ABC | Volume 111, Nº3, Setembro 2018

Diretrizes Diretriz Brasileira de Insuficiência Cardíaca Crônica e Aguda Arq Bras Cardiol. 2018; 111(3):436-539 cardíacas. A gravidade da apresentação está relacionada a volume do derrame, rapidez do acúmulo, complacência do pericárdio, mecanismos compensatórios e volemia do paciente. Dentre as causas possíveis, estão pericardite, tuberculose, pós-operatório, iatrogenia após procedimentos invasivos, trauma, neoplasias, radioterapia, uremia, dissecção de aorta, doenças reumatológicas e pós-IAM. ECG apresenta baixa voltagem e alternância elétrica da onda R, batimento a batimento. O raio X de tórax permite a visualização de um alargamento da silhueta cardíaca. O ecocardiograma tem achados como o colapso de átrio e ventrículo direitos, o swinging heart , o movimento anormal do septo interventricular, as variações do fluxo respiratório por meio das válvulas atrioventriculares e a dilatação da veia cava inferior. O ecocardiograma também permite avaliação do tamanho e local do derrame, bem como da repercussão hemodinâmica, e serve para guiar a pericardiocentese. Outros exames, como tomografia computadorizada, ressonância magnética e cateterismo, raramente são necessários. O tratamento consiste em drenagem (pericardiocentese), preferencialmente guiada por ecocardiograma ou fluoroscopia, sem atraso em pacientes instáveis. 673 Suporte hemodinâmico temporário pode ser feito por meio de reposição cuidadosa de volume (especialmente em pacientes com PAS < 100 mmHg) e inotrópicos, até que a drenagem seja realizada. Drenagem cirúrgica está recomendada em pacientes com dissecção de aorta tipo A de Stanford, ruptura da parede livre do ventrículo após IAM, trauma torácico, hemopericárdio percutâneo e pericardite purulenta ou com derrame loculado. 3. Plano de alta e seguimento no período de alto risco 3.1. Qualidade assistencial, indicadores de desempenho e boas práticas clínicas Resultados preliminares do registro BREATHE indicam que a adesão de profissionais de saúde e de pacientes à recomendações disponíveis nas diretrizes permanece abaixo do ideal. 15 Estudos populacionais contemporâneos estimam que cerca de 40% dos doentes não recebem a melhor terapia baseada em evidência, e mais de 10% dos cuidados prestados são desnecessários ou potencialmente prejudiciais. 674 Recentemente, a SBC desenvolveu um projeto em colaboração com a AHA, por meio do programa Get With the Guidelines ® (GWTG). 674 O programa de Boas Práticas Clínicas em Cardiologia (BPC) segue a metodologia do GWTG adaptada à realidade brasileira, com base em recomendações contidas nas diretrizes da SBC e nas normativas do Sistema Único de Saúde (SUS). 675 Programas de melhoria da qualidade assistencial, além de melhorarem os resultados clínicos, podem reduzir as disparidades de tratamento 676 e possuem as seguintes características em comum: a mensuração de metas e indicadores de qualidade, derivados de diretrizes clínicas, que devem ser alcançados durante a hospitalização e após a alta; a elaboração de um banco de dados dos pacientes atendidos pela instituição, que pode ser auditado e confrontado com os indicadores de qualidade previamente estabelecidos; a criação de ferramentas para contornar as deficiências identificadas na auditoria e melhorar a qualidade dos cuidados prestados; a concepção de um sistema de monitorização e intervenção, para garantir a segurança dos pacientes. Os indicadores de qualidade baseados em recomendações das diretrizes clínicas são compatíveis com os requerimentos de agências internacionais de acreditação de unidades de saúde, como a Joint Commission on Accreditation of Healthcare Organizations (JCAHO). Estes indicadores podem ser encontrados em registros como o OPTIMIZE-HF, 677 IMPROVE-HF, ADHERE 678 ou no próprio BREATHE. O termo “indicadores de desempenho” (Quadro 3.1) está reservado para determinados indicadores especificamente destinados a relatórios públicos, comparações externas e, possivelmente, programas de pagamento por desempenho. Programas de visita domiciliar, clínicas multidisciplinares e intervenções por contato telefônico estão associados à redução modesta das taxas de readmissões e mortalidade em pacientes com IC. 679,680 A associação de múltiplas intervenções simultâneas parece proporcionar maior efeito do que qualquer intervenção isolada. 679 Quadro 3.1 – Indicadores de desempenho e de qualidade do programa Boas Práticas Clínicas em Cardiologia (BPC) Indicadores de desempenho Outros indicadores de qualidade Prescrição de IECA/BRA na alta hospitalar Definição do perfil hemodinâmico na admissao hospitalar Prescrição de betabloqueadores recomendados por diretrizes na alta hospitalar Fornecimento de orientações escritas de alta ou material didático Documentação da função ventricular no prontuário médico Aconselhamento a cessação do tabagismo Agendamento de visita de retorno na alta hospitalar Controle de peso durante pelo menos 70% do tempo da internação hospitalar Prescrição de antagonista mineralocorticoide na alta hospitalar Anticoagulação para fibrilação ou flutter atrial Profilaxia para trombose venosa profunda Prescrição de associação de nitrato com hidralazina na alta hospitalar Ivabradina na alta hospitalar Recomendação de vacinação (influenza e pneumococo) na alta hospitalar IECA: inibidor da enzima conversora da angiotensina; BRA: bloqueador do receptor da angiotensiva. 497

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