ABC | Volume 111, Nº5, Novembro 2018

Artigo de Revisão Silva et al miRNAs e doença cardiovascular Arq Bras Cardiol. 2018; 111(5):738-746 ribonucleico (RNA) em cadeia simples, não codificantes, com aproximadamente 22 nucleotídeos (nt). Atuam como reguladores da expressão gênica em plantas e animais ao nível pós-transcricional, pela clivagem de um RNA mensageiro (RNAm) alvo ou da repressão de sua tradução. 7 O primeiro miRNA (lin-4) foi descrito em 1993 pelo grupo de Rosalind Lee, estando ele associado à regulação do desenvolvimento larval de Caenorhabditis elegans ( C. elegans ). Lin-4 regulava negativamente o nível da proteína LIN-14 (da primeira fase larvar), diminuindo sua expressão ao longo do tempo. 1 A biogênese de um miRNA começa com a síntese de um longo transcrito primário conhecido como pri-miRNA (~110pb) (Figura 1). Os pri-miRNAs são transcritos pelas RNAs polimerase II ou III 8 e possuem uma estrutura de hairpin (“grampo de cabelo”), que é essencial para o reconhecimento das enzimas de processamento de miRNAs. No núcleo, o pri‑miRNA é processado em pré-miRNA (~70pb) pela ação da enzima Drosha 9 que reconhece e cliva as extremidades de pequenas estruturas de RNA em forma de hairpin . 10 Após o processamento nuclear, cada pré-miRNA é exportado para o citoplasma através da proteína Exportina 5. 11 O pré-miRNA é reconhecido pela enzima Dicer que cliva a região do loop , resultando em uma molécula de dupla fita de RNA (dsRNA; ~22pb). Esse processo recruta proteínas da família argonauta (Ago) para formar o complexo de silenciamento induzido por RNA (RISC). 12 O RISC se liga a uma das duas fitas do dsRNA para gerar o miRNA maduro (miR canônico ou miR-5p) que atua na regulação de um RNAm alvo. 13 A outra fita (miR* ou miR-3p) é degradada ou capaz de formar outro RISC e realizar a regulação de outro RNAm alvo. 14 O pareamento perfeito entre o miRNA e a região 3' UTR do RNAm alvo promove a clivagem do RNAm e o seu posterior encaminhamento para os p-bodies (do inglês, mRNA processing bodies ) para a sua consequente degradação. 15 Por outro lado, o pareamento parcial entre o miRNA e a região 3’ UTR do mRNA promove inibição da tradução, o principal mecanismo de atuação dos miRNAs em mamíferos. 16 Por meio desse pareamento, o miRNA tem a capacidade de inibir a tradução, interferindo diretamente com os fatores de iniciação da tradução ou perturbando a função da cauda poli-A. 17 A localização primária dos miRNAs é o citoplasma celular, 8 embora alguns estudos confirmem o ingresso dessas moléculas no sistema circulatório, possivelmente devido ao processo de lise celular. 18 Assim, os miRNAs também estão presentes na circulação sanguínea e diversos estudos mostram sua alta estabilidade no meio extracelular. A proteção dos miRNAs à degradação no meio extracelular seria devido à sua ligação a proteínas (p. ex., lipoproteínas) ou pelo seu encapsulamento emmicrovesículas e exossomas. Assim, os miRNAs podem ser detectados de forma confiável em amostras plasmáticas, sendo apontados como potenciais biomarcadores no diagnóstico das DCVs. 19 O fato dos miRNAs serem sequências pequenas e agirem sem a necessidade de pareamento completo faz com que um único miRNA possa ter como alvo dezenas de RNAm, assim como um único RNAm pode ser alvo de múltiplos miRNAs, gerando assim um grande poder regulatório da expressão genética. 20 miRNAs como biomarcadores circulantes Estudos apontam que o nível circulante de miRNAs está alterado em algumas DCVs, despertando assim o interesse em seu uso como ferramenta de diagnóstico clínico e prognóstico, Figura 1 – Síntese do miRNAe sua ação sobre o RNAmensageiro. O pri-miRNAem forma de grampo é sintetizado no núcleo e convertido a pre-miRNApela ação da enzima Drosha, sendo então exportado do núcleo pela Exportina 5. No citoplasma, o pre-miRNA sofre ação da enzima DICER e a união do complexo de silenciamento induzido por RNA (RISC) à dupla fita de RNA (dsRNA) gera o miRNAmaduro. O miRNAmaduro se anela ao RNAm alvo, promovendo a sua degradação ou inibindo a sua tradução. 739

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