ABC | Volume 111, Nº4, Outubro 2018

Artigo Original Borges et al O manejo inadequado de antiagregantes plaquetários Arq Bras Cardiol. 2018; 111(4):596-604 Tabela 2 – Resultados das discordâncias com as recomendações da SBC para utilização de AAS ou clopidogrel em pré-operatório de cirurgias não cardíacas (n=161) em Hospital de alta complexidade, Aracaju, Sergipe, Brasil, 2014-2016 Terapia* Frequência n(%) De acordo 31(19,3) Em Desacordo Não suspendeu; era para suspender 30(18,6) Suspendeu; não era para suspender 37(23,0) Suspendeu; era para suspender, mas o tempo de suspensão foi superior ao recomendado 42(26,1) Suspendeu; era para suspender, mas o tempo de suspensão foi inferior ao recomendado 21(13,0) Total 161(100) AAS: ácido acetilsalicílico; SBC: Sociedade Brasileira de Cardiologia, (*)Terapia de acordo ou em desacordo com as recomendações para utilização de AAS ou clopidogrel em pré-operatório segundo a SBC. Assim, apesar da conduta de suspender o antiplaquetário ter sido correta, supõe-se que a suspensão do antiplaquetário por tempo superior ou inferior ao recomendado pelas diretrizes ocorreu porque não há protocolos assistenciais próprios da instituição hospitalar com este foco, de maneira que as divergências nas condutas reforçam a necessidade da definição de condutas internas, divulgação mais ampliada das diretrizes utilizadas como referência na instituição, e educação continuada. Checagem dupla de condutas conforme protocolos internos da instituição também podem ser uma opção importante para garantir a segurança do paciente. Outro dado importante deste estudo, e que chama a atenção, é que boa parte das terapias discordantes foram em decorrência dos pacientes terem sido orientados a suspender os antiagregantes, quando as diretrizes brasileiras orientam o contrário para os casos em que os pacientes fazem uso do AAS e Clopidogrel para prevenção secundária de DCV, 24,27 com ressalva para o Clopidogrel, que depende do risco hemorrágico do procedimento; 28 mas neste caso, todos os 5 pacientes que faziam uso deste medicamento, foram submetidos a cirurgias de baixo risco hemorrágico. Segundo alguns autores, o risco aumentado de sangramento relacionado ao efeito da ação antiplaquetária destes medicamentos é bem conhecido, 29,30 principalmente na população idosa, 31 que representa a maioria do nosso estudo. Continuação Tempo de uso do AAS ou clopidogrel 1-4 anos 72(44,7) 19,4 80,6 0,956 5 anos ou mais 89(55,3) 19,1 80,9 Especialidade do cirurgião Geral ou do sistema digestório 67(41,6) 80,6 19,4 0,770 Urologista 11(6,8) 16,1 83,2 Ortopedista 24(14,9) 83,3 16,7 Outros 59(36,7) 78,0 22,0 AAS: ácido acetilsalicílico; SBC: Sociedade Brasileira de Cardiologia; (*) Terapia de acordo ou em desacordo com as recomendações para utilização deAAS ou clopidogrel em pré-operatório, segundo a SBC; (†) Índice de Massa Corporal = (peso em Kg) : (altura em metros) 2 ; (‡) Número de doenças documentadas no prontuário e confirmadas pelo paciente no dia da admissão para cirurgia; (#) histórico de intervenção coronária percutânea ou revascularização cirúrgica; (§) Obtido pelo qui‑quadrado de Pearson, significativo quando < 0,05. No entanto, outros estudos, assim como as orientações da SBC (2013), com exceção para as neurocirurgias e ressecção transuretral de próstata, defendem que os benefícios da prevenção secundária excedem substancialmente os riscos hemorrágicos que estes medicamentos podem causar, 13,24,27 uma vez que o IAM é a principal causa de óbitos em idoso após cirurgias não cardíacas. 32 O sucesso da cirurgia depende da aptidão e da habilidade técnica do cirurgião, da indicação e do preparo prévio, do manejo e do cuidado perioperatório dimensionando os riscos, prevenindo e tratando complicações. 33 Ou seja, o cirurgião opera buscando evitar ao máximo a ocorrência de complicações cirurgias durante o procedimento, dentre elas destaca-se a complicação geral, que tem como exemplo universal, a hemorragia. 34 Tais afirmativas podem justificar o resultado do presente estudo, pois a especialidade médica que representou a maioria dos resultados discordantes com as diretrizes foi a de cirurgia. Quanto à associação às características dos pacientes, observou-se que os pacientes comnível superior de escolaridade, e aqueles que já tiveram em algum momento episódio de IAM, possuem uma chance maior de utilizar a terapia antiplaquetária em pré-operatório de cirurgias não cardíacas em concordância com a SBC (2013). Não foram encontrados na literatura estudos com estes tipos de associações. 600

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