ABC | Volume 112, Nº1, Janeiro 2019

Artigo Original Santos et al Validação para o português do CADE-Q II Arq Bras Cardiol. 2019; 112(1):78-84 “incorreta” quanto “não sei” não apresentam pontuação. A soma da pontuação total do instrumento é calculada para representar o conhecimento dos cardiopatas sobre os assuntos abordados. 17 Assim, o instrumento visa tanto quantificar o nível de conhecimento dos cardiopatas sobre sua doença quanto identificar quais são as áreas de conhecimento mais deficitárias por parte dos pacientes. Variáveis Os pacientes que participamda validação psicométrica foram caracterizados de acordo com sexo, idade, nível educacional, renda familiar mensal, comorbidades, fatores de risco cardíaco e história pregressa da doença. Todas as características foram auto relatadas. As seguintes propriedades psicométricas da versão em português do CADE-Q II foram testadas: clareza, validade de conteúdo, confiabilidade teste e reteste, consistência interna e validade de critério. Uma análise descritiva dos escores totais, por área e por questão também foi feita. Análise estatística O Statistical Package for Social Sciences (SPSS) - versão 20.0 - foi usado para armazenar, classificar e analisar dados. O nível de significância adotado para todos os testes foi de 5%. Quando mais de 20% dos itens do questionário estavam incompletos, os dados foram excluídos da análise. Visando testar a clareza e a validade de conteúdo, um pré-teste foi realizado com os pacientes com DAC a fim de obter feedback sobre os itens e se verificar o tempo necessário para completar o questionário. Cinco especialistas também avaliaram a clareza da versão em português do CADE-Q II. Na avaliação da confiabilidade teste e reteste, foi utilizado o coeficiente de correlação intraclasse (CCI). Itens com valores de CCI inferiores a 0,7 foram eliminados. 19 Em seguida, o alfa de Cronbach do instrumento foi calculado, de modo a avaliar a consistência interna. Nesta análise, valores superiores a 0,70 foram considerados aceitáveis refletindo a correlação interna entre os itens do instrumento. 20 A validade de critério foi avaliada comparando a pontuação do CADE-Q II com renda familiar mensal e nível educacional. 17 Para verificar a normalidade dos dados foi utilizado o teste de Kolmogorov-Smirnov. A análise descritiva da versão emCADE-Q II também foi realizada utilizando-se média e desvio padrão para variáveis contínuas com distribuição normal, e mediana e intervalo interquartil emvariáveis contínuas comdistribuição não normal. Para variáveis categóricas foram utilizadas frequências absolutas e relativas. Para verificar a associação entre as variáveis categóricas foi utilizado o teste qui-quadrado. A mediana da pontuação total foi calculada visando refletir o conhecimento total dos pacientes. As medianas dos escores por área também foram descritas. Resultados Tradução, adaptação cultural e pré-teste A tradução inicial foi realizada por três tradutores independentes, todos conscientes dos objetivos e conceitos subjacentes ao estudo que procuraram detectar ambiguidades e significados inesperados nos itens originais. A tradução reversa foi realizada por umquarto tradutor que desconhecia os objetivos iniciais do estudo e a versão original. Uma comissão de cinco especialistas bilíngues revisou todas as versões, adaptando culturalmente o instrumento para a realidade brasileira. Uma versão final foi gerada e a clareza das questões foi testada em 23 pacientes coronarianos. Durante o processo de tradução e adaptação cultural, a questão 4 da área exercício físico (“ três coisas que se pode fazer para exercer com segurança ao ar livre no inverno são ”) foi adaptado, a fim de ser utilizado no contexto brasileiro. Esta mudança foi relacionada com o clima, trocando o questionamento para o verão (“ o que você pode fazer para se exercitar com segurança ao ar livre no tempo quente e seco ”), o que reflete melhor a realidade do Brasil, país tropical. Nenhuma outra alteração foi necessária. Os 23 participantes levaram em média de 22,5 ± 3,5 minutos para completar o CADE-Q II e a média de clareza do instrumento apontada por eles foi de 7,0 ± 1,77. No que diz respeito à validade de conteúdo, após a aplicação e discussões individuais entre pacientes e pesquisadores foi confirmado que o CADE-Q II fornece uma descrição clara do objetivo das mensurações, da população alvo, dos conceitos que estão sendo medidos e da seleção dos itens. Validação psicométrica Na validação psicométrica, 307 pacientes participantes de programas de RC completaram o CADE-Q II. As características sociodemográficas e clínicas dos participantes são apresentadas na Tabela 1. Dentre os avaliados, 228 eram provenientes dos programas de RC de Florianópolis e 77 pacientes de Belo Horizonte. A amostra foi principalmente do sexo masculino (n = 200; 65,1%) e com baixo nível educacional (ensino fundamental incompleto, n = 88; 28,7%). A idade média foi de 63,3 ± 10,4 anos (mínimo = 31 anos, máximo = 88 anos). A confiabilidade teste e reteste foi avaliada em 49 pacientes selecionados por conveniência, e solicitados para preencherem a ferramenta novamente, com intervalo de 15 dias entre as avaliações. Entre esses pacientes, 24 eram participantes de um programa privado e 25 de um programa público de RC. A confiabilidade teste reteste foi avaliada pelo CCI para cada item, e os resultados estão também apresentados na Tabela 2. Os seguintes itens não atenderam o padrão mínimo recomendado: item 4 da área condição clínica (“ Um ataque cardíaco ocorre ”), item 4 da área fator de risco (“ O primeiro passo para controlar um fator de risco, como a pressão sanguínea ou o colesterol, é ”), item 7 da área nutrição (“ Quantas porções de frutas e legumes os adultos devem consumir? ”) e item 5 da área condição psicossocial (“ O ‘estresse crônico’ se define como ”). Estes itens foram excluídos da versão em Português CADE-Q II. Assim, dos 31 itens do instrumento original, 27 itens compõem a escala em português, cuja pontuação máxima é de 81 pontos. A consistência interna do instrumento – já com 27 itens - foi avaliada e o alfa de Cronbach encontrado foi 0,78. Em relação à validade de critério, conforme descrito na Tabela 1 os pacientes com maiores níveis de escolaridade (p < 0,001) e maior renda familiar (p < 0,001) apresentaram maior conhecimento sobre a doença em comparação aos demais pacientes. 80

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