ABC | Volume 112, Nº1, Janeiro 2019

Artigo Original Santos et al Validação para o português do CADE-Q II Arq Bras Cardiol. 2019; 112(1):78-84 As medianas e intervalos interquartis dos itens e áreas estão descritos na Tabela 2. A mediana da pontuação total foi de 53 (14) pontos, correspondendo a 65,4% do escore total possível. Os itens commelhores escores foram: “ Qual é a melhor fonte de ômega 3 nos alimentos? ”, “ O que você pode fazer para se exercitar com segurança ao ar livre no tempo quente e seco ” e “ Quais dos seguintes itens descreve sua melhor opção para reduzir seu risco de depressão ”. Os itens com os piores escores foram: “ O primeiro passo para controlar um fator de risco (como pressão sanguínea ou colesterol) é ”, “ Quantas porções de frutas e legumes os adultos devem consumir? ” e “ Os medicamentos à base de estatina possuem efeito benéfico no corpo ao ”. A área com maior escore foi “exercício” e com menor foi “condição psicossocial”. Discussão Este estudo objetivou validar e adaptar o CADE-Q II para o Português do Brasil. O processo seguiu normas precisas, uma vez que a adaptação de um instrumento a ser usado por uma população diferente daquela onde o instrumento foi originalmente construído exige um esforço maior do que simplesmente tradução e análises idiomática e semântica. 18 As propriedades psicométricas - validade de conteúdo, confiabilidade teste e reteste, consistência interna e validade de construto - foram todas estabelecidas, demonstrando-se a validade deste instrumento para o Brasil. Os resultados deste estudo foram consistentes com aqueles apresentados na validação original, 17 particularmente em relação à consistência interna (alfa de Cronbach = 0,91 vs. 0,78), demonstrando que há uma correlação adequada entre os itens do questionário, tanto na versão original quanto na versão para o português. 17 No entanto, o CADE-Q II foi validado em um estudo multicêntrico e isso pode ter afetado o valor do alfa (não tão alto quanto o da versão original). Uma outra diferença entre as versões inglês e português foi na maneira de aplicar o instrumento: neste estudo os questionários foram aplicados por meio de entrevista e na versão em inglês o instrumento foi autoaplicável. No que diz respeito à validade de critério, houve associação positiva entre o nível de conhecimento sobre a doença e os níveis de escolaridade e renda familiar, indicando que fatores socioeconômicos podem ser determinantes do conhecimento em saúde, conforme já demonstrado em outros estudos. 14,17,20 Outro dado que reforça esses resultados é que, no presente estudo, a participação em programa privado de RC apresentou associação positiva com o conhecimento sobre a doença, reforçando a influência das disparidades socioeconômicas na educação em saúde. 21 Estes resultados deixam clara a necessidade de desenvolver estratégias que visem eliminar as barreiras entre ao conhecimento em saúde e pacientes de diferentes classes sociais. Neste sentido, estas propostas precisam ser pautadas em modelos simples, com um grande poder de alcance populacional visto que, os pacientes menos instruídos são os que provavelmente mais apresentam necessidades de intervenções educacionais. 22 Além disso, observou-se que pacientes com mais comorbidades, fatores de risco, procedimentos e eventos agudos não apresentaram conhecimento superior sobre a doença em relação aos pacientes sem estas condições. Estes resultados se contrapõem aos encontrados na validação original do instrumento, onde os pacientes com mais fatores de risco associados apresentaram maior conhecimento sobre a doença. 17 Estes achados podem estar relacionados as diferenças na abordagem da equipe da saúde em relação à educação em saúde para o paciente e também com a capacidade de compreensão dos coronarianos sobre as informações repassadas nos diferentes contextos. 23 É necessário cautela na interpretação destes achados. Emprimeiro lugar, os resultados não são generalizáveis, uma vez que a amostra foi selecionada por conveniência, e recrutada de apenas quatro programas de RC, o que reduz o alcance dos desfechos. Em segundo lugar, o instrumento traduzido e validado para o português do Brasil, em essência, é baseado no currículo educacional dos programas de RC do Canadá, que dispõem mais rigorosidade no processo educacional que os programas de RC brasileiros pesquisados. Em terceiro lugar, ainda que todos os avaliados sejam provenientes de programas de RC, trata-se de serviços diferentes (público versus privado) e em regiões diferentes do país. Logo, tanto o tipo de abordagem utilizada em cada programa quanto a abordagem realizada pelos diferentes avaliadores podem ter influenciado os resultados. Em quarto lugar, a análise de confiabilidade foi realizada com 49 pacientes de apenas dois dos quatro programas selecionados; a literatura aponta que, nesta etapa, sejam avaliados no mínimo 50 sujeitos, 19 o que pode ter ocasionado uma tendência de respostas dos programas avaliados nessa etapa. Ainda em relação à confiabilidade, a eventual educação adicional nos 15 dias entre o teste e sua nova aplicação poderia ter interferido no resultado. Em quinto lugar, o presente instrumento não foi construído com as técnicas de plain language , ou linguagem simples, o que pode ter causado dificuldades na interpretação dos itens e possivelmente afetado os resultados. 23 Em sexto lugar, no instrumento original, foi utilizado o método de auto aplicação, enquanto que na versão em português foi o método de entrevista. Ainda que os pesquisadores tenham sido treinados quanto à aplicação do instrumento, o método de entrevista possui um viés que pode influenciar nas respostas ao instrumento. Visando investigar esta questão, sugere-se, para estudos futuros, a validação e utilização da versão curta do CADE-Q 24 como uma alternativa. Em novos estudos, também se encoraja a reestruturação das questões excluídas por não atenderem o padrão mínimo no CCI, para que sejam reavaliadas e incluídas no instrumento em novo processo de validação. Além disso, futuras pesquisas são necessárias para avaliar se a versão em português do CADE-Q II é sensível a alterações longitudinais avaliando o conhecimento dos pacientes antes e após sua participação em programas de RC. Conclusões Este estudo demonstrou que a versão em português do CADE-Q II apresentou confiabilidade, consistência e validade suficientes, apoiando a sua utilização em estudos futuros para avaliar o conhecimento de pacientes comDAC em programas de RC. Espera-se que esta ferramenta possa dar suporte à 83

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