ABC | Volume 111, Nº6, Dezembro 2018

Artigo Original Silva et al Características cardíacas e vasculares em atletas Arq Bras Cardiol. 2018; 111(6):772-781 respectivamente. Assim, usando esses cortes, apesar de algumas mudanças anatômicas e cardíacas, nenhum dos participantes estudados apresentou dimensões cardíacas consistentes com hipertrofia patológica. Entretanto, é importante notar uma forte correlação entre as cargas de peso levantadas no agachamento e a carga total e dimensões cardíacas, incluindo espessura do septo, espessura da parede posterior e massa do VE. Novamente, uma explicação possível é que powerlifting envolve uma grande quantidade de contrações de baixa-velocidade utilizando cargas altas próximas da máxima, conduzindo a uma sobrecarga de pressão. 9,17 Em relação à massa do VE, Gardin et al. 18 relatou valores de 225 g e 115 g/m² ajustados pela BSA em indivíduos cronicamente expostos a sobrecarga de pressão. A massa do VE também foi medida em nosso estudo e encontramos valores de 282 g e 135 g/m 2 , entre powerlifters . Interessantemente, corredores também apresentaram alta massa de VE (236 g e 128 g/m 2 ajustados à BSA). Independentemente da modalidade de treino, houve remodelamento cardíaco em resposta ao treinamento físico em ambos os grupos. Embora ainda sejam controversas, as medições ecocardiográficas indexadas à BSA permitem comparar indivíduos com tamanho corporais diferentes. A superfície corporal (BSA) é afetada pela massa adiposa, e a massa adiposa não é correlacionada, nem prediz a massa do VE. 19 Uma abordagem alternativa é ajustar os parâmetros ecocardiográficos à massa magra. Entretanto, não há medidas precisas amplamente disponíveis, e métodos substitutos, como a medição da espessura da dobra de pele, são relativamente imprecisos. 20,21 A avaliação da função diastólica no estudo revelou valores consistentemente normais em corredores de longa-distância. 22 Em contraste, foramencontrados um volumemais baixo de AE e medidas de velocidade de onda-A transmitral, em powerlifters , apesar de tais valores estarem dentro dos limites normais. A diferença de medida de volume de AE em ambos os grupos foi de ~22% e foi ainda mais pronunciada após os ajuste à BSA (~40%). D’Andrea et al. 23 avaliaram o volume do AE e o volume do AE indexado pela BSA em 350 atletas de resistência e em 245 atletas de força. 23 Para medidas indexadas pela BSA, tais autores definiram valores entre 29 e 33 mL/m 2 como de leve aumento de AE e valores acima de 33 mL/m 2 como de aumento moderado. Assim, todos os nossos resultados estavam abaixo dos valores de corte estabelecidos emD'Andrea et al. 23 . Quanto à função sistólica do VE avaliada através de estimativas de fração de ejeção e fração de ejeção calculada pela regra de Simpson, a avaliação ecocardiográfica apresentou valores dentro da escala normal em todos os casos. Pressão arterial A associação de treino aeróbico com pressão arterial inferior em repouso está bem estabelecida. 24,25 Mas um crescente conjunto de provas mostra que o treinamento de força pode ter um efeito semelhante sobre a pressão arterial, 26 apesar de ainda não haver um consenso na literatura. 27 Entretanto, já foi relatado que o treinamento de força de alta-intensidade afeta a pressão arterial de maneira negativa. Uma meta-análise mostrou que o treino de modalidades que basicamente consistam de treinamento de força ( powerlifting, fisiculturismo, e levantamento de peso olímpico) é associado a um mais alto risco de pressão arterial alta com PAS média de 131,3 ± 5,3 mmHg e PAD média de 77,3 ± 1,4 mmHg. 28 Tais valores são consistentes com os encontrados em nosso estudo (PAS 130,0 ± 8,2 e PAD 82,1 ± 6,9 mmHg). Função vascular As medições de DFM foram semelhantes em ambos: tanto em powerlifters , quanto em corredores. Essa é uma descoberta interessante dado que essas duas modalidades de treino possuem características biomecânicas e metabólicas diferentes. Treinamento físico tem se mostrado ummeio eficaz para a melhoria da capacidade de vasodilatação dependente do endotélio. 29 Entre os atletas de alto-desempenho, os corredores de longa distância com função cardíaca normal acima da média mostram menor rigidez arterial, menor stress oxidativo e capacidade de dilatação dependente do endotélio aumentada, 30 se comparados com indivíduos sedentários da mesma idade. 31 Tais dados sugerem que um desempenho cardíaco excelente em atletas pode ser associado à função vascular melhorada induzida por treinamento físico aeróbico. É bem sabido que o exercício aeróbico melhora a função endotelial por produzir umestresse de cisalhamento aumentado nas paredes dos vasos durante o exercício. 32 Ainda assim, tem sido sugerido que o treino de força pode aumentar o stress hemodinâmico devido à compressão mecânica dos vasos sanguíneos durante os movimentos ativos juntamente com a tensão vascular excessiva produzida durante exercícios de força. 7 Assim, podemos especular que tal treinamento de força de alta-intensidade pode afetar agudamente a vasodilatação dependente do endotélio e levar a danos permanentes em longo prazo. A esse respeito, tem se demonstrado função vascular comprometida em atletas de força, embora ela pareça estar mais relacionada ao uso de agentes anabólicos, do que ser um efeito do treinamento. 33,34 Heffernan et al. descobriram um aumento da hiperemia reativa do antebraço em jovens indivíduos saudáveis após um treinamento de força de 6 meses. 35 A explicação mais provável para uma dilatação dependente do endotélio aumentada em treinamento de força é a hipótese da compressão mecânica das paredes dos vasos de resistência durante o exercício, seguida pela liberação de fluxo sanguíneo quando da cessação do exercício, levando ao aumento agudo de estresse de cisalhamento na parede do vaso. 36 Apesar de as modalidades de treinamento envolverem estímulos diferentes (treinamento de corrida: aumento do fluxo de contínuo de sangue; treino de força: compressão intermitente dos músculos e restauração do fluxo sanguíneo), no fim, elas produzem os mesmos efeitos sobre o estresse de cisalhamento da parede do vaso. É importante observar que, apesar dos níveis aumentados de pressão arterial e maiores espessura da parede posterior e massa de VE descobertos em nosso estudo entre powerlifters , eles não apresentaramcomprometimentoda funçãocardíacaouendotelial, quando comparados aos corredores, e todos os parâmetros estavamacima damédia. Assim, a pressão arterial alta encontrada em powerlifters parece estar relacionada ao aumento da RVP, mais do que a um comprometimento da função endotelial. 779

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