ABC | Volume 111, Nº3, Setembro 2018

Editorial A SBC e a Hipertensão Arterial: É Hora de Ação The Brazilian Society of Cardiology and Hypertension: It’s Time for Action Paulo César B. Veiga Jardim 1,2 Departamento de Cardiologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás, 1 Goiânia, GO - Brasil Liga de Hipertensão Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2 GO - Brasil Correspondência: Paulo César B. Veiga Jardim • Rua 115-F, 135. CEP 74085-300, Setor Sul, Goiania, GO – Brasil E-mail: fvjardim.ufg@gmail.com Palavras-chave Hipertensão/fisiopatologia; Hipertensão/mortalidade; Hipertensão/tratamento farmacológico; Doenças Cardiovasculares/prevenção & controle; Indicadores de Morbimortalidade; Guias de Prática Médica como assunto; Anti-Hipertensivos/administração&dosagem; Decisões/políticas. DOI: 10.5935/abc.20180189 O ano é 2018 e o nível de conhecimento científico é inquestionável. Na medicina em geral, e na cardiologia, em particular, os avanços relativos aos diagnósticos são impressionantes, da mesma maneira que o arsenal terapêutico é extraordinário, seja no tratamento clínico ou cirúrgico, convencional ou alternativo. Como consequência, a longevidade aumenta e a média de idade, mesmo no nosso combalido Brasil, ultrapassa os 75 anos. 1 Apesar disso, em relação às doenças do aparelho circulatório, o quadro nacional é desanimador. Com uma população idosa, surgemmais doenças degenerativas e maior mortalidade proporcional por esta causa. 1 Dentre as doenças cardiovasculares, a hipertensão arterial e suas consequências (acidente vascular cerebral, doença coronária, insuficiência cardíaca, doença renal e doença vascular periférica) representa, sem sombra de dúvida, o recorde em termos de morbidade e mortalidade. 1 Ao longo de anos, temos assistido e participado de inúmeras iniciativas das sociedades científicas internacionais e nacionais, com a finalidade de estabelecer normas e condutas para os profissionais de saúde em relação aos cuidados com os hipertensos. O ponto de partida foi o Joint National Committee, organizado nos Estados Unido a partir de 1977 que, por anos, determinou as normas de atuação consideradas mais adequadas para os cuidados com os hipertensos. No mundo todo houve a mobilização das sociedades científicas com a mesma finalidade, sempre buscando o estabelecimento de estratégias mais corretas e efetivas. 2-4 No caso brasileiro, os iniciais Consensos e atuais Diretrizes foram implementados, pela primeira vez, em 1990, com um documento de apenas 16 páginas. Realizado em Campos do Jordão, foi um excelente trabalho das sociedades brasileiras de cardiologia e nefrologia que, inclusive, proporcionou a criação da Sociedade Brasileira de Hipertensão Arterial. 5 A partir daí, a cada 4 anos, aproximadamente, há uma mobilização articulada das sociedades científicas que lidam neste campo (cardiologia, nefrologia, clínica médica, geriatria e o conjunto de outras sociedades científicas da área de saúde – nutrição, educação física, enfermagem) e, em um esforço coletivo, são atualizados os documentos, estabelecidos novos rumos e estratégias e, eventualmente, modificadas as orientações para o tratamento. 6 Como filosofia, havia a intenção de grande divulgação em todos os níveis do sistema de saúde, para que as instruções dali emanadas pudessem tornar-se prática corrente em benefício dos pacientes. Houve alguns avanços, mas mesmo que no plano das intenções, em algum momento, houvesse uma normativa do próprio Ministério da Saúde em adotar os documentos oficiais das sociedades científicas como regras para a atuação geral, a execução prática desta vontade manifesta sempre andou ao sabor do sistema político vigente, dos gestores temporários e da própria situação econômica do país. Uma grande frustração! Onde estávamos e onde estamos? Focando nossa atenção no Brasil, verificamos que, no geral, desde 1990 até os dias atuais, ou seja, num intervalo maior que 25 anos, pouco avançamos. É fato que o conhecimento da presença da hipertensão pela população aumentou. Saímos de valores menores que 50% de conhecimento para números acima de 75%, e o mérito foi de todos. A divulgação da importância da doença e de sua identificação aconteceu em todos os níveis e, atualmente, poucos desconhecem os riscos causados pela HA. Neste caso, a responsabilidade foi geral e nossas sociedades científicas tiveram participação ativa no processo de divulgação, seja através de seu proselitismo junto aos profissionais de saúde, seja pela sua atuação junto à mídia e, de maneira significativa, em suas ações junto ao poder público. 6 Se fizermos, porém, um raciocínio simples e objetivo com estes números veremos que, mesmo com este avanço, em cada 100 hipertensos, 25 não sabem de sua situação e, portanto, sequer pensam em procurar tratamento. O percentual de indivíduos que conhecem seu estado de pressão elevada, e estão em tratamento, cresceu também, porém de maneira menos marcante, quando comparados aos que têm conhecimento da doença. Este número está em torno de 65%, ou seja, em números absolutos, entre os 75 que sabem ter hipertensão, aproximadamente 50 indivíduos estão sendo tratados. Vemos, até aqui, que no conjunto dos hipertensos existentes, de cada 100, apenas a metade iniciou seu tratamento. 6 Na sequência, chegamos àqueles em tratamento, que estão com sua pressão controlada. Este número é decepcionante em todo o mundo, mas no Brasil é ainda pior. Se analisarmos os dados epidemiológicos disponíveis, de indivíduos tratados que 343

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