ABC | Volume 111, Nº5, Novembro 2018

Artigo Original Serpytis et al Ansiedade e depressão após infarto do miocárdio Arq Bras Cardiol. 2018; 111(5):676-683 Introdução Em 2020, prevê-se que a depressão seja a segunda maior causa de incapacidade e mortalidade no mundo, sendo superada apenas pela doença cardíaca isquêmica (OMS). O infarto domiocárdio [IM] é um evento grave, potencialmente fatal, acompanhado por um risco aumentado de depressão e ansiedade. 1,2 Uma metanálise recente que explorou o efeito das interações dos fatores de risco sobre a mortalidade por todas as causas em pacientes com IM concluiu que as mulheres apresentam desfechos piores de doença arterial coronariana [DAC] em relação aos homens, com mais mulheres (17%) do que homens (12%) morrendo no período de 3 anos após o primeiro infarto do miocárdio. 3 Além disso, maiores taxas de mortalidade hospitalar após o IM agudo também têm sido demonstradas em mulheres (16%) do que em homens (11%). 4 As diferenças entre os sexos são evidentes no IM induzido por estresse mental ao avaliar proxies de laboratório, sendo maior a prevalência emmulheres do que em homens, 5 principalmente em mulheres com 50 anos de idade ou mais jovens. 6 Um estudo de caso-controle em larga escala demonstrou que sintomas depressivos pós-infarto do miocárdio estavam associados a um risco aumentado de mortalidade, enquanto os sintomas de ansiedade não eram um fator de risco prognóstico independente para novos eventos cardiovasculares ou morte. 7 Em contraste, outro estudo com 5.750 pacientes com infarto do miocárdio demonstrou que pacientes com ansiedade têm maior risco de eventos cardíacos adversos e mortalidade por todas as causas. 8 O risco de suicídio é mais alto no primeiro mês após a alta para infarto do miocárdio, tanto em pacientes sem histórico de doença psiquiátrica (razão de taxa ajustada – 3,25) quanto para pacientes com histórico de distúrbio psiquiátrico (razão de taxa ajustada – 64,05), comparando-se com aqueles sem histórico de IMou doença psiquiátrica. 7 O risco de suicídio permaneceu mais alto por pelo menos cinco anos após o infarto do miocárdio. 7 Embora a depressão pós-infarto do miocárdio seja uma condição comum e penosa, ela permanece subdiagnosticada e subtratada. 9,10 Há também poucas análises relacionadas ao sexo em relação às doenças cardiovasculares e distúrbios emocionais. 11 Portanto, objetivamos avaliar os níveis de depressão e ansiedade em pacientes com infarto do miocárdio e avaliar a associação entre os fatores de risco para doenças cardiovasculares, indicadores demográficos e distúrbios emocionais, bem como determinar se existem diferenças ou similaridades baseadas no sexo. Métodos Participantes e recrutamento Foram recrutados pacientes com infarto do miocárdio documentado, admitidos em uma instituição terciária de saúde no período de 1 de novembro de 2012 a 31 de maio de 2013. Os pacientes foram incluídos no estudo de acordo com os seguintes critérios de inclusão: 1. Possuir total compreensão das instruções da pesquisa; 2. Idade maior que 18 anos; 3. Ambos os sexos; 4. Ter o diagnóstico de infarto agudo domiocárdio verificado com base em dois dos três critérios padrão: dor torácica típica, dados do ECG, biomarcadores cardíacos elevados; 5. Tempo após o IM menor que 31 dias; 6. Conhecimento da língua lituana; 7. Concluir a pesquisa. Os critérios de exclusão foram: 1. Comprometimento cognitivo ou incapacidade física para completar a pesquisa; 2. Diagnóstico de depressão ou distúrbio de ansiedade antes do IM; 3. Uso de antidepressivos ou benzodiazepínicos antes do IM; 4. Recusa do paciente; 5. Participação em outro estudo. Dos 180 pacientes recrutados, um total de 160 pacientes preencheram os critérios de inclusão e foram avaliados. Esta pesquisa incluiu questões demográficas (sexo, idade), características clínicas e questões sobre fatores de risco para doença cardiovascular: diabetes mellitus, hipertensão arterial, hipercolesterolemia, tabagismo, hipodinamia e obesidade. Além disso, a Escala Hospitalar de Ansiedade e Depressão [HADS, do inglês Hospital Anxiety and Depression Scale ] 12 foi utilizada para determinar a sintomatologia da ansiedade e depressão. A escala contém 14 itens: sete para avaliar a ansiedade e sete para avaliar a depressão. O escore é interpretado de acordo com a seguinte variação: 0 a 7 – sem depressão ou distúrbio de ansiedade; 8 a 10 – depressão ou distúrbio de ansiedade leve; 11 a 14 – distúrbio moderado; e 15 a 21 – distúrbio grave. A especificidade da subescala de ansiedade (HADS-A) é 0,78 e a sensibilidade é 0,9, enquanto a especificidade da subescala de depressão (HADS-D) é 0,79 e a sensibilidade é 0,83. 12 O estudo foi autorizado pelo Comitê de Ética em Pesquisa Biomédica Regional (número de permissão 158200-04-301-78, 2011-04-06). Análise estatística A análise foi conduzida com a utilização do software SPSS (IBM Corp. released 2011. IBM SPSS Statistics for Windows. Versão 20.0. Armonk, NY: IBM Corp). O teste de normalidade de Shapiro-Wilk foi realizado para verificar a premissa da normalidade. As variáveis categóricas foram comparadas utilizando o teste χ 2 . A análise de regressão logística binária e o teste χ 2 foram utilizados para variáveis categóricas para avaliar o odds ratio [OR] para a presença de depressão e ansiedade associadas ao sexo. Para avaliar as variáveis contínuas foram utilizados o teste t para amostras independentes, quando a distribuição das variáveis foi normal, e o teste de Mann‑Whitney-Wilcoxon, quando as variáveis estavam distribuídas de forma não-normal. As variáveis contínuas com distribuição normal são expressas como média (média ± desvio padrão), enquanto aquelas com distribuição não-normal são expressas como mediana e intervalo interquartil (IIQ, Q1 – Q3). A correlação foi avaliada utilizando o coeficiente de correlação de postos de Spearman ( ρ ). Todos os testes estatísticos foram bilaterais, e valores de p < 0,05 foram considerados estatisticamente significativos. 677

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