ABC | Volume 111, Nº5, Novembro 2018

Comunicação Breve Scorsatto et al Mulheres obesas metabolicamente saudáveis Arq Bras Cardiol. 2018; 111(5):733-737 massa corporal (IMC) ≥ 30 kg/m 2 . Foram excluídas mulheres fumantes, usuárias de drogas ou de quaisquer suplementos (incluindo aqueles para emagrecimento), grávidas ou lactantes e que tinham marca‑passo ou prótese metálica (visto que esses impedem a avaliação da composição corporal por bioimpedância), e aquelas que autorrelataram um diagnóstico de diabetes mellitus ou uso de hipoglicemiantes. Mediu-se o peso das participantes com uma balança eletrônica (Welmy, SP). Aferiu-se a estatura com estadiômetro e o IMC foi calculado com o peso em kg dividido pela altura ao quadrado emmetros. Mediu-se a circunferência da cintura (CC) com fita métrica, a composição corporal por impedância bioelétrica (Biodynamics 450, Seattle, Washington, EUA) e a pressão arterial com esfigmomanômetro aneróide (Missouri, Curitiba, PA). Finalmente, calculou-se a razão cintura-estatura (RCE) de todas as participantes em cm/cm. Calculou-se o índice de adiposidade visceral (IAV) utilizando a seguinte fórmula sexo-específica para mulheres: IVA = CC 36,58 + (1,89 × IMC) Triglicérides 0,81 1,52 HDL × × Foram colhidas as amostras de sangue após jejum noturno de 12 horas. O soro foi obtido por centrifugação das amostras a 4000 rpm durante 15 minutos (Excelsa Baby I, Fanem, SP). Determinaram-se as concentrações séricas de glicose, triglicérides, lipoproteína de alta densidade (HDL) e colesterol total pelo método enzimático com um analisador bioquímico automatizado (LabMax 240, Labtest Diagnostica SA, Brasil). Calculou-se a lipoproteína de baixa densidade (LDL) com a fórmula de Friedewald. Mediu-se a concentração sérica de insulina com quimioluminescência e estimou-se a resistência à insulina utilizando o índice HOMA. 5 Os índices de HOMA foram distribuídos em quartis e classificou-se como metabolicamente saudáveis as participantes cujos índices estavam dentro dos três quartis inferiores (2,78), com base em Pimentel et al. 4 Os dados são expressos como média ± desvio padrão (DP). Realizou-se o teste de Kolmogorov-Smirnov para analisar a normalidade das variáveis. Realizaram-se comparações entre grupos com o teste qui quadrado para variáveis categóricas e o teste t de Student para variáveis contínuas. Foi considerado p < 0,05 como estatisticamente significativo. Utilizou-se a Curva ROC para identificar pontos de corte para valores de CC e IAV. Realizaram-se as análises com o programa estatístico SPSS 20.0 (SPSS, Chicago, Illinois, EUA). Resultados Selecionou-se inicialmente 292 mulheres, 53 das quais foram excluídas após auto-relatarem diagnóstico de diabetes mellitus ou uso de hipoglicemiantes. A amostra final foi composta por 239 indivíduos. Um total de 181 participantes (75,7%) foram classificadas como OMS de acordo com os índices de HOMA. Os resultados mostram que o IAV e todos os parâmetros antropométricos eram significativamente maiores nas mulheres OMNS e que havia menos indivíduos hipertensos e valores de triglicérides maiores no grupo OMS em comparação com o grupo OMNS (Tabela 1). A Figura 1 mostra os valores de CC e IAV e a acuracia desses na identificação de mulheres OMS. Os dois grupos apresentaram curvas ROC semelhantes; a curva da CC tinha uma Razão de Verossimilhança Negativa melhor para distinguir mulheres OMS com o ponto de corte de 108,2 cm. Discussão Independente dos critérios utilizados para definir os fenótipos OMS e OMNS, não está claro se indivíduos OMS têm um risco menor de DCV ou mortalidade por todas as causas em comparação aos indivíduos OMNS. 6 Uma revisão sistemática de 14 estudos que avaliaram o risco de DCV mostrou que a maioria dos estudos não conseguiu demonstrar uma associação significativa entre OMS e aumento do risco de DCV e mortalidade, embora os indivíduos OMS possam apresentar um risco levemente maior de DCV em comparação aos indivíduos de peso normal. 1,3 Berezina et al., 7 estudaram 503 pacientes com obesidade abdominal e concluíram que o fenótipo OMS estava associado com menor idade, menor CC, maior nível de atividade física, menor tempo de duração da obesidade e a presença do genótipo adiponectina G45G. 7 O maior desafio, porém, é o estabelecimento de um ponto de corte para CC que possa ser aplicado a populações obesas diferentes. No presente estudo, observou-se baixa prevalencia dos fatores de risco metabolicos, considerando-se que aproximadamente 76% dos individuos obesos eram OMS. Estes resultados podem ter sido influenciados pela definiço de risco metabolico. Segundo estes resultados, CC elevada, razão cintura-estatura, glicemia, insulina, triglicérides, IAV e hipertensão estavam associados com o fenótipo OMNS. Isto sugere que o critério aplicado possa identificar indivíduos com risco maior de DCV. Este fenótipo coincide com o assim chamado fenótipo cintura hipertrigliceridêmica que está associado com aterosclerose, diabetes e doença arterial coronariana. 1,3,6 Adicionalmente, a prevalência elevada de OMS sugere que faltam evidências de que o IMC seja um bom indicador de risco cardiometabólico, e que existe a necessidade de desenvolver e validar outros indicadores que possam ajudar a guiar o diagnóstico, e tratamento de indivíduos obesos. 7 Em um estudo recente, 8 que acompanhou 296.535 participantes de ambos os sexos do Biobanco do Reino Unido durante cinco anos, emmédia, verificou-se que o aumento de um desvio padrão na CC (12,6 cm para mulheres e 11,4 cm para homens) esteve associado à razão dos riscos (hazard ratio) de 1,16 (IC 95%: 1,13–1,19) para mulheres e 1,10 (IC 95%: 1,08–1,13) para homens para desfechos relacionados com DCV. No presente estudo, a CC apresentou maiores valores de medida e foi uma ferramenta econômica facilmente aplicável na prática clínica para distinguir mulheres brasileiras OMS das OMNS. Além disso, a CC e o IAV identificarammulheres OMS com uma área semelhante sob a curva ROC. Em um estudo transversal realizado em Nanjing, China, 9 o IAV foi um indicador independente positivo de rigidez arterial, o qual foi avaliado pela velocidade da onda de pulso tornozelo‑braquial em 5.158 indivíduos com idade superior a 40 anos. Porém, o IAV não é de fácil obtenção na prática 734

RkJQdWJsaXNoZXIy MjM4Mjg=