ABC | Volume 111, Nº4, Outubro 2018

Artigo Original Nascimento et al Dissincronismo Eletromecânico e Gated Spect na TRC Arq Bras Cardiol. 2018; 111(4):607-615 Tabela 1 – Características gerais basais dos pacientes submetidos ao implante do ressincronizador. Características demográficas n ou média ± DP Total de pacientes 15 Idade (anos) 63,21 ± 7,7 IMC (kg/m 2 ) 26,92 ± 5,4 Sexo masculino 4 Diabetes mellitus 6 Hipertensão 9 Dislipidemia 8 Tabagismo 0 Doença coronariana prévia 7 Infarto prévio 7 CRVM 2 PCI 0 Classe funcional NYHA II 1 Classe funcional NYHA III 7 Classe funcional NYHA IV 5 Betabloqueador 13 Inibidor da enzima conversora da angiotensina 8 Bloqueador do receptor de angiotensina 7 Ácido acetilsalicílico 2 Diurético 8 Estatina 5 Antagonista da Aldosterona 8 Digoxina 4 IMC: índice de massa corpórea; CRVM: cirurgia de revascularização miocárdica; ICP: intervenção coronariana percutânea. Resultados Foram incluídos 15 pacientes no período de julho 2014 a agosto de 2016 com perda de seguimento de 2 pacientes por óbito (Tabela 1). Os pacientes foram acompanhados durante um tempo médio de 193 ± 16 dias. A análise do intervalo QRS demonstrou que todos tinham duração maior que 150ms com morfologia de BRE. Observamos redução significativa tanto da duração do QRS (212 ms vs 136 ms; p < 0,001) como do intervalo PR (IPR: 179 ms vs 126 ms; p < 0,001) após a TRC. O intervalo QT não apresentou modificação após a TRC. O impacto da TRC na qualidade de vida foi registrado através do MLHFQ, com resposta significativa (p = 0,0002) ao compararmos a média de pontuação antes e após a TRC (Figura 1). Quando analisado com a HBW, como visto na Figura 2, observamos também que quanto maior a duração do QRS, maior o valor da HBW. Isso demonstra que a HBW e o SD também têm uma relação direta, pois têm bom coeficiente de correlação linear conforme demonstrado na Figura 3. O grupo de pacientes que apresentou melhora significativa da FEVE após 6 meses de TRC (6 pacientes) teve uma FEVE pré-TRC menor do que a dos não respondedores (7 pacientes) (Figura 4). Ao analisarmos parâmetros eletrocardiográficos associados à resposta clínica ao ressincronizador, observamos que o IPR emms apresentou redução significativa no grupo respondedor (p < 0,0001), enquanto que não alcançou significância no grupo não respondedor (p = 0,09). Esse dado é influenciado pela necessidade de estimulação ventricular constante na TRC, o que normalmente leva a IPR mais reduzidos. Ao classificar os pacientes em respondedores e não respondedores, observamos que os valores de SD e HBW foram mais elevados para os respondedores do que para os não respondedores. A diferença entre a HBW dos dois grupos apresentou significância estatística usando o teste t de Student (Figura 5). Em nosso seguimento, tivemos 2 pacientes que não apresentavam dissincronismo mecânico previamente ao implante do ressincronizador, e que na reavaliação após 6meses passarama figurar no grupo de não respondedores. Sendo assim, podemos deduzir que os pacientes com dissincronismo elétrico exclusivo não respondem cintilograficamente à TRC por não apresentarem alteração sugestiva de dissincronismo mecânico nos exames basais. Da mesma forma, pacientes com acentuado dissincronismo mecânico e alterações nos exames basais demonstrammelhora acentuada dos parâmetros cintilográficos após TRC, principalmente da HBW. Do grupo de pacientes respondedores, 77,7% tiveram o eletrodo implantado em região lateral, 11,1% em região póstero-lateral e 11,1% em região póstero-septal (Figura 6). A exequibilidade do posicionamento do eletrodo do VE concordante com o último segmento a se contrair na avaliação do sincronismo pela cintilografia miocárdica foi alcançada em 54% dos casos (Figura 7 ilustra um implante concordante), sendo o principal motivo do insucesso da concordância a variabilidade anatômica das veias relacionadas ao seio coronariano, bem como a ausência de tributárias que alcançavam o sítio determinado pela cintilografia. Uma das pacientes analisadas apresentava o seio coronariano aneurismático, não sendo possível o ancoramento do eletrodo do seio coronariano, sendo convertido para implante do eletrodo de VE para via epicárdica, sendo então implantado no sítio de maior atraso para contração. Discussão O nosso estudo observou que a TRC leva à melhoria clínica dos pacientes e à redução do dissincronismo elétrico e mecânico. Apesar de a TRC estar associada com melhora de diversos parâmetros clínicos, nem todos os pacientes se beneficiam, sendo que maior duração do QRS no eletrocardiograma e aumento do SD e HBW na cintilografia forammarcadores de maior probabilidade de resposta clínica. Também observamos que o GATED SPECT foi capaz de identificar o último segmento miocárdico a se contrair, sítio ideal de implante do eletrodo ventricular esquerdo na TRC; porém, devido a limitações anatômicas, essa identificação levou a implante concordante em apenas 54% dos casos. 609

RkJQdWJsaXNoZXIy MjM4Mjg=