ABC | Volume 111, Nº4, Outubro 2018

Minieditorial A Rosuvastatina Diminui a Formação de Neoíntima por Aumento de Apo J, Reduzindo a Reestenose após Lesão com Balão em Ratos Rosuvastatin Decreases the Formation of Neointima by Increasing Apo J, Reducing Restenosis after Balloon Injury in Rats Paulo Magno Martins Dourado Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo - Instituto do Coração (InCor) - Laboratório de Hipertensão Experimental, São Paulo, SP - Brasil Minieditorial referente ao artigo: Efeitos da Rosuvastatina sobre Apolipoproteína J em Artérias de Ratos Lesionadas com Balão Correspondência: Paulo Magno Martins Dourado • Rua Apinajes, 969, apto. 21. CEP 05017-000, Perdizes, São Paulo, SP – Brasil E-mail: pmdourado@terra.com.br , pmagno@cardiol.br Palavras-chave Clusterina/genética; Ratos; Artérias Carótidas; Angioplastia; Intervenção Coronária Percutânea/tendências; Reestenose Coronária. DOI: 10.5935/abc.20180204 O estudo de Yang et al., 1 traz novas luzes sobre a ação da Apolipoproteína (Apo) J, também chamada de clusterina (CLU), uma glicoproteína heterodimérica composta por subunidades α e β , ligadas por uma ponte dissulfeto. 2,3 O gene que codifica a Apo J está localizado no cromossomo 8p21-p12, e codifica duas principais isoformas – CLU secretória (CLUs) e CLU nuclear (CLUn), 4 na reestenose após angioplastia transluminal carotídea percutânea (ATCP) por balão em um modelo experimental em ratos; este foi publicado nesta edição dos Arquivos Brasileiros de Cardiologia, pois existe uma controvérsia na literatura, se a Apo J, que se encontra elevada na aterosclerose e pós‑angioplastia, exerce um papel protetor ou promotor da reestenose. A Apo J está envolvida em diversos processos patológicos importantes no transporte dos lipídios e na diferenciação das células do músculo liso vascular (CMLV), incluindo a morte celular por apoptose, regulação do ciclo celular, adesão celular, remodelação tecidual, regulação do sistema imune e estresse oxidativo, exercendo um papel no desenvolvimento da aterosclerose clínica. 5,6 No processo de atenuar a aterosclerose, a Apo J pode promover a exportação de colesterol e fosfolipídios de células espumosas de macrófagos 7 e exibir ações citoprotetoras e anti-inflamatórias interagindo com muitas proteínas inflamatórias conhecidas que podem atuar na fase inicial de eventos cardiovasculares clínicos e podem exercer papel importante na mediação da doença aterosclerótica, como proteína C-reativa, paraoxonase e leptina 8 Há estudos relatando que a Apo J pode estimular a proliferação e a migração de CMLV e promove reestenose 9,10 e há estudos que revelaram que a superexpressão de CLUs pode inibir a migração e a proliferação de CMLV e inibir a apoptose celular. 11 Em vista destes resultados controversos, os autores procuraram elucidar o papel da Apo J na hiperplasia neointimal, usando a artéria carótida de ratos in vivo , com ou sem rosuvastatina. Os resultados do estudo aqui publicado sugerem que a rosuvastatina pode inibir a hiperplasia intimal devido à alta expressão de Apo J na fase de proliferação ativa e migração de CMLV, após lesão com balão em ratos. No presente estudo, os autores evidenciaram aumento da razão área íntima/média (I/M) após a lesão com balão que atingiu o valor máximo na quarta semana no grupo modelo; além disso, I/M estava aumentada na semana 2 e tal aumento cessou após administração de rosuvastatina. Estes resultados sugerem que a rosuvastatina pode reduzir significativamente o grau de hiperplasia intimal nas artérias carótidas lesionadas com balão em ratos. Os níveis do Ácido Ribonucleico mensageiro (mRNA) e da Apo J estavam aumentados nas artérias carótidas no grupo que utilizou a rosuvastatina quando comparados ao grupo modelo, atingindo o máximo na segunda semana, mais cedo que no grupo modelo, sugerindo que a rosuvastatina pode inibir a hiperplasia intimal pelo aumento de Apo J após lesão com balão em ratos. Portanto, a Apo J foi identificada como tendo um papel central no processo de migração, adesão e proliferação vascular, e que pode contribuir significativamente na reestenose após lesão vascular. Os resultados deste estudo mostraram que a Apo J pode ser um reagente de fase aguda após lesão com balão nas artérias carótidas de ratos; portanto, exerce um papel favorável, diminuindo o desenvolvimento da reestenose, que a despeito de todas as intervenções existentes permanece como um desafio a ser suplantado. A rosuvastatina, um potente inibidor da enzima HMG-CoA (hidroximetilglutaril-CoA) redutase, parece reduzir o espessamento neointimal após lesão endotelial vascular em ratos. Este estudo abre novas perspectivas ao evidenciar possíveis mecanismos envolvidos na gênese da reestenose pós intervenções percutâneas, abrindo caminhos para a realização de estudos clínicos que visem a estudar a ação da Apo J como um novo preditor e um alvo terapêutico na proteção do vaso pós-ATCP. 569

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