ABC | Volume 112, Nº1, Janeiro 2019

Minieditorial Análise do Impacto Clínico e Custo-Efetividade da Medida do FFR em Comparação com a Angiografia em Pacientes Multiarteriais Submetidos à ICP Analysis of FFR Measurement Clinical Impact and Cost-Effectiveness Compared to Angiography In Multi- Arterial Patients Undergoing PCI Fernando Mendes Sant’Anna 1,2 e Lucas Bonacossa Sant’Anna 3 Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1 Campus Macaé, Macaé, RJ – Brasil Serviço de Hemodinâmica da Clínica Santa Helena, 2 Cabo Frio, RJ – Brasil Fundação Técnico-Educacional Souza Marques, 3 Rio de Janeiro, RJ – Brasil Minieditorial referente ao artigo: Impacto Clínico e Custo-Efetividade da FFR em Comparação à Angiografia em Pacientes com Doenças Multiarteriais Submetidos à ICP Correspondência: Fernando Mendes Sant’Anna • Universidade Federal do Rio de Janeiro, Campus Macaé - Ensino e Graduação - Av. Aluízio da Silva Gomes, 50. CEP 27930-960, Macaé, RJ – Brasil E-mail: fmsantanna@gmail.com Palavras-chave Reserva Fracionada do Fluxo Miocárdio; Custo Benefício; Doença da Artéria Coronariana/economia; Angioplastia Coronária com Balão; Stents. DOI: 10.5935/abc.20180261 O estudo de Quintella et al., 1 publicado nesse número da revista, vem nos trazer valiosas informações sobre a utilização de importante ferramenta de avaliação fisiológica no laboratório de hemodinâmica. O tratamento guiado pelo FFR (fluxo fracionado de reserva do miocárdio), usado no âmbito da intervenção coronariana percutânea (ICP) com implante de stent não farmacológico (SNF) em pacientes multiarteriais do SUS, mostrou‑se útil em diminuir a incidência de nova revascularização do vaso alvo (reestenose clínica), assim como foi custo-efetivo quando comparado ao tratamento guiado pela angiografia. O valor do FFR em predizer eventos cardiovasculares adversos maiores (ECAM) antes das ICP já está estabelecido há muitos anos. Sua capacidade de detectar isquemia e com isso orientar o tratamento mais adequado sofreu a prova do tempo e passou. Os seguimentos de 15 anos do estudo DEFER 2 nos pacientes uniarteriais, e de 5 anos dos estudos FAME 1 3 e FAME 2 4 em pacientes multiarteriais, mostraram resultados consistentes e inquestionáveis, com evolução clínica melhor, ou no mínimo semelhante, nos grupos guiados pelo FFR, utilizando-se menos stents , com menos lesões abordadas e consequentemente menor custo, além de evidenciar a segurança de se deixar as lesões cujo FFR não fosse indicativo de isquemia apenas em tratamento medicamentoso. Há bastante tempo já se conhece o valor limitado da angiografia para predizer isquemia. Sant’Anna et al., 5 mostraram fraca correlação entre a angiografia, expressa como percentual de diâmetro de estenose (DE) e o FFR ( rho = - 0,33), especialmente em lesões intermediárias (entre 40% e 70%). Essa discordância entre o DE e a fisiologia já foi documentada em vários outros estudos, como o de Toth et al., 6 Park et al., 7 que igualmente mostraram percentuais de discordância entre o FFR e a angiografia de 36% e 39%, respectivamente. Em um estudo publicado em 2007, 8 em 250 pacientes (452 lesões) avaliados pelo FFR antes da ICP, 32% das lesões tiveram sua estratégia de tratamento inicialmente planejada modificada após a medida do FFR, o que se constitui uma grande mudança, pois implicaria tratamento inadequado em mais de um terço dos pacientes. Mais recentemente, Ciccarelli et al., 9 em um subestudo do FAME 2, analisaram o valor da angiografia comparado com o FFR para predizer a história natural das lesões coronarianas, correlacionando o índice de ECAM com a importância angiográfica e fisiológica dessas lesões em pacientes (n=607) que inicialmente foram deixados apenas em tratamento medicamentoso. Nos subgrupos nos quais o FFR era discordante da angiografia (FFR > 0,80 e DE ≥ 50% ou FFR ≤ 0,80 e DE < 50%), a evolução clínica mostrou-se pior naqueles nos quais o FFR era ≤ 0,80, mesmo que a lesão não fosse importante, e benigna naqueles nos quais o FFR era > 0,80, independente do DE. No estudo de Quintella et al., 1 o ECAM que se reduziu no grupo FFR foi a necessidade de nova revascularização do vaso alvo, não havendo diferença em relação à mortalidade ou infarto. Mesmo diante do limitado número de pacientes envolvidos no estudo, tal dado está de acordo com o que foi apresentado nos estudos FAME, nos quais após 5 anos de evolução apenas a necessidade de nova revascularização permanece diferente entre os grupos. Chamamos a atenção para a baixa taxa de reestenose clínica no grupo FFR (5,8%) do estudo de Quintella et al., 1 uma vez que o mesmo utilizou apenas SNF, o que talvez se deva ao fato de terem sido tratadas muito menos lesões do que no grupo angio (1,14 vs. 2,22 stents por paciente), e com melhor critério de seleção. Outro achado interessante do estudo é a relação de custo- efetividade (CE), medida pela razão de custo-efetividade incremental (RCEI), que representa a razão entre os custos das tecnologias em análise e suas efetividades. Essa razão geralmente é ajustada para qualidade de vida e expressa como QALY ( quality-adjusted life year ). Aceita-se que custos abaixo de USD 20.000/QALY sejam altamente favoráveis à tecnologia testada. A RCEI calculada para o estudo de Quintella et al., 1 foi de R$ 21.156,55, totalmente dentro dos critérios de CE, principalmente se levarmos em conta que foram utilizados 48

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