ABC | Volume 112, Nº2, Fevereiro 2019

Editorial Sedentarismo no Brasil e na Suécia – Diferentes Países, Problema Semelhante Physical Inactivity in Brazil and Sweden - Different Countries, Similar Problem Ricardo Stein 1 e Mats Börjesson 2 Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), 1 Porto Alegre, RS – Brasil Departament of Neuroscience and Physiology, Center for Health and Performance, Göteborg University & Sahlgrenska University Hospital/ Ostra, 2 Gotenburgo – Suécia Correspondência: Ricardo Stein • João Caetano, 20/402. CEP 90470-260, Petrópolis, Porto Alegre, RS – Brasil E-mail: rstein@cardiol.br , kuqui.r@gmail.com Palavras-chave Estilo de Vida; Aptidão Física; Exercício. DOI: 10.5935/abc.20190010 O sedentarismo é um dos principais fatores de risco para doenças não transmissíveis, tais como doenças cardiovasculares, depressão, câncer de mama e de cólon, e diabetes tipo 2. É a quarta principal causa de mortes no mundo. 1 Indivíduos pouco ativos apresentam um risco de 20% a 30% maior de morte em comparação a indivíduos fisicamente ativos. Foram desenvolvidas recomendações internacionais quanto à prática de atividade física (AF), incluindo um mínimo de 150 minutos de exercício aeróbico de intensidade moderada, preferencialmente dividida em 5 dias por semana por no mínimo 30 minutos. 2,3 Apesar de a maioria dos pesquisadores concordarem que o sedentarismo esteja aumentando em todo o mundo, o cumprimento ou não das recomendações sobre a prática da AF é variável entre estudos e entre países. 4 A principal razão para esse fato é que em estudos mais antigos, o nível de AF era relatado pelo próprio indivíduo, o que levava à sua superestimação. Contudo, quando a medida de AF é validada por métodos mais objetivos, tais como a acelerometria, 5 o número de indivíduos sedentários aumenta. Vale ressaltar, no entanto, que as recomendações atuais são elaboradas combase no nível de AF relatado pelo indivíduo. Por exemplo, em um estudo, um em cada quatro indivíduos adultos não era fisicamente ativo o suficiente, e mais de 80% dos adolescentes em todo o mundo foi considerado insuficientemente ativo. Um dado interessante foi que adolescentes do sexo feminino erammenos ativas que os do sexo masculino, sendo que 84% vs. 78% não atingiram as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS). 3 De acordo com o Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos ( US Department of Health and Human Services ), somente cerca de um terço dos adultos e um quinto dos adolescentes seguem as novas diretrizes de AF para a população americana, divulgada durante a conferência da American Heart Association de 2018. 6 A Suécia e o Brasil apresentam o mesmo problema? Níveis baixos ou decrescentes de AF normalmente correspondem a um produto interno bruto elevado ou em crescimento. Nos países ricos, 26% dos homens e 35% das mulheres eram insuficientemente ativos, em comparação a 12% dos homens e 24% das mulheres em países de baixa renda. 4 Essa diferença deve-se, em parte, à falta de AF nos horários de lazer e comportamentos sedentários em casa e no trabalho. O uso aumentado de carros, ônibus e trens contribui para o sedentarismo e, ainda, o medo da violência, a poluição, o tráfego intenso, e a falta de estacionamentos, calçadas e infraestrutura para esportes e recreação desmotivam as pessoas a serem mais ativas fisicamente. Existe uma divisão socioeconômica em relação aos níveis de AF na Europa; o Eurobarômetro (https://ec.europa. eu/sport/news/2018/new-eurobarometer-sport-and- physicalactivity_en), uma série de pesquisas que se baseiam em níveis de AF e de prática de esportes relatados, mostra que 91% dos suecos de todas as idades, e apenas 22% dos búlgaros reportam fazer exercício físico. Populações de países industrializados do norte e oeste da Europa tendem a praticar mais exercícios e atividades esportivas em comparação a de países do sudeste europeu. Tal fato, de certa forma, ilustra a conhecida diferença socioeconômica, em que um maior nível educacional está associado com mais tempo sentado, mas também com maior assiduidade em academias e melhor condicionamento físico, típico do norte europeu, em contraste com outros países daquele continente. No Brasil, desde 2002, a taxa de sedentarismo aumentou mais de 15%, e dados de 2016 indicam que mais de 47% dos brasileiros são sedentários. 7 Um dado interessante é que, na Suécia, a relação entre o status socioeconômico e o nível de AF pode ser observada nas principais cidades. Populações vivendo em áreas mais pobres apresentam mais tempo sentadas, menor nível de AF e menor condicionamento físico. 8 Assim, algumas populações mais vulneráveis, muitas vezes fora da força de trabalho, terão os piores padrões de AF e estarão em grande risco de não serem saudáveis no futuro. Populações de países industrializados já passammuito tempo sentadas e são propensas a serem sedentárias no futuro. 3 No entanto, espera-se que o tempo de sedentarismo aumente consideravelmente em países em desenvolvimento, tais como a Índia, a qual permaneceu fisicamente ativa até hoje, mas que já mostrou uma tendência de apresentar aumento no tempo sentado. 4 O que podemos fazer? Apesar de o Brasil e a Suécia apresentarem estatísticas muito diferentes, esses países têm um problema similar. 8 É necessário desenvolver e implementar métodos para 119

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