ABC | Volume 111, Nº6, Dezembro 2018

Artigo Original Ferreira et al O ácido úrico e fatores de risco cardiovascular Arq Bras Cardiol. 2018; 111(6):833-840 Tabela 5 – Correlações entre níveis séricos de ácido úrico e variáveis bioquímicas, índice de hiperemia reativa e pressão arterial (n = 149) Correlação Correlação parcial* r p r p Parâmetros Antropométricos Índice de massa corporal (kg/m 2 ) 0,39 < 0,0001 0,30 0,0003 Circunferência da cintura (cm) 0,43 < 0,0001 0,26 0,001 Variáveis Metabólicas Glicose (mg/dL) 0,21 0,01 0,25 0,08 Insulina (µU/mL) 0,01 0,94 0,03 0,82 HOMA-IR 0,07 0,62 0,07 0,64 Colesterol total (mg/dL) 0,22 0,01 0,14 0,10 HDL colesterol (mg/dL) -0,42 < 0,0001 -0,28 0,0007 LDL colesterol (mg/dL) 0,29 0,0003 0,19 0,02 Triglicérides (mg/dL) 0,35 < 0,0001 0,21 0,01 Perfil Inflamatório PCR-us (mg/L) 0,11 0,23 0,16 0,10 Adiponectina (mg/mL) -0,40 0,0005 -0,25 0,03 Estresse Oxidativo Malondialdeído (ng/mL) 0,28 0,04 0,31 0,03 Função Endotelial Índice de hiperemia reativa -0,27 0,01 -0,25 0,02 Pressão Arterial PA sistólica (mmHg) 0,32 0,0001 0,16 0,06 PA diastólica (mmHg) 0,24 0,003 0,16 0,11 HOMA-IR, método da homeostase glicêmica de resistência à insulina; HDL: lipoproteína de alta densidade; LDL: lipoproteína de baixa densidade; PCR-us: proteína C-reativa ultra-sensível; PA: pressão arterial. * Após o ajuste para idade e sexo (para as correlações parciais com índice de massa corporal e circunferência da cintura) ou apos ajustes para idade, sexo e índice de massa corporal (para as outras variáveis). Neste estudo foi observada associação direta entre o AUS e o estresse oxidativo avaliado por níveis séricos deMDA. Este achado está de acordo com a hipótese sugerida por alguns autores, de que a relação do AUS com disfunções vasculares e metabólicas é, pelo menos, parcialmente mediada por alterações no estresse oxidativo. 21,24 Vale mencionar que a associação de ácido úrico com estresse oxidativo é complexa e pode ser paradoxal. 25 O ácido úrico tem a habilidade de induzir estresse oxidativo intracelular emitocondrial, porémé um importante antioxidante presente no plasma humano 25 onde pode ser responsável por, cerca de dois terços da capacidade antioxidante total através da quelação demetais e remoção de espécies reativas de oxigênio. 20 Entretanto, há provas de que sob condições isquêmicas e quando o AUS está acima dos níveis normais, o ácido úrico se torna pró‑oxidante. 24-26 A xantina oxidase, que é uma das duas isoformas interconvertíveis da xantina-oxirredutase, usa oxigênio molecular como um aceptor de elétrons, gerando ânion superóxido e outras espécies reativas de oxigênio como subprodutos, assim elevando o estresse oxidativo que pode, em última análise, contribuir para as DCV. 24,27 Alguns estudos, à semelhança da presente investigação, observaram que os níveis de AUS estavam relacionados positivamente com TG 3,16,28 e negativamente com HDL colesterol. 3,18,28 Os mecanismos subjacentes à relação entre AUS e TG ainda são desconhecidos, 29 mas há algumas explicações possíveis. De acordo com uma delas, o ácido úrico pode induzir a lipogênese no fígado e pode bloquear a oxidação de ácidos graxos. 30,31 Outros investigadores sugerem que a síntese hepática de ácidos graxos é associada à síntese “de novo” de purina, com subseqüente aceleração na produção de ácido úrico. 32 No presente estudo a hiperuricemia foi associada a níveis mais baixos de adiponectina sérica. Entre os poucos estudos que avaliaram essa associação, um conduzido por Park et al., 33 recrutou 841 mulheres na pós-menopausa, com idades a partir de 50 anos e descobriu uma relação inversa, que não foi reproduzida numa análise transversal do Tromsø Study. 34 Apesar de os níveis séricos de PCR-us não terem se associado significativamente com AUS, eles forammaiores em indivíduos que apresentaram hiperuricemia. Uma associação positiva entre SUA e PCR foi notada em alguns estudos realizados com octagenários, 35 emmulheres pós-menopausa, 10 em diabéticos do tipo 2, 36 em pessoas mais velhas 37 e em crianças obesas pré-puberes. 38 A função endotelial comprometida observada em indivíduos com níveis mais altos de AUS no presente estudo também foi observada em estudos anteriores. 4-6,9,11 838

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