ABC | Volume 111, Nº5, Novembro 2018

Contraponto Izar Flexibilização do jejum: ciência ou conveniência Arq Bras Cardiol. 2018; 111(5):750-752 variaram 8 mg/dL, enquanto o HDL-c, a apolipoproteína A1, a apolipoproteína B e a lipoproteína (a) não foram afetados pelo estado de jejum/sem jejum. Estes dados foram derivados dos estudos Women’s Health Study , Copenhagen General Population Study , National Health and Nutrition Examination Survey e os Serviços Laboratoriais de Calgary, no Canadá. 14,16-19 Entre todos os estudos, foram observados apenas pequenos aumentos nos níveis de triglicérides plasmáticos e pequenas diminuições nas concentrações de CT e LDL, em condições de não jejum, sem alterações nas concentrações de HDL-c. Em indivíduos com diabetes, o LDL-c calculado, obtido 1 a 3 horas após a refeição, apresentou diminuição de 23 mg/dL e poderia implicar em suspensão da estatina. No entanto, quando corrigida para os níveis de albumina, refletindo a ingestão de líquidos, a diferença desapareceu e foi atribuída ao fluido − e não à dieta. 20 Em segundo lugar, vivemos a maior parte do nosso tempo em estado de não jejum. As concentrações lipídicas sem jejum e em jejum variam de maneira similar ao longo do tempo e são pelo menos equivalentes na predição de doença cardiovascular. De fato, dados dos Serviços Laboratoriais de Calgary demonstraram que em aproximadamente 200 mil homens e mulheres, o CT, o HDL e o LDL-c não variavam em função do período de jejum após a última refeição. 17 Terceiro, os valores dos níveis de lipídeos, lipoproteínas e apolipoproteínas plasmáticas de referência baseados em pontos de corte de concentrações desejáveis não variam quando sem jejum, exceto pelos níveis de triglicérides, que devem ser marcados como anormais em laudos laboratoriais quando > 175 mg/dL. No entanto, triglicérides sem jejum foram melhores preditores do que no estado de jejum. 7 Quarto, o risco de doença cardíaca isquêmica e infarto do miocárdio em 92.285 indivíduos do Copenhagen General Population Study recrutados de 2003 a 2014 pode ser predito por níveis lipídicos sem jejum (relatados por Nordestgaard et al. 7 ). Quinto, um novo método para estimar a LDL-C utilizando um fator ajustável para a relação triglicerídeos/VLDL-c forneceu uma classificação de risco mais precisa do que a equação de Friedewald. 21 Os autores utilizaram uma grande amostra de conveniência de perfis lipídicos clínicos consecutivos obtidos de 2009 a 2011 (n = 1.350.908), incluindo crianças, adolescentes e adultos nos Estados Unidos). A amostra foi aleatoriamente atribuída a conjuntos de dados de derivação (n = 900.605) ou de validação (n = 450.303). Os resultados foram parecidos com os do National Health and Nutrition Examination Survey (NHANES). Este método de avaliação forneceu estimativas com maior fidelidade do que a equação de Friedewald. A maior melhora na concordância ocorreu ao se classificar o LDL-c abaixo de 70 mg/dL, especialmente em pacientes com altos níveis de triglicérides. De fato, há necessidade de validação externa e avaliação de sua importância clínica. No entanto, este novo método poderia ser implementado na maioria dos sistemas de laudos laboratoriais praticamente sem custo. Finalmente, qual seria o problema em adicionar conveniência à ciência? As medidas pós-prandiais são mais práticas e proporcionam ao paciente maior acesso ao laboratório, além de diminuir o número de perda de dias de trabalho e consultas médicas devido a testes perdidos. A coleta de sangue no estado pós-prandial é mais segura em várias circunstâncias e ajuda a prevenir a hipoglicemia secundária ao uso de insulina em pacientes com diabetes melito, em gestantes, crianças e idosos, reduzindo complicações e aumentando a adesão aos exames e às consultas médicas. A flexibilização do jejum para o perfil lipídico pode trazer mais conforto ao paciente e maior amplitude de horários nos laboratórios, principalmente no período da manhã. Ainda, os avanços tecnológicos emmétodos diagnósticos podemmitigar a interferência de turbidez da amostra quando os níveis de triglicérides forem altos. 22 Se o jejum não for rotineiramente requerido para a análise do perfil lipídico plasmático, algumas recomendações devem ser feitas em situações específicas: (1) quando a concentração plasmática de triglicérides sem jejum exceder 440 mg/dL, deve-se considerar a repetição do perfil lipídico em jejum; (2) os laudos de laboratório devem sinalizar valores anormais, com base em pontos de corte desejáveis; (3) concentrações potencialmente fatais ou extremamente altas devem implicar em encaminhamento imediato para uma clínica de lipídeos ou para um médico com interesse especial em lipídeos. 7,22 Contribuição dos autores Concepção e desenho da pesquisa, Obtenção de dados, Análise e interpretação dos dados, Análise estatística, Redação do manuscrito e Revisão crítica do manuscrito quanto ao conteúdo intelectual importante: Izar MCO. Potencial conflito de interesses Declaro não haver conflito de interesses pertinentes. Fontes de financiamento Opresente estudo não teve fontes de financiamento externas. Vinculação acadêmica Nãohá vinculaçãodesteestudoaprogramas depós-graduação. 751

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