ABC | Volume 111, Nº5, Novembro 2018

Comunicação Breve É Possível Identificar Facilmente Mulheres Obesas Metabolicamente Saudáveis? Is it Possible to Easily Identify Metabolically Healthy Obese Women? Mauara Scorsatto, 1 Glorimar Rosa, 2 Aline de Castro Pimentel, 1 Ronir Raggio Luiz, 3 Gláucia Maria Moraes de Oliveira 1 Programa de Pós-Graduação em Cardiologia - Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1 Rio de Janeiro, RJ – Brasil Instituto de Nutrição Josué de Castro - Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2 Rio de Janeiro, RJ – Brasil Instituto de Estudos de Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro, 3 Rio de Janeiro, RJ – Brasil Palavras-chave Doenças Cardiovasculares/fisiopatologia; Síndrome Metabólica; Dislipidemias; Diabetes Mellitus; Hipertensão; Obesidade/prevalência; Mulheres. Correspondência: Gláucia Maria Moraes de Oliveira • Universidade Federal do Rio de Janeiro – R. Prof. Rodolpho P. Rocco, 255 – Prédio do HU 8º andar – sala 6, UFRJ. CEP 21941-913, Cidade Universitária, RJ – Brasil E-mail: glauciam@cardiol.br , glauciamoraesoliveira@gmail.com Artigo recebido em 05/06/2018, revisado em 25/07/2018, aceito em 08/08/2018 DOI: 10.5935/abc.20180228 Resumo Fundamento: A obesidade é reconhecida como um fator de risco importante no desenvolvimento de várias complicações metabólicas. Porém, alguns indivíduos obesos apresentam um perfil metabólico favorável. Objetivo: O objetivo do presente estudo foi identificar um parâmetro fácil para reconhecer mulheres obesas metabolicamente saudáveis (OMS) Métodos: Foram selecionadas 292 mulheres não diabéticas com índice de massa corporal (IMC) ≥ 30 kg/m 2 e a coorte final foi composta de 239. De acordo com o estado metabólico determinado pelo modelo de avaliação da homeostase (HOMA), as participantes foram classificadas como obesas metabolicamente saudáveis (OMS) ou obesas metabolicamente não saudáveis (OMNS). Compararam‑se ambos os grupos quanto às características bioquímicas, antropométricas e de composição corporal. Resultados: A idade média da coorte foi de 43,9 ± 10,9 anos e o IMC médio foi 37,2 ± 5,3 kg/m 2 . No total, 75,7% das participantes foram classificadas como OMS pelo HOMA. O ponto de corte para a circunferência da cintura (CC) de 108,2 identificoumulheres OMS com sensibilidade de 72,4% (intervalo de confiança [IC] de 95%: 59,8–82,3%), especificidade de 66,9% (IC 95%: 59,71–73,3%) e razão de verossimilhança negativa (RVN) de 0,41 (IC 95%: 0,36–0,47). Adicionalmente, o ponto de corte de 99,2 para o índice de adiposidade visceral (IAV) identificou mulheres OMS com sensibilidade de 89,7% (IC 95%: 79.2–95.2%), especificidade de 48,6% (IC 95%: 41,4–55,9%) e RVN de 0,21 (IC 95%: 0.15–0.30). Conclusões: Mulheres classificadas comoOMS apresentaram menor CC, menor percentual de gordura corporal e menores níveis séricos de glicose e de insulina. A CC foi identificada como um parâmetro fácil para identificar mulheres OMS. Introdução A prevalência da obesidade aumentou acentuadamente nas últimas décadas. Entre 1980 e 2013, ocorreu um incremento de 27% chegando a afetar 2,1 bilhões de adultos em todo o mundo. Uma meta-análise de 97 estudos incluindo mais de 2,88 milhões de indivíduos e mais de 270.000 mortes concluiu que a obesidade está associada a um risco significativamente maior de mortalidade por todas as causas, incluindo doenças cardiovasculares (DCV), em comparação ao peso normal. 1 Segundo dados recentes, a obesidade afeta 17% da população brasileira acima de 20 anos de idade e as mulheres apresentam maior prevalência de diabetes, hipercolesterolemia e obesidade abdominal. 2 A obesidade é reconhecida como um fator de risco importante no desenvolvimento de várias complicações metabólicas. Porém, alguns indivíduos obesos apresentam um perfil metabólico favorável, caracterizado pelo índice do modelo de avaliação da homeostase (HOMA), pressão arterial e perfil lipídico. Estes indivíduos são identificados como obesos metabolicamente saudáveis (OMS), 1 embora haja atualmente uma falta de consenso sobre a definição de OMS. Uma meta‑análise recente baseada em 40 estudos demonstrou que quase um terço de indivíduos obesos eram OMS, segundo a definição baseada nos pontos de corte estabelecidos pelo Third Report of the National Cholesterol Education Program’s Adult Treatment Panel (NCEP‑ATP III) ou nos da International Diabetes Federation (IDF). 3 Entre esses estudos, há o de Pimentel et al., 4 cuja pesquisa com mulheres brasileiras demonstrou que cerca de 70% eram consideradas OMS de acordo com o HOMA e os critérios do NCEP-ATP III para o diagnóstico de síndrome metabólica. Nós hipotetizamos que os indivíduos com fenótipo OMNS apresentam maior adiposidade abdominal e resistência à insulina. Consequentemente, realizou-se o presente estudo para identificar um parâmetro simples para detectar mulheres OMS. Métodos A amostra foi composta de 239 mulheres recrutadas no município de São Gonçalo, RJ. O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Estudos e Pesquisas do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e encontra‑se registrado sob o protocolo número 062/10. Todas as participantes assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido. O estudo incluiu mulheres com idade ≥ 20 anos de idade e com índice de 733

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