ABC | Volume 111, Nº6, Dezembro 2018

Correlação Anatomoclínica Nunes et al Dor torácica e choque em paciente com cardiopatia isquêmica Arq Bras Cardiol. 2018; 111(6):860-863 função dos múltiplos fatores de riscos cardiovasculares ou de fonte cardioembólica associada a trombos intracavitários. Em dezembro de 2009 a paciente foi admitida no serviço de emergência comdor torácica aguda. Apresentava‑se discreta taquicárdica e com pressão arterial sistólica limítrofe de 100 mmHg. O eletrocardiograma revelou taquicardia sinusal, sobrecarga atrial esquerda e bloqueio do ramo esquerdo. Em pacientes com dor torácica aguda e eletrocardiograma com bloqueio de ramo esquerdo agudo ou indeterminado devemos considerar, em especial na vigência de instabilidade hemodinâmica, a possibilidade de infarto agudo domiocárdio. Critérios como aquele proposto por Sgarbossa et al., 2 e Smith et al., 3 modificado por outros autores podem contribuir para melhora da acurácia diagnóstica neste contexto. 2,3 Entretanto, devemos considerar que a ocorrência de bloqueio de ramo esquerdo é, mais comumente, um marcador de doença cardíaca estrutural prévia. A paciente apresentou parada cardiorrespiratória em atividade elétrica sem pulso (AESP) com pouco tempo após a admissão hospitalar. No infarto agudo do miocárdio, a AESP pode ocorrer em pacientes com grave disfunção ventricular e choque cardiogênico e/ou complicações mecânicas como ruptura da parede livre do ventrículo esquerdo com tamponamento cardíaco, ruptura e/ou disfunção grave do músculo papilar e comunicação interventricular aguda. Outras condições devem ser consideradas em pacientes com dor torácica aguda que apresentam rápida deterioração clínica como a dissecção aórtica e a tromboembolia pulmonar. A radiografia de tórax revelou derrame pleural volumoso em hemitórax direito, apesar deste achado não ter sido prontamente evidenciado durante o exame físico. Na paciente em questão, o derrame pleural pode ser decorrente de descompensação da insuficiência cardíaca crônica, mas também pode estar associada a outras afecções como doenças reumatológicas, tuberculose ou carcinomatose pleural por neoplasias. As duas últimas condições citadas não são infrequentes em pacientes com cardiopatias crônicas. Adicionalmente, derrames pleurais volumosos, em algumas condições, podem coexistir com acometimento pericárdico e consequente tamponamento cardíaco. 4 Derrame pleural também pode estar presente em pacientes com aortopatias agudas como dissecção da aorta e úlcera aórtica com rotura associada, mas normalmente o derrame mais frequente está localizado no espaço pleural esquerdo em função da anatomia aórtica. (Dra. Hilda Sara Montero Ramirez) Figura 1 – Eletrocardiograma – Ritmo sinusal, baixa voltagem dos complexos QRS no plano frontal, área eletricamente inativa em parede inferior e bloqueio de ramo esquerdo. Figura 2 – Eletrocardiograma – Ritmo sinusal, bloqueio de ramo esquerdo e ondas T positivas em derivação de QRS também positivo. 861

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