ABC | Volume 111, Nº3, Setembro 2018

Diretrizes Diretriz Brasileira de Insuficiência Cardíaca Crônica e Aguda Arq Bras Cardiol. 2018; 111(3):436-539 por não especialista em ecocardiografia, com alta acurácia na detecção de congestão pulmonar e sistêmica. Ele permite uma estimativa do tipo e do grau de disfunção ventricular, e do diagnóstico do fator causal. Por sua portabilidade e disponibilidade, permite também repetidas reavaliações, fornecendo monitorização clínico-hemodinâmica em resposta à terapêutica. O ultrassom de tórax não substitui a avaliação pelo ecocardiograma transtorácico, que deve ser realizado o mais brevemente possível, para confirmar e complementar as informações obtidas inicialmente. 596-599 1.4.2. Modelos clínicos de desenvolvimento da insuficiência cardíaca aguda A IC aguda pode se instalar de forma progressiva ou aguda em pacientes com IC prévia, que caracteriza IC aguda crônica agudizada, ou empacientes semhistória prévia de IC ou doença cardíaca estrutural, que são caracterizados como IC aguda nova. A diferenciação entre estas duas formas de apresentação é de fundamental importância na definição da estratégia terapêutica e no entendimento dos mecanismos fisiopatológicos envolvidos na descompensação da IC (Quadro 1.4). 575,600,601 1.4.3. Pesquisa de fatores de descompensação da insuficiência cardíaca aguda Cerca de 50% dos pacientes apresentam um fator clínico responsável pela descompensação ou agravamento da IC. Por vezes, o quadro clínico predominante pode ser do fator descompensador e não da IC aguda. Sua identificação e seu tratamento são importantes, pois sua persistência pode significar a refratariedade ao tratamento da IC aguda (Quadro 1.5) 602,603 1.4.4. Pesquisa de comorbidades descompensadas A detecção da presença de comorbidades descompensadas não cardiovasculares faz parte do fluxo diagnóstico admissional, e estes fatores podem ser confundidos como descompensadores da IC. Sua identificação e seu controle terapêutico são partes integrantes do tratamento da IC aguda, pois influenciam na resposta terapêutica da IC aguda e no prognóstico intra‑hospitalar. Cerca de 75% dos pacientes apresentam ao menos uma comorbidade, sendo as mais comumente observadas diabetes, DPOC, asma brônquica, hipotireoidismo, insuficiência renal crônica agudizada, ansiedade e depressão. 604 1.4.5. Perfil clínico-hemodinâmico A avaliação clínica de sinais de congestão pulmonar ou sistêmica, e da presença ou não de baixo débito cardíaco estabelece quatro modelos clínicos-hemodinâmicos, sendo o perfil de congestão associado à ausência de sinais de baixo débito cardíaco (quente-congesto) o mais frequentemente observado e de melhor prognóstico, e o manuseio terapêutico com diuréticos e vasodilatadores. Cerca de 20% dos pacientes apresentam o modelo de congestão associado ao baixo débito cardíaco (frio‑congesto). Quadro 1.4 – Características fisiopatológicas e clínicas da insuficiência cardíaca (IC) aguda crônica descompensada e IC aguda nova IC aguda crônica descompensada (60% a 75% dos pacientes) IC aguda nova (25% a 40% dos pacientes) Mecanismo ↓Contratilidade Retenção de água e de sódio ↑Pós-carga E/OU Disfunção diastólica do VE Perda aguda da contração Padrão de congestão Aumento global da volemia (hipervolêmico absoluto) Redistribuição da volemia da periferia para o pulmão (hipovolêmico periférico, hipervolêmico no pulmão) Início dos sintomas Gradual (dias) Rápido (horas) Sintoma principal Dispneia ou fadiga Dispneia PAS Normal ou baixa Alta ou normal/ incomum baixa PD2 +++ +++++ FEVE e DC Reduzidos Normais ou reduzidos Edema de MIS Frequente Infrequente Ganho de peso Sim Não VE: ventrículo esquerdo; PAS: pressão arterial sistólica; PD2: pressão diastólica final do ventrículo esquerdo; FEVE: fração de ejeção do ventrículo esquerdo; DC: débito cardíaco; MIS: membros inferiores. Quadro 1.5 – Fatores de descompensação da insuficiência cardíaca aguda Medicamentos inadequados HAS não controlada Dieta inadequada Endocardite Estresse emocional/físico Embolia pulmonar IAM Diabetes não controlado Miocardite Anemia Arritmias ventriculares frequentes Doença da tireoide Fibrilação atrial ou flutter atrial Álcool/drogas Marca-passo DDD ou VVI Desnutrição Insuficiência renal aguda Dissecção aórtica Presença de infecção Insuficiência mitral ou aórtica agudizada IAM: infarto agudo do miocárdio; DDD: marca-passo dupla câmara; VVI: marcapasso unicameral; HAS: hipertensão arterial sistêmica. 488

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