ABC | Volume 111, Nº5, Novembro 2018

Artigo Original Souza et al Rigidez Arterial e Toxicidade Cardiovascular Arq Bras Cardiol. 2018; 111(5):721-728 Tabela 1 – Características das pacientes avaliadas na amostra Variáveis n = 24 Idade, anos 52,33 ± 8,85 IMC, kg/m 2 31 ± 5,87 Tabagismo 5 (20,8) Etilismo 4 (16,7) Diabetes melito 3 (12,5) Hipertensão arterial 14 (58,3) Resultados expressos como média ± desvio padrão ou n (%). IMC: índice de massa corporal. a infusão IV do quarto ciclo do esquema AC; o intervalo de tempo desde o início da quimioterapia e seu término foi de 80 a 90 dias. Após 1 semana do quarto ciclo quimioterápico, a paciente foi submetida a uma nova avaliação clínico-cardiológica e a estudo ecocardiográfico, para análise da FEVE e para comparação com o valor antes do primeiro ciclo. Os resultados de todas as variáveis que o aparelho Mobil‑O-Graph® 24H PWA fornece foram tabulados e submetidos a tratamento estatístico entre as três medidas das pacientes estudadas. O protocolo deste estudo esta em conformidade com a Declaraço de Helsinque, tendo sido liberado pelo Comitê de Etica em Pesquisa da instituição, e todos os pacientes avaliados assinaramo Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Análise estatística As variáveis foram submetidas ao teste de normalidade de Shapiro-Wilk e apresentadas como média ± Desvio Padrão (DP), em caso de normalidade, ou como mediana (Distância Interquartílica − DI −, que é a diferença entre o terceiro e o primeiro quartis). Variáveis categóricas foram expressas em frequência. As três medições fornecidas pelo aparelho foram expressas como média ± DP. Na comparação entre os três momentos (pré-quimioterapia, logo após o primeiro ciclo de quimioterapia e após o quarto ciclo), adotou-se a análise de variância para medidas repetidas, sob a verificação de esfericidade, ou teste de Friedman. A comparação das medidas entre dois momentos foi realizada pelo teste de Wilcoxon para amostras pareadas, inclusive na análise post hoc . A análise foi desenvolvida no programa gratuito R versão 3.3.2, tendo sido adotado nível de significância de 5%. Resultados A amostra foi composta por 24 mulheres, com média de idade de 52,33 ± 8,85 anos e Índice de Massa Corporal (IMC) médio de 31 ± 5,87 kg/m 2 . Cerca de 16,7% das mulheres eram etilistas, e 20,8% eram tabagistas. Mais da metade delas (58,3%) apresentava hipertensão arterial, enquanto 12,5% tinham diabetes melito tipo 2 (Tabela 1). Os v a l o r e s med i ano s de F EVE ob t i do s po r ecoDopplercardiograma transtorácico antes e após o quarto ciclo de quimioterapia foram 67,8% ± 3% e 66,0% ± 3%, respectivamente, e não mostraram diferença significativa entre os dois tempos (Figura 1). Também não observamos diferenças nas variáveis hemodinâmicas entre os três períodos analisados (pré-QT, pós-1QT e pós-4QT– todos com p > 0,05), em relação aos parâmetros PA sistólica e diastólica periféricas e centrais, PA média, pressão de pulso, frequência cardíaca, amplificação da pressão de pulso, volume sistólico, débito cardíaco, resistência vascular total, índice cardíaco, pressão de aumentação, coeficiente de reflexão e augmentation index (Tabela 2) . A VOP, variável que mais se correlacionou à rigidez arterial, também não mostrou diferença estatística significativa entre os três períodos analisados, com p = 0,507 (Figura 2). Discussão Desde a década de 1970, sabe-se que o tratamento quimioterápico com doxorrubicina está relacionado a um aumento na prevalência de IC. 15-17 Emmenor grau, mas usada em altas doses, a ciclofosfamida também tem se mostrado tóxica para o sistema cardiovascular. 18 Atualmente, as principais diretrizes para o tratamento quimioterápico dos tipos de câncer mais prevalentes, sobretudo o câncer de mama, recomendam o uso combinado destes agentes. 19,20 Vários estudos têm mostrado um grande aumento na incidência de alterações cardiovasculares que se seguem ao tratamento quimioterápico do câncer. Muitas vezes, tais alterações só são clinicamente observadas meses ou anos após o uso destes medicamentos. 2,8,12 O protocolo para adjuvância e neoadjuvância para o tratamento do câncer de mama da instituição onde se realizou a pesquisa é baseado no esquema com doxorrubicina e ciclofosfamida. O uso de outros esquemas com taxanos e 5-fluoruracil pode ser aplicado na adjuvância e na neoadjuvância; no nosso estudo, optamos por não incluir as pacientes em uso destes medicamentos, visto que a incidência de IC é menor quando comparada aos antracíclicos (5% a 35% dos casos vs. 2% a 10%). 6,7 Também o número de pacientes em uso de 5-fluorouracil-doxorrubicina-ciclofosfamida ou 5-fluorouracil-epirrubicina-ciclofosfamida na instituição é menor quando comparado ao esquema AC. Como a incidência de toxicidade cardiovascular com o uso do exclusivo de trastuzumabe é baixa, nos estudos clínicos prospectivos, com variação de 1% a 4%, comumente reversível se detectada precocemente e com boa resposta ao tratamento clínico, optamos por excluir as pacientes em seu uso. 21,22 Segundo os dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), as doenças oncológicas constituem, na atualidade, a segunda maior causa de mortes no mundo. 23 Os contínuos desenvolvimentos terapêuticos das últimas décadas permitiram aumento da sobrevida destes doentes. Os efeitos adversos causados pelos quimioterápicos, principalmente na área cardiovascular, passaram a constituir importante causa de morbimortalidade desta população. Estima-se que a taxa de mortalidade entre os doentes oncológicos que desenvolvem algum evento cardiovascular seja elevada, com valores superiores a 60% quando avaliados dentro de 2 anos. Com isso, a doença cardiovascular tornou-se uma das principais causas de morbidade e mortalidade entre os sobreviventes de câncer. 24,25 723

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