ABC | Volume 112, Nº1, Janeiro 2019

Artigo Original Santos et al Validação para o português do CADE-Q II Arq Bras Cardiol. 2019; 112(1):78-84 Introdução As doenças cardiovasculares são a principal causa de mortalidade no Brasil , resultantes tanto do envelhecimento da população quanto das mudanças epidemiológicas relativas às doenças, 1-3 com contribuição significativa para os altos custos em saúde. 4,5 Dentre os tratamentos recomendados para a doença arterial coronariana (DAC) está à reabilitação cardíaca (RC), abordagem multidisciplinar para a prevenção secundária, que reduz efetivamente a reinternações em até 18% e a mortalidade cardiovascular em até 26%. 6 A maioria dos benefícios associados à RC estão relacionados a alterações de comportamento e, portanto, a educação do paciente é considerada um importante componente desses programas. A educação em saúde possibilita aos pacientes entender a natureza da sua doença e como ela é tratada. Por conseguinte, a compreensão inadequada sobre sua condição pode levar o cardiopata a um sofrimento emocional injustificado, um comportamento impróprio de enfrentamento da doença, a não adesão ao tratamento e progressão da doença. 7,8 Assim, a gestão de doenças crônicas como a DAC é necessária para otimizar a prevenção secundária. 9,10 Recentes estudos confirmam os benefícios das intervenções educativas em pacientes com DAC, melhorando os comportamentos de autogestão e saúde relacionados com qualidade de vida pelo aumento do conhecimento, da facilitação de mudanças de comportamento, 10-12 e potencialmente reduzindo os custos de saúde. 8 A fim de planejar e propor intervenções educacionais eficazes em programas de RC, é importante ter informações precisas sobre o que os cardiopatas sabem sobre sua condição. 7,8 Para tanto, a educação em saúde deve tanto ser ofertada quanto avaliada de uma maneira simples, visando atingir todos os públicos, incluindo os mais carentes. 13 Assim, o Questionário para Educação do Paciente Coronariano (CADE-Q), uma das poucas ferramentas no contexto da RC que é psicometricamente validada, foi previamente desenvolvido no Brasil e validado para o Brasil e outros países. 14,15 Entretanto, o foco da RC foi sendo modificado ao longo dos anos 11,16 e uma segunda versão - o CADE-Q II - foi desenvolvida visando atualizar o conteúdo e abranger outros componentes educacionais, como a saúde psicossocial. 17 O objetivo deste estudo foi traduzir, adaptar culturalmente e validar psicometricamente o CADE-Q II para o português do Brasil. Métodos Desenho e procedimentos Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos da Universidade Federal de Minas Gerais (nº 1.350.973) de acordo com a resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde. Trata-se de um estudo observacional com corte transversal e multicêntrico, envolvendo centros de pesquisa em Belo Horizonte e em Florianópolis. Os dados foram coletados entre janeiro e maio de 2016. Primeiramente, foi realizada a tradução e adaptação cultural. Este processo seguiu normas precisas aprovadas pelos autores e baseou-se no protocolo proposto por Guillemin et al., 18 : (1) tradução inicial, (2) tradução reversa, (3) revisão das versões geradas por um comitê de especialistas, (4) pré-teste de equivalência usando indivíduos bilíngues, e (5) revisão do peso das pontuações. A clareza da versão traduzida e adaptada culturalmente foi então testada em pacientes coronarianos. Os resultados foram utilizados para refinar a versão em português do CADE-Q II. Em segundo lugar, foi realizada a validação psicométrica. A ferramenta refinada foi administrada para uma amostra maior de participantes de três programas de RC na região da Grande Florianópolis, Santa Catarina (um privado e dois públicos) e um programa público em Belo Horizonte (Minas Gerais). O instrumento foi aplicado por meio de entrevista. Os pesquisadores mantiveram uma posição neutra durante a administração, respondendo a perguntas sobre a pesquisa e incentivando os participantes a responder a todas as perguntas. O questionário foi readministrado duas semanas após a primeira aplicação em participantes selecionados por conveniência para avaliar a confiabilidade teste e reteste. Participantes Para a validação psicométrica, foram recrutados pacientes participantes de programas de RC a partir das quatro instituições participantes que, atendem em conjunto cerca de 500 pacientes por mês. Destes, foi avaliada uma amostra por conveniência, a amostra foi baseada na disponibilidade dos recrutadores e pacientes que aceitaram participar da pesquisa. Portanto, participaram da pesquisa 307 pacientes, representando 61,4% da população de pacientes das instituições estudadas. Estes programas têm uma duração mínima de três meses e nenhum possui componente educacional estruturado. Os critérios de inclusão foram ter diagnóstico confirmado de DAC ou múltiplos fatores de risco cardiovasculares e assinar o termo de consentimento livre e esclarecido. Os critérios de exclusão foram idade inferior a 18 anos e qualquer deficiência visual, cognitiva ou mental significativa que impedisse a capacidade do participante para responder ao questionário. Sobre o CADE-Q II O CADE-Q II foi concebido para verificar o nível de conhecimento de coronarianos participantes de programas de RC sobre a DAC. O CADE-Q II avalia o conhecimento destes pacientes em cinco construtos teóricos ou áreas: condição médica, fatores de risco, exercício físico, nutrição e risco psicossocial, baseados em documentos oficiais, referências na área. 17 O instrumento possui 31 itens, cada um com quatro opções de resposta com afirmações acerca de um dos construtos abordados. Em cada item, uma opção de resposta é a mais “correta”, ou seja, possui apenas informações completas e verdadeiras sobre a área em questão e é pontuada com 3 pontos, e uma opção de resposta é “parcialmente correta”, contendo informações distintas para a mesma área em questão, e é pontuada com 1 ponto. As outras 2 opções de resposta são “incorreta”, que é a afirmativa onde todas as informações são incorretas, e “não sei”, alternativa que deve ser preenchida quando o paciente não tem certeza de nenhuma das três alternativas anteriores. Tanto as alternativas 79

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