ABC | Volume 111, Nº5, Novembro 2018

Minieditorial Exercícios de Alta Intensidade na Insuficiência Cardíaca com Fração de Ejeção Preservada High Intensity Exercises in Heart Failure with Preserved Ejection Fraction Artur Haddad Herdy 1,2 e Magnus Benetti 3 Instituto de Cardiologia de Santa Catarina, 1 Florianópolis, SC - Brasil Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL), 2 Florianópolis, SC - Brasil Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), 3 Florianópolis, SC – Brasil Minieditorial referente ao artigo: Vasodilatação e Redução da Pressão Arterial Sistólica após uma Sessão de Treinamento Intervalado de Alta Intensidade em Pacientes com Insuficiência Cardíaca com Fração de Ejeção Preservada Correspondência: Artur Haddad Herdy • Rua Newton Ramos, 91, Apt 601-A. CEP 88015-395, Centro, Florianópolis,. SC – Brasil E-mail: arherdy@cardiosport.com.br Palavras-chave Insuficiência Cardíaca; Volume Sistólico; Obesidade; Exercício; Terapia por Exercício; Exercícios Respiratórios. DOI: 10.5935/abc.20180225 Introdução A insuficiência cardíaca com fração de ejeção preservada (ICFEP) compreende uma série de patologias que cursam com variados graus de dispneia, elevadas pressões de enchimento, alterações estruturais ou diastólicas e muita limitação aos exercícios. 1 A ICFEP pode representar até 50% dos casos de internação por insuficiência cardíaca (IC) descompensadas. 2 A hipertensão e a obesidade são condições frequentemente associadas a ICFEP e o manejo adequado destas duas patologias são essenciais para o tratamento desta síndrome. Uma das principais características dos pacientes com ICFEP, é a intolerância aos esforços em variados graus e por mecanismos diversos. 3 Os exercícios figuram entre as principais medidas terapêuticas para o tratamento da ICFE reduzida e ICFEP, mostrando-se como importantes agentes na redução da morbimortalidade desses pacientes. 4-6 Dentre os benefícios do treinamento aeróbio em pacientes com ICFEP pode-se destacar a melhora da função endotelial e a rigidez arterial contribuindo para melhora da dinâmica cardiovascular e sintomas dessa patologia. 7 Os programas de treinamento físico oferecidos para pacientes com IC em serviços de reabilitação cardíaca envolvem, principalmente, exercícios aeróbicos complementados por exercícios de força, alongamentos e em alguns casos exercícios respiratórios. 1 Os exercícios aeróbicos podem ser contínuos, de moderada intensidade ou intervalados com alta e baixa intensidade. O treinamento intervalado de alta intensidade (HIIT), é hoje um dos métodos mais eficazes para melhorar a função cardiorrespiratória e metabólica. O HIIT envolve atividades repetidas, curtas a longas, de exercícios de alta intensidade intercaladas com períodos de recuperação ativa ou passiva. 8 Kiviniemi et al., 9 relataram recentemente que o HIIT é superior ao treinamento aeróbico contínuo tradicional na melhora da função autonômica cardíaca e sugeriram que o efeito verificado na função autonômica pós-HIIT estava relacionada a uma melhor modulação do barorreflexo e controle vagal. 9 Existem várias adaptações potenciais que explicam as mudanças positivas induzidas pelo HIIT no funcionamento autonômico do coração. Um dos potenciais mecanismos relacionados a melhora do tônus vagal cardíaco induzido pelo HIIT pode ser a angiotensina II. A angiotensina II inibe a atividade vagal cardíaca. Indivíduos sedentários ou fisicamente inativos têm maior atividade da renina plasmática quando comparado a pessoas que se exercitam. O exercício causa a supressão da angiotensina II, que pode, até certo ponto, mediar o aumento do tônus vagal cardíaco. 10 Pesquisas também sugeriram que o HIIT induz o aumento da sensibilidade do barorreflexo e a redução da rigidez arterial. 11 Comentários sobre o estudo atual Neste interessante estudo, desenhado para a avaliação dos efeitos agudos de uma única sessão de exercício intervalado de alta intensidade, Lima et al. 12 estudaram as modificações pós treino na pressão arterial (PA) e função endotelial de 16 pacientes com ICFEP. Como principais resultados, foi possível demonstrar um aumento significativo no diâmetro da artéria braquial com correspondente redução na PA sistólica. Esses achados sinalizam para o potencial benefício deste tipo de treinamento para pacientes com ICFEP, com melhora dos níveis pressóricos e efeito benéfico talvez na função ventricular. Embora os autores não tenham encontrado modificações significativas no índice de dilatação fluxomediado, essa medida tem sido alvo de questionamentos sobre sua real importância e interpretação. 13 A redução da PA após as sessões de exercícios tende a se prolongar por horas, atuando como potentes adjuvantes aos efeitos vasodilatadores dos anti-hipertensivos, que comumente são utilizados na ICFEP. A otimização do controle da PA está entre as principais metas para melhora dos sintomas na ICFEP, e os exercícios são fundamentais para esse objetivo e melhora da função diastólica. 14 Limitações e conclusões Esse experimento utilizou apenas um grupo de treinamento, sem um grupo controle para melhor definição dos efeitos e menor chance de viez na avaliação dos resultados. Apesar do número de pacientes ter sido pequeno, os resultados positivos estimulam futuras pesquisas mais bem desenhadas, com um número maior de indivíduos para se definir o papel dessa modalidade de treinamento na ICFEP. Esses pacientes têmmuita limitação aos exercícios e estratégias que melhorem a PA e a função diastólica tem grande potencial de benefícios namelhora da classe funcional e provável redução de morbimortalidade. 708

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