ABC | Volume 111, Nº5, Novembro 2018

Minieditorial Ansiedade e Depressão após Infarto do Miocárdio: Fatores Inflamatórios podem estar Envolvidos? Anxiety and Depression after Myocardial Infarction: Can Inflammatory Factors be Involved? João Manoel Theotonio dos Santos Escola de Ciências da Saúde - Curso de Medicina - Universidade Anhembi Morumbi, São José dos Campos, SP – Brasil Minieditorial referente ao artigo: Diferenças por Sexo na Ansiedade e Depressão após Infarto Agudo do Miocárdio Correspondência: João Manoel Theotonio dos Santos • Universidade Anhembi Morumbi - Laureate International Universities - Av. Deputado Benedito Matarazzo, 4050. CEP 12242-210, Parque Residencial Aquarius, São José dos Campos, SP – Brasil E-mail: joao.theotonio@cardiovale.com.br Palavras-chave Infarto do Miocárdio; Ansiedade; Depressão; Fatores de Risco; Identidade de Gênero; Inflamação; Proteína C Reativa. DOI: 10.5935/abc.20180233 Este interessante artigo publicado por Serpytis et al., 1 avaliou a presença de depressão e transtornos de ansiedade após infarto agudo do miocárdio, e as diferentes formas de apresentação e prevalência conforme o sexo e a idade dos pacientes. Os autores observaram, em um período de até 31 dias após o infarto agudo do miocárdio, que mais de dois terços dos pacientes apresentaram depressão e/ou transtornos de ansiedade. As mulheres tiveram uma prevalência maior que os homens destas comorbidades e, também tenderam a ter apresentações mais graves tanto de depressão quanto de transtornos de ansiedade. Adicionalmente, nos homens, a depressão foi mais grave e o transtorno de ansiedade foi menos grave a medida em que tinham idade mais avançada; enquanto nas mulheres estas comorbidades tiveram uma apresentação linear, quanto a gravidade, independentemente do fator idade. 1 Outros pontos interessantes foram que os homens diabéticos e/ou sedentários tiveram um maior escore de depressão, enquanto os homens tabagistas tiveram um maior escore de ansiedade. Quanto à hipercolesterolemia, observou-se que as mulheres apresentaram maiores escores para depressão e transtorno de ansiedade, o que não ocorreu com os homens. Também, em relação aos fatores de risco para doença arterial coronária, o sedentarismo foi associado aos maiores escores de depressão e transtorno de ansiedade entre as mulheres. Finalmente chamou a atenção o fato de que a hipertensão arterial sistêmica e o índice de massa corporal, não estiveram associados, de maneira alguma, à presença de depressão e/ou transtorno ansioso. Diante dos dados aqui apresentados, apesar das limitações já descritas pelos autores, podemos dizer que a depressão e transtorno de ansiedade têm alta prevalência nos 31 dias subsequentes ao infarto agudo do miocárdio. 1 Dados de literatura nos mostram que a associação de alguns fatores de risco para a doença arterial coronária, como diabetes mellitus, hipercolesterolemia, tabagismo e sedentarismo, vêm sendo estudada nas últimas duas décadas e os estudos são concordantes no que diz respeito a estarem associados a depressão e transtorno de ansiedade nestes pacientes. 2-6 Com relação ao mecanismo que poderia desencadear a depressão e transtorno de ansiedade após infarto agudo do miocárdio pode ser explicado como uma forma de estresse pós-traumático em que o indivíduo acometido por uma doença que o coloca em risco de morte iminente, além de fazê-lo pensar em como será sua vida após este evento clínico, como mudanças nos hábitos, possíveis sequelas e limitações às atividades da vida diária. A experiência da doença pode precipitar sentimentos e reações estressantes que incluem quadros de depressão e transtorno de ansiedade. 7,8 Adicionalmente, nos últimos anos, na busca de novos conceitos para entender o desenvolvimento da depressão, e assim desenvolver melhores tratamentos, pesquisas demonstraram a participação do sistema imunológico, em particular, a resposta inflamatória como um contribuinte potencialmente importante para a fisiopatologia da depressão. 9 É curioso saber que estes fatores inflamatórios como por exemplo a Proteína C-reativa, TNF-alfa e Interleucina-6 estão elevados também na fase aguda do infarto do miocárdio. 10 Por fim, nos chama muito a atenção o fato de duas doenças com forte relação com fatores inflamatórios aparecerem de forma concomitante e com a prevalência aqui apresentada. Esperamos que novos estudos sejam desenhados com o objetivo específico de elucidar esta curiosa associação. 684

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