ABC | Volume 111, Nº6, Dezembro 2018

Artigo Original Andrade et al Valor Prognóstico da Cintilografia Miocárdica Arq Bras Cardiol. 2018; 111(6):784-793 estiveram associados de forma independente à presença de isquemia, como mostra a Tabela 2. Durante o seguimento, foram registradas 61 mortes, sendo 27 por causas cardiovasculares. A mortalidade foi maior entre os pacientes com CPM anormal sem isquemia, seguido pelo grupo com CPM anormal com isquemia, e menos encontrada no grupo com perfusão normal, sendo a taxa anual de óbitos em cada grupo, respectivamente, 3,3%, 2% e 1,2%. A mortalidade cardiovascular seguiu o mesmo padrão de incidência nos grupos, com taxa anual de 1,4%, 0,9% e 0,5%, respectivamente. Ocorreram 19 IAM não fatais e esse desfecho também foi mais prevalente entre aqueles com CPM anormal sem isquemia comparado aos demais participantes, porém sem relevância estatística. Foram documentadas 139 revascularizações, 10 pacientes realizaram cirurgia de revascularização miocárdica, 126 foram submetidos à ICP e 3 realizaram ambas. Entre os grupos, a revascularização foi mais frequente entre os pacientes com isquemia, com taxa anual de 10,3%, e menos expressiva entre os pacientes com perfusão normal e anormal sem isquemia, nos quais teve taxa anual de 3,7% e 3%, respectivamente. Os dados sobre a ocorrência dos desfechos de acordo com os grupos de perfusão estão demonstrados na Tabela 3. Na análise univariada, incluindo características clínicas e cintilográficas, foram considerados preditores de mortalidade idade maior que 70 anos, HAS, DM, utilização do protocolo de estresse farmacológico, indicação da CPM de avaliação pré-operatória e defeito perfusional total maior que 6%. Após ajuste multivariado, com exceção da HAS, as demais variáveis emergiram como preditores independentes de morte (Tabela 4). A curva de Sobrevida de Kaplan-Meier estratificada por faixas do defeito perfusional total na Figura 2 revela a relação direta entre a extensão do defeito e a mortalidade, em especial, quando o mesmo atinge valores maiores que 6%. Os preditores independentes de nova revascularização foram a revascularização incompleta como indicação da CPM, o intervalo entre a ICP e a CPM menor que 2 anos e o defeito isquêmico maior que 3%, como mostra a Tabela 5. A curva de Kaplan-Meier estratificada por faixas do defeito isquêmico demonstra a forte associação entre a extensão da isquemia e a ocorrência do desfecho (Figura 2). O único fator associado de forma independente à mortalidade cardiovascular foi o defeito perfusional total maior que 6% e ao IAM não fatal foi a presença de DM. Ao analisar o grupo de pacientes com isquemia na CPM (n = 189), observou-se entre aqueles submetidos à nova revascularização (36%), maior presença do sexo masculino (73%×63%, p=0,031), maior frequência de revascularização incompleta como indicação da CPM (39% × 14%, p = 0,02) e maior prevalência do intervalo entre a ICP prévia e a CPM menor que 2 anos (54% × 30%, p = 0,001), comparado ao grupo que não sofreu a intervenção (64%). A extensão do defeito isquêmico foi maior entre os pacientes revascularizados (7% × 6%, p = 0,162), porém, diferente do esperado, sem significância estatística. De forma semelhante, a mortalidade foi menor entre os revascularizados (9% × 12%, p = 0,453), entretanto, sem valor estatístico. Ao comparar as populações que realizaram CPM no intervalo inferior e superior a 2 anos após a ICP, não foram observadas diferenças clínicas ou cintilográficas significativas entre as mesmas. A mortalidade no período de seguimento também foi semelhante, como demonstrado na Figura 3. Discussão A utilização da CPM no seguimento de pacientes assintomáticos após ICP vem sendo estudada nas últimas décadas. Os primeiros estudos avaliaram a realização da CPM nos primeiros 6 meses após o procedimento, 9-12 em seguida, autores procuraram estabelecer o uso desse teste funcional mais tardiamente nesse subgrupo; 13,14 A maioria das publicações incluiu pacientes que realizaram CPM após intervalos fixos após a ICP, que variaram de 4 meses 12 a 60 meses. 14 No estudo atual, esse intervalo foi variável, de dias a anos, permitindo a avaliação do valor prognóstico da CPM quando realizada em intervalos variados após a revascularização percutânea. No presente estudo, foram incluídos 647 pacientes e o tempo médio de seguimento foi de 5,2 anos. Estudos prévios selecionaram um número menor de participantes, variando de 196 13 a 370 pacientes, 11 e tiveram tempo de acompanhamento inferior, em média de 3 anos. Em relação às características da Tabela 2 – Preditores de isquemia Características Análise univariante OR (95% CI) Valor de p Análise multivariada OR (95% CI) Valor de p Idade > 70 anos 0,36 (0,65 a 1,30) 0,489 0,82 (0,55 a 1,20) 0,309 Sexo masculino 1,13 (0,78 a 1,63) 0,515 1,35 (0,89 a 2,05) 1,155 Diabetes melito 1,22 (0,85 a 1,76) 0,288 1,30 (0,88 a 1,93) 0,179 IAM prévio 2,51 (1,77 a 3,59) < 0,001 2,87 (1,60 a 5,13) < 0,001 ICP prévia por SCA 1,90 (1,36 a 2,68) < 0,001 0,71 (0,41 a 1,24) 0,229 Fração de ejeção < 50% 1,52 (1,08 a 2,16) 0,018 1,61 (0,78 a 1,71) 0,454 Estresse farmacológico 1,34 (0,95 a 1,89) 0,091 1,22 (0,84 a 1,78) 0,294 Indicação CPM: revascularização incompleta 3,43 (2,11 a 5,57) < 0,001 2,99 (1,80 a 4,98) < 0,001 IAM: infarto agudo do miocárdio; ICP: intervenção coronariana percutânea; SCA: síndrome coronariana aguda; CPM: cintilografia de perfusão miocárdica. 787

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