou pré‑excitação ventricular). 20,21 123

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