ABC | Volume 111, Nº6, Dezembro 2018

Minieditorial Cintilografia Miocárdica após Revascularização Percutânea em Pacientes Assintomáticos: Futilidade ou tem Utilidade? Myocardial Perfusion Scintigraphy after Percutaneous Coronary Intervention in Asymptomatic Patients: Useful or Futile? Gabriel Blacher Grossman 1,2 Hospital Moinhos de Vento, 1 Porto Alegre, RS – Brasil Cardionuclear - Instituto de Cardiologia, 2 Porto Alegre, RS – Brasil Minieditorial referente ao artigo: O Valor Prognóstico e o uso Clínico da Cintilografia de Perfusão Miocárdica em Pacientes Assintomáticos após Intervenção Coronariana Percutânea Correspondência: Gabriel Blacher Grossman • Rua Ramiro Barcelos, 910/201. CEP 90035-001, Moinhos de Vento, Porto Alegre, RS - Brasil E-mail: ggrossman@cardiol.br , ggrossman@terra.com.br Palavras-chave Doença da Artéria Coronariana/cintilografia; Revascularização Miocárdica; Intervenção Coronária Percutânea; isquemia miocárdica. DOI: 10.5935/abc.20180237 A cintilografia miocárdica (CM) é um método não invasivo consagrado na prática clínica para a avaliação de pacientes com suspeita de cardiopatia isquêmica ou com doença arterial coronariana (DAC) estabelecida. 1 Na avaliação diagnóstica encontra sua principal indicação na investigação de pacientes com probabilidade pré-teste intermediária de DAC, 2 sendo difícil dissociar o valor diagnóstico da informação prognóstica obtida com o método. Por meio de critérios de gravidade validados na literatura, como a extensão da isquemia, podemos determinar o risco de o paciente apresentar eventos cardiovasculares no futuro. 3 Nos pacientes com DAC estabelecida, a CM pode auxiliar na estratificação de risco para eventos como infarto do miocárdio não fatal e morte cardíaca, bem como na avaliação de sintomas sugestivos de isquemia miocárdica. Embora o valor da quantificação de isquemia tenha sido tema de debate nos últimos anos, é inegável que na prática clínica pode auxiliar na tomada da decisão terapêutica. 4,5 A CM pode ser útil na avaliação de pacientes submetidos a procedimento de revascularização cirúrgica ou percutânea, principalmente se o paciente apresentar sintomas. Embora a realização de CM possa ser indicada em pacientes assintomáticos após 2 anos da intervenção coronariana percutânea (ICP) ou após 5 anos do procedimento cirúrgico, 6 poucos estudos na literatura analisaram o tempo adequado para a realização do estudo funcional em pacientes assintomáticos e a validade da realização do mesmo. A prática cardiológica contradiz frequentemente o que é recomendado, não sendo rara a avaliação de pacientes assintomáticos em um período menor do que é sugerido na literatura. Nesta edição dos Arquivos Brasileiros de Cardiologia, de Andrade et al., 7 avaliaram o valor prognóstico e o uso clínico da cintilografia de perfusão miocárdica em pacientes assintomáticos após ICP. 7 Os autores realizaram um estudo retrospectivo avaliando 647 pacientes que realizaramCM após ICP. Cinquenta e três por cento dos pacientes apresentaram CM anormal (30% anormais com isquemia e 23% anormais sem isquemia). A taxa anual de óbitos foi superior naqueles com perfusão anormal sem isquemia comparada nos grupos com isquemia e CM normal (3,3% X 2% X 1,2%, p = 0,021). A taxa anual de revascularização foi de 10,3% no grupo com isquemia, 3,7% naquelas com CM normal e 3% no grupo com CM anormal sem isquemia. Foram preditores independentes de mortalidade e revascularização, respectivamente, defeito perfusional maior do que 6% e defeito isquêmico maior que 3%. Quarenta e dois por cento dos pacientes realizaram CM menos de 2 anos após o procedimento de ICP e não foram observadas diferenças relevantes em relação aos que realizaram após este período. A presença de isquemia silenciosa nos pacientes submetidos à ICP não é incomum, e usualmente está relacionada à evolução daDAC em territórios remotos e não nas áreas revascularizadas. 8,9 O estudo de de Andrade et al. 7 demonstrou que 30% dos pacientes apresentavam isquemiamesmo não referindo sintomas e que o período de 2 anos não modifica de maneira relevante a informação obtida pela CM. Não existemdados na literatura que demonstrem consistentemente que o diagnóstico de isquemia após ICP modifique desfechos clínicos. O estudo ISCHEMIA foi delineado para determinar qual o valor da quantificação da isquemia pormeio demétodos não invasivos e se esta informação apresenta interação com a decisão terapêutica e desfechos clínicos, mas seus resultados ainda não são conhecidos. 10 À luz do conhecimento atual, a presença de isquemia detectada pela CM é sabidamente um marcador de risco cardiovascular e pode auxiliar na tomada de decisão terapêutica. Particularmente em pacientes submetidos à ICP, se a mesma foi realizada de maneira incompleta ou se o paciente não apresentou angina como manifestação de DAC, a realização de CM antes do tempo sugerido na literatura pode ser útil e não fútil. Cabe ao médico assistente considerar se deve esperar o tempo sugerido na literatura para reavaliar o paciente, pois a base teórica para esta conduta não apresenta respaldo consistente. 794

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