ABC | Volume 111, Nº3, Setembro 2018

Diretrizes Diretriz Brasileira de Insuficiência Cardíaca Crônica e Aguda Arq Bras Cardiol. 2018; 111(3):436-539 3.2. Planejamento de alta e transição do cuidado A hospitalização por descompensação de IC representa um período crítico na história natural da doença. Os registros BREATHE 15 e ADHERE 678 mostraram mortalidade hospitalar de 12 e 4%, respectivamente. Além disso, internação resulta em custos para o sistema de saúde e redução na qualidade de vida para o indivíduo. 681 Após a alta, o paciente com IC ainda permanece vulnerável. Estima-se que 50% são readmitidos em 90 dias, reiniciando novo ciclo, com mortalidade esperada de 30% em 1 ano. 2 A maioria dessas readmissões acontece precocemente, sendo 31,7% em 7 dias e 61% em 15 dias após a alta. Dessa forma, planejar a alta de maneira adequada é parte de uma hospitalização bem-sucedida e fundamental para manter o paciente estável ambulatorialmente. 681 O planejamento de alta e a transição de cuidados devem iniciar muito antes do momento da alta propriamente dito. É importante aproveitar o tempo em que o paciente está internado para que sejam realizadas intervenções clínicas e multidisciplinares, garantindo, além da compensação da doença, a identificação e a correção de fatores de risco para readmissão. Um modelo de sistematização de cuidados para alta hospitalar pode ser classificado em três etapas, conforme cores: vermelha, amarela e verde. Na etapa vermelha, estão os pré-requisitos clínicos, que devem ser atingidos com o objetivo de compensar a doença e atingir o melhor equilíbrio hemodinâmico possível. Na etapa amarela, estão os pré‑requisitos multidisciplinares fundamentais para prevenir novas hospitalizações, como educação do paciente, orientações sobre atividade física, dieta, autocuidado e aderência. Finalmente, na etapa verde, estão o agendamento de retorno e o plano de seguimento ambulatorial. As principais recomendações estão resumidas na figura 3.1. 3.3. Piora pós-alta: manejo, alertas e monitoramento remoto 3.3.1. Período vulnerável O período vulnerável se refere ao período de pós-alta imediato e foi relacionado a taxas de readmissão por IC de até 30% associadas à mortalidade de 10%. O maior risco diário de readmissão gira em torno do terceiro dia após a alta, com gradativa queda de até 50% após o 38º dia. 682 Durante a hospitalização, os pacientes apresentammelhora sintomática após a redução das pressões de enchimento. Entretanto, outras anormalidades hemodinâmicas e anatômicas podem estar presentes, perpetuando um padrão de congestão subclínica pouco reconhecido na alta, como dilatação ventricular importante, regurgitação mitral funcional severa, arritmia silenciosa e isquemia ventricular subendocárdica, além de danos renais e hepáticos agudos. 683 Estudos como COMPASS -HF ( Chronicle Offers Management to Patients With Advanced Signs and Symptoms of Heart Failure ), que monitorou continuamente Recomendações Classe Nível de Evidência Referências Serviços de saúde devem garantir a qualidade do processo assistencial e dos cuidados de saúde I A 676 Uso de indicadores de qualidade derivados de diretrizes clínicas como metas na melhoria da qualidade dos cuidados com IC I B 677 Resolução do fator precipitante Ajuste de volemia Estabilidade clínica e hemodinâmica há pelo menos 48 horas Medicações em regime oral há pelo menos 24 horas Medicações modificadoras da doença iniciadas e otimizadas Avaliação das comorbidades Controle satisfatório de frequência cardíaca, pressão arterial, função renal e eletrólitos Educação por equipe multidisciplinar Autocuidado com monitorização de peso, aderência as medicações e sinais de alarme Orientações dietéticas e restrição hidrossalina Incentivo à prática de atividade física/reabilitação cardíaca Desencorajar o uso de álcool e tabaco Orientações para que medicações como AINEs e simpaticomiméticos sejam evitados Encaminhamento para vacinação (anti-influenza e antipneumocócica) Orientações sobre sinais de alarme e plano de emergência Retorno ambulatorial em 7-14 dias. Programas sociais e comunitários que oferecem suporte físico e emocional Orientações sobre a doença e o que esperar dos próximos passos do plano terapêutico Figura 3.1 – Modelo de sistematização de cuidados na alta hospitalar em três etapas. AINE: anti-inflamatórios não esteroides. 498

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