ABC | Volume 112, Nº1, Janeiro 2019

Minieditorial Existe um Papel para a Vibração de Corpo Inteiro na Proteção de Doenças Cardiovasculares? Is There a Role For Whole Body Vibration in Protecting Cardiovascular Disease? Leonardo Zornoff e Marcos Ferreira Minicucci Universidade Estadual Paulista (Unesp) - Faculdade de Medicina Campus de Botucatu, Botucatu, SP – Brasil Minieditorial referente ao artigo: Treinamento de Vibração de Corpo Inteiro Aumenta o Resgate Miocárdico contra Isquemia Aguda em Ratos Machos Adultos Correspondência: Leonardo Zornoff • Rubião Júnior, s/n. CEP 18618-970, Botucatu, SP – Brasil E-mail: lzornoff@fmb.unesp.br Palavras-chave Doenças Cardiovasculares; Mortalidade; Exercício/prevenção e controle; Vibração; Técnicas de Exercício e Movimento, Mobilidade, Acidente Vascular Cerebral/reabilitação DOI: 10.5935/abc.20180257 A doença cardiovascular é a principal causa de morte no mundo. Nesse contexto, é bem aceito que a atividade física desempenha um papel crítico como poderosa estratégia terapêutica para prevenção e progressão de doenças cardiovasculares, tanto em modelos experimentais quanto em diferentes situações clínicas. 1,2 O treinamento com Vibração de Corpo Inteiro (WBV, do inglês Whole Body Vibration ) é um novo e intrigante programa de treinamento. É importante ressaltar que, se a proteção induzida por vibração for um método eficaz de exercício, ela pode ser uma alternativa ao treinamento físico, especialmente para aqueles que não conseguem realizar o exercício tradicional. Sendo assim, os efeitos da WBV em diferentes sistemas, incluindo o sistema cardiovascular, foram investigados nos últimos anos. Considerando estudos clínicos, os resultados que sugerem benefícios com essa estratégia têm sido conflitantes. Por exemplo, os efeitos da WBV no desempenho neuromuscular, mobilidade, espasticidade e respostas cardiovasculares foram estudados após o AVC. Embora alguns resultados positivos tenham sido relatados, uma revisão sistemática recente concluiu que não há evidências sólidas confirmando os efeitos benéficos da WBV em indivíduos com acidente vascular cerebral. 3 Por outro lado, em pacientes pediátricos com câncer, a WBV melhorou a massa muscular e a força dos membros inferiores, controle de equilíbrio, marcha e capacidade de caminhada. 4 Da mesma forma, em pacientes com DPOC (doença pulmonar obstrutiva crônica) moderada, a WBV aumentou o desempenho físico e a qualidade de vida. No entanto, não houve efeitos sobre os biomarcadores inflamatórios e oxidativos. 5 Em modelos experimentais, a terapia com WBV após isquemia reduziu o dano cerebral em ratos senescentes. 6 Em outro modelo, a WBV atenua o estresse oxidativo, melhorando a esteatose hepática e a resistência à insulina em camundongos db/db. 7 Da mesma forma, a Plataforma Vibratória reverteu os aumentos no armazenamento de lípides hepáticos induzidos pelo envelhecimento em camundongos. 8 Nesta edição dos Arquivos Brasileiros de Cardiologia, Autor et al. estudaram a segurança e a eficácia da vibração na lesão de isquemia-reperfusão (I/R) miocárdica. 9 Vinte e quatro ratos Wistar machos foram divididos em grupos controle e vibratório e todos os ratos foram submetidos à lesão de I/R do miocárdio. O treinamento com vibração consistiu no uso de um aparato vertical sinusoidal por 30 min por dia, 6 dias por semana. Os dados mostraram que o treinamento com WBV aumentou a tolerância cardíaca à lesão de I/R em ratos, evidenciada pela redução do tamanho do infarto e arritmias cardíacas, e pela facilitação da desfibrilação espontânea. Embora promissores, esses resultados devemser interpretados com cautela, pois, com alguma frequência, o sucesso dos tratamentos experimentais estudados não se reproduz quando aplicado aos estudos clínicos. Além disso, estratégias de cardioproteção em situações de isquemia-reperfusão constituem o principal modelo utilizado para exemplificar as dificuldades da medicina translacional, uma vez que resultados positivos de estudos experimentais são ofuscados pelo fato de que, até o momento, estratégias de cardioproteção em estudos clínicos têm mostrado resultados negativos. 10 Considerando o exposto acima, embora os dados não sejam consistentes, há evidências do benefício da WBV em diferentes modelos. No entanto, a grande maioria das evidências vem de pesquisas experimentais e estudos clínicos de centro único, com um pequeno número de pacientes, não randomizados e sem eventos cardiovasculares como principais desfechos. Portanto, mais estudos são necessários para esclarecer o papel exato dessa nova modalidade de atividade física no manejo da doença cardiovascular. 38

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