ABC | Volume 112, Nº1, Janeiro 2019

Minieditorial Melo e Salemi Índices de deformação miocárdica na prevenção de cardiotoxicidade Arq Bras Cardiol. 2019; 112(1):57-58 posterior (ápice do VE) e circulação terminal entre a artéria coronária direita e a circunflexa esquerda (o segmento ínfero-lateral basal) - contribui para a lesão chagásica nessas topografias. Dessa forma, provavelemente, o agente agressor (quimioterápico, ou o Trypanossoma cruzy , por exemplo) apresentaria um clareamento mais lento nessas regiões, aumentando o tempo de exposição deletéria do cardiomiócito. Indiscutivelmente, a cardiotoxidade por quimioterápico é multifatorial, porém talvez tal hipótese fisiopatológica possa ter uma implicação clínica ao se melhorar a função endotelial e vasomotora coronariana previamente à exposição ao quimioterápico (estatinas, vasodilatadores, betabloqueadores). Dentre os 14 pacientes com alteração da contratilidade segmentar, 50% eram movimento atípico do septo. Porém, alterações da movimentação septal apresentam um achado inespecífico porque há uma gama extensa de etiologias que alteram a motilidade septal como: condições que causem aumento de volume ou pressão no VE; acometimento primário do cardiomiócito (cardiomiopatias); alterações elétricas de condução; estado pós-cirúrgico; doença pericárdica; cardiomiopatias congênitas; encurtamento pós-sistólico emassa interventricular, 15 merecendo cautela em atribuir tal achado à cardiotoxicidade, apesar da sua plausibilidade. Uma alternativa que ajudaria na compreensão dos achados seria expor a evolução da queda da DGL do VE entre os diferentes grupos e analisar se houve semelhança entre os achados da alteração segmentar e a disposição paramétrica da DGL do VE. Apesar de ainda ser discutível a valorização das alterações segmentares da deformação miocárdica, há trabalhos que vêm mostrando o papel incremental desse tipo de análise. 16,17 A presente coorte descrita no artigo desse editorial não deixa claro como ficaram divididos os grupos, dificultando a compreensão da realização do cálculo estatístico exposto. Seria interessante uma análise univariada e multivariada dos fatores que contribuíram para a queda da fração de ejeção (pressão arterial sistólica, dose e local da radioterapia, dose do quimioterápico, queda relativa da deformação do VE; valores absolutos iniciais da deformação, etc). Além disso, uma análise mais detalhada dos volumes ventriculares e função diastólica permitiriam um entendimento melhor do remodelamento ventricular. Da mesma forma, outra limitação seria a inclusão do encurtamento pós-sistólico na medida do pico máximo do strain, não considerando a fase do ciclo cardíaco. Independente das limitações expostas, o artigo mostra a relevância de um achado pouco discutido que é as alterações da motilidade segmentar do VE durante o tratamento quimioterápico, podendo ser secundário à doença, ao tratamento, ou descompensação de uma doença de base. 1. TanC,TasakaH,YuKP,MurphyML,KarnofskyDA.Daunomycin,anantitumor antibiotic, in the treatment of neoplastic disease. Clinical evaluation with special reference to childhood leukemia. Cancer. 1967;20(3):333-53. 2. DeVita VT Jr, Rosenberg SA. Two hundred years of cancer research. N Engl J Med. 2012;366(23):2207-14. 3. Yeh ET, Bickford CL. Cardiovascular complications of cancer therapy: incidence, pathogenesis, diagnosis, and management. J Am Coll Cardiol. 2009;53(24):2231-47. 4. Aleman BM, Moser EC, Nuver J, Suter TM, Maraldo MV, Specht L, et al. Cardiovascular disease after cancer therapy. EJC Suppl. 2014;12(1):18-28. 5. Miller KD, Siegel RL, Lin CC, Mariotto AB, Kramer JL, Rowland JH, et al. Cancer treatmentandsurvivorshipstatistics,2016.CACancerJClin.2016;66(4):271-89. 6. Plana JC, Galderisi M, Barac A, Ewer MS, Ky B, Scherrer-Crosbie M, et al. Expert consensus for multimodality imaging evaluation of adult patients during and after cancer therapy: a report from the American Society of Echocardiography and the European Association of Cardiovascular Imaging. Eur Heart J Cardiovasc Imaging. 2014;15(10):1063-93. 7. ZamoranoJL,LancellottiP,RodriguezMuñozD,AboyansV,AsteggianoR,Galderisi M,etal.2016ESCPositionPaperoncancertreatmentsandcardiovasculartoxicity developed under the auspices of the ESC Committee for Practice Guidelines: TheTaskForceforcancertreatmentsandcardiovasculartoxicityoftheEuropean SocietyofCardiology(ESC).EurHeartJ.2016;37(36):2768-2801. 8. Lang RM, Badano LP, Mor-Avi V, Afilalo J, Armstrong A, Ernande L, et al. Recommendations for cardiac chamber quantification by echocardiography in adults: an update from the American Society of Echocardiography and the European Association of Cardiovascular Imaging. J Am Soc Echocardiogr. 2015;28(1):1-39.e14. 9. Zhang KW, Finkelman BS, Gulati G, Narayan HK, Upshaw J, Narayan V, et al. Abnormalities in 3-Dimensional Left Ventricular Mechanics With Anthracycline Chemotherapy Are Associated With Systolic and Diastolic Dysfunction. JACC Cardiovasc Imaging. 2018;11(8):1059-68. 10. Okuma H, Noto N, Tanikawa S, Kanezawa K, Hirai M, Shimozawa K, et al. Impact of persistent left ventricular regional wall motion abnormalities in childhood cancer survivors after anthracycline therapy: Assessment of global left ventricular myocardial performance by 3D speckle-tracking echocardiography. J Cardiol. 2017;70(4):396-401. 11. Barros, MV. Left ventricular regional wall motion abnormality is a strong predictor of cardiotoxicity in breast cancer patients undergoing chemotherapy. Arq Bras Cardiol. 2019; 112(1):50-56. 12. Weberpals J, Jansen L, Müller OJ, Brenner H. Long-term heart- specific mortality among 347 476 breast cancer patients treated with radiotherapy or chemotherapy: a registry-based cohort study. Eur Heart J. 2018;39(43):3896-903. 13. Thavendiranathan P, Poulin F, Lim KD, Plana JC, Woo A, Marwick TH. Use of myocardial strain imaging by echocardiography for the early detection of cardiotoxicity inpatientsduringandaftercancerchemotherapy:asystematic review. J Am Coll Cardiol. 2014;63(25 Pt A):2751-68. 14. Chareonthaitawee P, Kaufmann PA, Rimoldi O, Camici PG. Heterogeneity of resting and hyperemicmyocardial blood flow in healthy humans. Cardiovasc Res. 2001;50(1):151-61. 15. Dwivedi A, Axel L. Abnormal Motion Patterns of the Interventricular Septum. JACC Cardiovasc Imaging. 2017;10(10 Pt B):1281-84. 16. vanMourik MJW, Zaar DVJ, Smulders MW, Heijman J, Lumens J, Dokter JE, et al. Adding Speckle-Tracking Echocardiography to Visual Assessment of Systolic Wall Motion Abnormalities Improves the Detection of Myocardial Infarction. J Am Soc Echocardiogr. 2018;S0894-7317(18)30505-4. 17. Anwar AM. Global and segmental myocardial deformation by 2D speckle tracking compared to visual assessment.World J Cardiol. 2012;4(12):341-6. Referências Este é um artigo de acesso aberto distribuído sob os termos da licença de atribuição pelo Creative Commons 58

RkJQdWJsaXNoZXIy MjM4Mjg=