ABC | Volume 111, Nº5, Novembro 2018

Minieditorial Mundo Real da Intervenção Coronariana Percutânea no Sistema de Saúde Pública no Rio de Janeiro: Como Podemos Melhorá-lo? Real World of Percutaneous Coronary Interventions in the Public Health System in Rio de Janeiro: How Can It Be Improved? Stefano Garzon e Expedito E. Ribeiro Instituto do Coração (INCOR), São Paulo, SP - Brasil Minieditorial referente ao artigo: Sobrevida em até 15 Anos de Homens e Mulheres após Intervenção Coronariana Percutânea Paga pelo Sistema Único de Saúde no Estado do Rio de Janeiro, 1999-2010 Correspondência: Expedito E. Ribeiro • Rua Tomás Carvalhal, 555 Apt 62. CEP 04006-001, Paraíso, São Paulo, SP – Brasil E-mail: expribeiro@terra.com.br, expedito@cardiol.br Palavras-chave Doença da Artéria Coronariana; Intervenção Coronária Percutânea/economia; Mortalidade; Morbidade; Sistema Único de Saúde (SUS) / economia; Epidemiologia. DOI: 10.5935/abc.20180227 As doenças cardiovasculares (DCV) são atualmente a principal causa de morte no Brasil 1 e no mundo, 2 com 80% dos casos 3 ocorrendo em países de baixa e média renda. Ela afeta negativamente as economias desses países, 4 com reduções do Produto Interno Bruto (PIB), e aumentos da carga sobre os sistemas de saúde já precários. Os fatores de risco associados às DCV são amplamente evitáveis, e a conscientização 5 e o aumento do acesso aos cuidados primários de saúde para a prevenção 6 são fatores-chave para reduzir os eventos. O presente estudo avaliou as taxas de mortalidade em pacientes submetidos à intervenção coronariana percutânea (ICP) tanto na doença coronariana estável (DF) como nas síndromes coronarianas agudas (SCA) no Sistema Único de Saúde (SUS) no período de 1999 a 2010. Ele fornece dados interessantes sobre os desfechos de mortalidade nesses pacientes, dividindo-os por sexo, faixa etária e tipo de intervenção (angioplastia coronariana por balão, implante de stent com stents convencionais e ICP primária para IAMST). Ele tem limitações evidentes: trata-se de uma coorte populacional retrospectiva; seus dados foram extraídos de diferentes bases de dados, e as informações tiveram que ser pareadas (internações versus atestados de óbito, que não estão no mesmo conjunto de dados); o desfecho mortalidade foi morte por qualquer causa, e embora os autores citem que a causa da morte foi dividida em dois grupos (morte cardiovascular e qualquer outra causa), não está claro quais dados foram utilizados; não há informações sobre comorbidades, doença de vaso único versus doença multiarterial, ou medicamentos prescritos; e pacientes com mais de uma ICP foram excluídos. 7 Os autores também afirmam que, em comparação com outros estudos. 8-10 O presente estudo apresentou taxas de mortalidade mais elevadas, atribuindo isso às dificuldades de extrapolar resultados de ensaios clínicos randomizados (ECR) para a prática no mundo real. Embora a validade externa dos ECR e a generabilidade de seus resultados sejam uma questão conhecida, 11 também é razoável considerar a precariedade do SUS, com acesso restrito à atenção primária e à medicina preventiva, oferta instável de medicamentos, indisponibilidade de stents farmacológicos e estrutura insuficiente de atenção secundária e terciária à saúde. Acima de tudo, as precárias condições socioeconômicas e de educação contribuem para um cenário em que há muitos fatores de confusão para essas taxas de mortalidade mais altas. Também temos que considerar que não há evidências de que a ICP para DCE reduza a mortalidade quando comparada com o tratamento clínico otimizado; 8 portanto, talvez um desfecho primário melhor possa ser eventos cardíacos e cerebrovasculares maiores (ECCM) do que apenas morte, embora seja compreensível que a falta de um registro unificado, com informações completas, torne isso praticamente impossível. Por fim, seria interessante investigar os custos das doenças cardiovasculares para o SUS e comparar a carga financeira das DCV no Brasil àquela de outros países. 12 Além de suas limitações, o presente estudo tem pontos fortes: um grande número de indivíduos, um longo tempo de acompanhamento e um cenário do mundo real. Ele deve ser usado para gerar perguntas em vez de fornecer respostas, e é um grande passo em direção à oferta de melhor atendimento aos nossos pacientes no Brasil. 731

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