ABC | Volume 111, Nº6, Dezembro 2018

Minieditorial A Natureza do Remodelamento Cardíaco Induzido por Exercício Físico: Mais Evidências em Direção à Adaptação Normal do Coração The Nature of Cardiac Remodeling Due to Physical Exercise: More Evidence Towards to the Normal Adaptive Responses of the Heart Lucas Helal 1 e Anderson Donelli da Silveira 2 Laboratorio de Fisiopatologia do Exercicio (LaFiEx) - Hospital de Clínicas de Porto Alegre - Programa de Pós-Graduação em Cardiologia e Ciências Cardiovasculares - Faculdade de Medicina - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 1 Porto Alegre, RS – Brasil Grupo de Cardiologia do Exercício (CARDIOEX) - Hospital de Clínicas de Porto Alegre - Programa de Pós-Graduação em Cardiologia e Ciências Cardiovasculares - Faculdade de Medicina - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2 Porto Alegre, RS – Brasil Minieditorial referente ao artigo: Comparação de Parâmetros Cardíacos e Vasculares em Powerlifters e Corredores de Longa Distância: Um Estudo Transversal Comparativo Correspondência: Lucas Helal • Laboratório de Fisiopatologia do Exercício, Hospital de Clinicas de Porto Alegre - Universidade Federal do Rio Grande do Sul - Rua Ramiro Barcelos, 2350. CEP 90035-007, Porto Alegre, RS - Brasil E-mail: lucas.helal@ufrgs.br Palavras-chave Remodelamento Ventricular; Remodelamento Atrial; Remodelamento Cardíaco; Exercício; Técnicas de Exercício e Movimento; Treinamento de Resistência; Corrida; Levantamento de Peso; Pressão Arterial; Arritmias Cardíacas. DOI: 10.5935/abc.20180238 O remodelamento cardiaco devido a sobrecarga pelo treinamento fisico (o assim chamado “coraço do atleta”) tem sido amplamente investigado desde os anos 70 pela comunidade acadêmica e é tema de pesquisa até os dias de hoje. Diferenciar as respostas adaptativas normais (“benignas”) das anormais continua sendo um desafio. Aqui abordamos algumas questoes importantes relacionadas a discussao sobre remodelamento cardiaco induzido por exercicio, recentemente revisitada por Vidaletti-Silva et al. 1 nesta ediço. Em termos de adaptações morfológicas, a hipertrofia atrial e ventricular esquerda chama a atenção devido à sua possível associação com o aparecimento de taquiarritmias supraventriculares 2 e também de arritmias ventriculares, 3 que podem resultar em eventos indesejáveis. 4 Entretanto, evidências ao longo do tempo têm sugerido que a resposta de remodelamento devida à carga de treinamento físico (por exemplo, tempo de exposição, intensidade, modalidade, etc.) pode não configurar um estado de doença – isto é, o chamado remodelamento “fisiológico, mas não patológico. 5 ” Especialmente em relação às câmaras cardíacas esquerdas, está bem estabelecido que a pressão arterial e a sobrecarga volumétrica podem causar as alterações observadas, resultando em duas características morfológicas clássicas definindo a hipótese de Morganroth 6 – um aumento do volume das cavidades esquerdas para aquelas sobrecarregadas pelo débito cardíaco (isto é, atletas de resistência); ou a hipertrofia do septo do ventrículo esquerdo (VE) para aqueles sobrecarregados pelos níveis de pressão arterial (isto é, atletas de treinamento de força). Apenas a saber, a hipótese de Morganroth foi recentemente revisita, ao ser observada hipertrofia septal também em atletas de resistência. 7 Embora esteja razoavelmente bem estabelecido na literatura científica, Vidaletti-Silva et al. 1 abordaram a questão das diferenças no remodelamento cardíaco devido à modalidades esportivas através de um estudo transversal com grupo comparador - atletas de resistencia (isto é, corredores) e atletas de forca (isto é, levantadores de peso) – duas modalidades esportivas apropriadas para essa comparação. Em seus achados, não foram observadas diferenças entre os grupos em relação à massa do VE, quando ajustada para a área de superfície corporal. Como esperado, as espessuras septal e posterior do VE foram diferentes entre os atletas de resistência e força, mas não o volume diastólico final do VE. A função vascular (isto é, dilatação mediada por fluxo e resistência vascular periférica) foi também avaliada e não foram encontradas diferenças. A mensagem deste estudo, pelo menos à luz de nossa interpretação, e que atletas de duas modalidades distintas em uma faixa de 5 a 7 anos de treinamento apresentam adaptações que não são maiores do que os limites estabelecidos para normalidade em relação às dimensões 8 e espessura da parede do VE. 9 É preciso destacar que, mesmo dentro de valores limítrofes, não houve comprometimento da função sistólica e diastólica do miocárdio em nenhum dos grupos, retratando a natureza adaptativa normal da morfologia cardíaca. Apesar de simples, este estudo transversal corrobora a hipótese de diferentes adaptações cardíacas induzidas por diferentes modalidades de exercício. Finalmente, a detecção de uma adaptação morfológica anormal em atletas (e potencialmente configurando o estado de entidade clínica) ainda é um desafio, especialmente para aqueles que estão dentro de valores limítrofes. Nós apreciaremos mais estudos como esse - que lançam luz sobre esta área cinzenta. 782

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