ABC | Volume 111, Nº5, Novembro 2018

Ponto de Vista Cordova e Galgowski Flexibilização do jejum: ciência ou conveniência Arq Bras Cardiol. 2018; 111(5):747-749 de vários analitos que são influenciados pelas refeições, como hemograma, hemoglobina, albumina, bilirrubina, fosfato, cálcio, magnésio, potássio, 8 insulina, hormônio do crescimento, glucagon, cloreto, pH urinário e também aqueles afetados por variações diurnas, como Hormônio Adrenocorticotrófico (ACTH), catecolaminas, Hormônio Estimulante da Tireoide (TSH), Paratormônio (PTH), renina, aldosterona, Alanina (ALT), Aspartato Aminotransferase (AST), fosfatase alcalina, nitrogênio ureico e ferro, 9 para citar alguns. Como foi dito anteriormente, 10 em Medicina de laboratório clínico, nenhuma amostra seria preferível a uma amostra ruim, se alguém deseja alcançar padrões rigorosos, ao fornecer aos médicos informações laboratoriais confiáveis. O impacto geral da amostra de sangue proposta coletada sem jejum sobre a eventual rejeição das amostras do paciente ainda não foi determinada, devido à presença de outros exames laboratoriais solicitados que precisam de jejum e/ou coleta matinal. E quinto, finalmente, a fórmula de Martin sugerida ainda usa TG em seus cálculos, um parâmetro que tem sido demonstrado por muitos autores como não estando correlacionado com LDL-colesterol ou CT. Martin et al., 2 fizeram um enorme esforço matemático para alcançar um resultado satisfatório para incluir TG no cálculo. E, o mais importante, esta equação precisa ser validada ou, pelo menos, avaliada em outras populações, antes de ser universalmente recomendada. Por exemplo, a fórmula de Martin proposta, assim como a nossa, foi avaliada em comparação com as novas fórmulas propostas para estimativa de LDL-colesterol no Irã, e a primeira demonstrou não agregar valor às estimativas em uma pequena coorte. 11 De qualquer forma, a LDL-colesterol continua sendo um parâmetro frequente solicitado em laboratórios clínicos na rotina médica e, provavelmente, continuará sendo assim. Portanto, métodos precisos para sua estimativa são necessários quando sua medição direta não está disponível. Uma equação simples e precisa, desenvolvida e avaliada na população brasileira, já foi desenvolvida. 12 Deve-se notar que essa equação funciona igualmente bem, por exemplo, em populações da Alemanha e do Reino Unido, 13 mas não tão bem em outras, como na África do Sul, 14 Espanha 15 e Tailândia. 16 Parece que o debate sobre qual método utilizar para a determinação da LDL-colesterol em cada população em particular do globo está mais aberto do que definido. 17 Infelizmente, a história está repleta de exemplos que demonstram que quando os interesses corporativos vão de encontro à ciência deficiente, os únicos perdedores são a própria ciência e o cuidado com o paciente. É aparente e digno de preocupação que o “consenso” brasileiro tenha recomendado o uso de uma equação para a estimativa de LDL-colesterol que não foi validada na população local, e que foi movido por razões que são dirigidas mais por conveniência do que por uma ciência rigorosa e imparcial. Contribuição dos autores Concepção e desenho da pesquisa: Cordova CMM; Obtenção de dados, Análise e interpretação dos dados e Revisão crítica do manuscrito quanto ao conteúdo intelectual importante: Cordova CMM, Galgowski C; Redação do manuscrito: Galgowski C. Potencial conflito de interesses Declaro não haver conflito de interesses pertinentes. Fontes de financiamento Opresente estudo não teve fontes de financiamento externas. Vinculação acadêmica Nãohá vinculaçãodesteestudoaprogramas depós-graduação. 1. Sociedade Brasileira de Patologia Clínica –Medicina Laboratorial. SBPC-ML Necessidade de jejum para coleta de sangue para a realização de exams laboratoriais. [Citado em 2016 dez 10. Disponível em: http://www.sbpc . org.br/upload/conteudo/consenso_jejum_dez2016_final.pdf 2. Martin SS, BlahaMJ, ElshazlyMB, Toth PP, Kwiterovich PO, Blumenthal RS, et al. Comparison of a novel method vs the Friedewald equation for estimating low-density lipoprotein cholesterol levels from the standard lipid profile. JAMA. 2013;310(19):2061-8. 3. Nordestgaard BG, Langsted A, Mora S, Kolovou G, Baum H, Bruckert E, et al; European Atherosclerosis Society (EAS) and the European Federation of Clinical Chemistry and Laboratory Medicine (EFLM) joint consensus initiative. Fasting is not routinely required for determination of a lipid profile: clinical and laboratory implications including flagging at desirable concentration cut-points-a joint consensus statement from the European Atherosclerosis Society and European Federation of Clinical Chemistry and Laboratory Medicine. Eur Heart J. 2016;37(25):1944-58. 4. Boekholdt SM, Arsenault BJ, Mora S, Pedersen TR, LaRosa JC, Nestel PJ, et al. Association of LDL cholesterol, non-HDL cholesterol, and apolipoprotein B levels with risk of cardiovascular events among patients treated with statins. JAMA. 2012;307(12):1302-9. Erratum in: JAMA. 2012;307(18):1915. 5. Mora S, Rifai N, Buring JE, Ridker PM. Fasting compared with nonfasting lipids and apolipoproteins for predicting incident cardiovascular events. Circulation. 2008;118(10):993-1001. 6. Mora S, Rifai N, Buring JE, Ridker PM. Comparison of LDL cholesterol concentrationsbyFriedewaldcalculationanddirectmeasurement inrelation to cardiovascular events in 27,331women. ClinChem. 2009;55(5):888-94. 7. Catapano AL, Reiner Z, De Backer G, Graham I, Taskinen MR, Wiklund O, et al; European Society of Cardiology (ESC); European Atherosclerosis Society (EAS). ESC/EAS Guidelines for the management of dyslipidaemias The Task Force for the management of dyslipidaemias of the European Society of Cardiology (ESC) and the European Atherosclerosis Society (EAS). Atherosclerosis. 2011;217(1):3-46. 8. Guidi GC, Simundic AM, Salvagno GL, Aquino JL, Lima-Oliveira G. To avoid fasting time, more risk than benefits. Clin Chem Lab Med. 2015;53(10):e261-4. 9. Young DS, Bermes EW Jr. Preanalytical variables and biological variation. In: Burtis CA, Ashwood ER, Bruns DE. (editors). Tietz textbook of clinical chemistry and molecular diagnostics. 4 th ed. St Louis: Elsevier; 2006. p. 449-84. Referências 748

RkJQdWJsaXNoZXIy MjM4Mjg=