ABC | Volume 112, Nº1, Janeiro 2019

Artigo Original Shekarforoush & Naghii Cardioproteção por vibração de corpo inteiro Arq Bras Cardiol. 2019; 112(1):32-37 Introdução O treinamento com vibração de corpo inteiro (WBV, do inglês Whole Body Vibration ) foi recentemente proposto como um método de treinamento com potencial para melhorar a composição corporal e prevenir osteoporose e perda de massa óssea. 1 Nos últimos anos, alguns estudos mostraram que oWBV pode ser ummodo de treinamento benéfico em pacientes com esclerosemúltipla, 2 diabetes tipo 2, 3 doença pulmonar obstrutiva crônica 4 e receptores de transplante cardíaco. 5 Os efeitos doWVB no sistema cardiovascular foram investigados em vários estudos publicados. A diminuição da rigidez arterial após o treinamento com WBV pode reduzir o risco de doença cardiovascular. 6,7 Um experimento conduzido por Robbins et al., 8 mostrou um aumento significativo na velocidade do fluxo sanguíneo sem alterações significativas na frequência cardíaca, pressão arterial ou temperatura periférica da pele. O aumento do volume sanguíneo muscular e a velocidade do fluxo sanguíneo após o exercício vibratório foramatribuídos principalmente ao efeito das vibrações na redução da viscosidade do sangue e aumento de sua velocidade através das artérias. 9 Esses achados indicam que o WBV pode representar uma forma leve de exercícios para o sistema cardiovascular. 10 A doença cardiovascular (DCV) induzida por isquemia, é a principal causa demorte nomundo todo. A restauração do fluxo sanguíneo, após um período de isquemia, pode desencadear processos patológicos que exacerbam a lesão por isquemia por si só. 11 O pré-condicionamento descreve um pré-tratamento ou pré-manejo que é capaz de adaptar o miocárdio ao estresse isquêmico. Já demonstramos algumas intervenções de pré‑condicionamento em experimentos anteriores, reduzindo o tamanho do infarto e as arritmias. 12,13 O efeito cardioprotetor do pré-condicionamento do exercício foi relatado como uma redução no tamanho do infarto em estudos anteriores. 14,15 Evidências acumuladas indicam que tanto o exercício de curto prazo (isto é, de 1 a 5 dias) quanto de longo prazo (ou seja, de semanas a meses) podem proteger o coração durante uma lesão de isquemia-reperfusão (IR). Embora muito se saiba atualmente sobre o pré-condicionamento físico, que seja de nosso conhecimento, o efeito da vibração de corpo inteiro na lesão por IR não foi investigado. Assim, o objetivo deste estudo foi determinar se o exercício de vibração seria capaz de reduzir o tamanho do infarto e a arritmia durante a lesão de IR em um modelo experimental em ratos. Métodos Ratos Wistar machos pesando entre 250 e 300 g (10‑12 semanas de idade) foram obtidos do Biotério da Shiraz University of Medical Sciences e alojados sob condições padrão com acesso livre a comida e água. A investigação foi aprovada pelo Comitê de Ética da Universidade, de acordo com o Guia para o Cuidado e Uso de Animais de Laboratório. Desenho Experimental Um total de 24 ratos foram aleatoriamente alocados para 1 de 3 grupos de tratamento (controle versus dois grupos experimentais) através do sorteio de números. O tamanho da amostra (n) foi estabelecido combase emestudos que avaliaram os efeitos do exercício contra lesão do miocárdio por I/R. 16,17 Os animais dos grupos de vibração foram colocados em um compartimento acoplado a uma plataforma de vibração (Crazy Fit Massager / Modelo: YD 1002, Union Brilliant Group Co., LTD, Fujian, China). O treinamento de vibração consistiu em um ciclo de 5 min no dia 1, seguido de um ciclo extra de 5 min nas próximas cinco sessões na primeira semana e, então, cada rato foi exposto a vibração sinusoidal vertical por 30 min por sessão (3 ciclos x 10 min) 6 dias por semana durante uma semana (grupoWBV1) ou 3 semanas (grupoWBV3). Os animais tinham um intervalo de descanso 1 a 2 min entre os ciclos. A vibração foi realizada no modo 1 com amplitude de 1 a 10 mm e a uma frequência de 10 a 50 Hz. A velocidade do modo 1 em cada ciclo aumentou gradualmente e depois diminuiu com a mesma tendência dentro de cada período de tempo. Os animais controles permaneceram em suas gaiolas e foram colocados sobre a plataforma de vibração, sem tratamento de vibração. Cada sessão de treinamento foi realizada entre as 8:30 e as 10:00 da manhã. 18 Procedimento Cirúrgico Oprotocoloutilizado foiminuciosamentedescrito emdetalhes em nossa publicação anterior. 12 Resumidamente, 24 horas após a última sessão de treinamento, os animais foram anestesiados e ventilados com ar ambiente enriquecido com oxigênio a uma taxa de 70 respirações por minuto. Um eletrocardiograma de derivação II padrão realizado nos membros foi monitorado e registrado durante todo o experimento. Cateteres foram inseridos na artéria carótida esquerda e veia caudal para monitorização da pressão arterial e infusão da solução de Evans azul, respectivamente. Após a toracotomia, um fio de sutura de seda 6-0 foi passado em torno da artéria coronária descendente anterior esquerda (DAE). Após um período de estabilização de 20 min, a DAE foi ocluída por 30 min de isquemia e liberada por 120min de reperfusão. A temperatura retal foi monitorizada continuamente e mantida a 37 ± 0,5°C. Determinação do tamanho do infarto e área em risco Ao final da reperfusão, a DAE foi novamente ocluída e 1 mL de solução a 2% de corante Evans Blue (Sigma, St. Louis, MO) foi injetado na veia caudal para identificar a área não perfundida, também conhecida como área em risco (AER), da área perfundida. Os ratos foram então mortos por overdose de pentobarbital e os seus corações foram removidos e congelados durante uma hora. Os átrios e o ventrículo direito foram removidos e o ventrículo esquerdo foi cortado em fatias transversais de 2 mm de espessura do ápice até a base. As amostras de tecido foram então incubadas com uma solução a 1% de cloreto de 2,3,5-trifeniltetrazólio (Sigma) durante 20 min a 37°C e subsequentemente fixadas em formalina tamponada com fosfato a 10% durante uma hora. O miocárdio viável foi corado em vermelho pelo cloreto de trifeniltetrazólio, enquanto o miocárdio necrótico mostrou coloração amarelo pálida. Em cada fatia, as áreas em risco e as áreas infartadas foram determinadas por planimetria computadorizada utilizando um software de análise de imagens (Image Tool, University of Texas, San Antonio, TX). O tamanho do infarto (TI) foi expresso como porcentagem da AER (TI/AER). 12 33

RkJQdWJsaXNoZXIy MjM4Mjg=