ABC | Volume 111, Nº2, Agosto 2018

Artigo Original Rodrigues et al Exercício físico e regulação de cálcio Arq Bras Cardiol. 2018; 111(2):172-179 Introdução A hipertensão arterial sustentada leva ao remodelamento progressivo do miocárdio. Enquanto a função cardíaca é aumentada em resposta ao processo hipertrófico ativo dos miócitos do ventrículo esquerdo (VE) durante a fase compensada, o remodelamento do VE é caracterizado pela combinação de hipertrofia de cardiomiócitos e proliferação de outros tecidos. Por exemplo, há aumento da deposição de colágeno, o que resulta em fibrosamento do tecido ventricular e, consequentemente, enrijecimento do miocárdio. 1,2 Este quadro tem sido observado no início da fase compensatória da hipertensão (ex. 3 – 4 meses), mas a função cardíaca é preservada. 1 Aumento de marcadores pró-inflamatórios (ex. IL‑6; TNF α ) tem sido observado no VE de ratos espontaneamente hipertensos (SHR, do inglês spontaneously hypertensive rats ) com apenas 5 a 6 meses de idade. 3,4 Os benefícios do treinamento físico aeróbico para hipertensos estão bem estabelecidos na literatura. 5,6 Nomodelo animal para esta doença – SHR na fase compensada (~ 6 meses de idade) – este tipo de treinamento físico tem se mostrado eficaz em atenuar a disfunção sistólica e restaurar a elasticidade ventricular em SHR fêmeas. 7 No miocárdio de SHR, o treinamento aeróbico reduziu apoptose, 4,8 aumentou a função contrátil de cardiomiócitos isolados do VE e normalizou a expressão de proteínas reguladoras do ciclo intracelular de cálcio, dentre elas a cálcio ATPase do retículo sarcoplasmático (SERCA2a) e a fosfolambam. 9-11 Na hipertrofia cardíaca fisiologia ou patológica, os microRNAs (miRNAs) sofrem alterações na sua expressão relacionada ao remodelamento cardíaco. 12 O microRNA 214 (miR-214) está envolvido no processo de contração muscular do tecido cardíaco e sequestro de Ca 2+ pelo retículo sarcoplasmático, pois regula negativamente a expressão da SERCA-2a. 13 Em relação ao exercício físico, melhoras na função contrátil de cardiomiócitos, com aumento da proteína SERCA-2a e redução da expressão de miR-214, foi observada em ratos normotensos e infartados em resposta ao treinamento resistido. 13,14 Entretanto, pouco se sabe sobre a expressão do miR-214 em animais SHR submetidos ao treinamento físico aeróbico. Assim, o objetivo deste estudo é verificar os efeitos do treinamento aeróbico sobre a contratilidade de cardiomiócitos e a expressão de miR-214 no VE de ratos hipertensos. Métodos Animais experimentais SHR e normotensos (Wistar), com 16 semanas de idade, obtidos no Biotério Central do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Federal de Viçosa, foram divididos em grupos de 13 animais cada: NS (normotenso sedentário); NT (normotenso treinado); HS (hipertenso sedentário); e HT (hipertenso treinado). O tamanho da amostra foi definido por conveniência, sendo que em cada grupo, 8 animais foram utilizados para isolamento de cardiomiócitos e 5 para análise de expressão gênica. Todos os procedimentos foram realizados de acordo com os Princípios Éticos elaborados pelo Colégio Brasileiro de Experimentação Animal (COBEA) e foram aprovados pela Comissão de Ética para Uso de Animais (CEUA-UFV; processo n° 29/2014). Os animais foram alojados em gaiolas coletivas (4 animais por gaiola), receberam água e ração comercial ad libitum sendo mantidos em ambiente com temperatura média de 22°C e regime de luminosidade de doze horas de escuridão e doze horas de claridade. Protocolo de treinamento físico e teste de esforço em esteira rolante Antes do início do treinamento, os animais foram adaptados à esteira rolante durante 5 dias, 10 min/dia, 0º de inclinação, na velocidade de 5 m/min. Após 48 horas, todos os animais foram submetidos a um teste progressivo em esteira rolante para determinar a velocidade máxima de corrida (VMC), começando a 5 m/mim, 0° de inclinação, com incrementos de 3 m/min a cada 3 minutos até a fadiga de cada animal. A fadiga foi definida e o teste interrompido quando os animais não mantiveram a corrida de acordo com a velocidade da esteira. Os animais dos grupos NT e HT foram submetidos a um programa de treinamento físico por oito semanas, 5 dias/semana (segunda a sexta-feira). Eles iniciaram correndo em esteira, em intensidade de 5 a 6 m/min, 0º de inclinação e duração de 10 minutos no primeiro dia. Nesta primeira semana, a duração foi aumentada em 5 minutos por dia e a intensidade foi mantida. Na segunda semana, a duração continuou sendo aumentada em 5 minutos/dia e a intensidade em 2% da VMC por dia, de maneira que a partir do primeiro dia da 3ª até o final da 8ª semana, os animais correram a uma intensidade de 60% da VMC (~ 18 a 22 m/min), durante 60 minutos por dia. Os testes na esteira rolante para determinação da VMC foram realizados em cada animal dos grupos experimentais antes do treinamento, e no final da 4ª semana nos animais dos grupos treinados (NT e HT) para avaliação do tempo total de exercício até a fadiga (TTF) e redefinição da intensidade de treinamento. Quarenta e oito horas após a última sessão de treino, os testes foram repetidos em todos os animais dos grupos experimentais para avaliação dos efeitos do treinamento físico sobre a capacidade de corrida. Durante o período experimental, os animais dos grupos sedentários NS e HS forammanuseados e colocados na esteira rolante 3 dias/semana (segundas, quartas e sextas-feiras), 10 min/dia, 0° de inclinação à intensidade de 5 m/min para expô-los a condições experimentais similares àquelas dos grupos treinados. A pressão arterial sistólica (PAS) foi aferida no início e ao final do período experimental, isto é, 48 horas após a última sessão de exercício. As medidas foram realizadas pela manhã, sem anestesia, por meio de pletismografia de cauda (LE 5001, Panlab, Harvard Apparatus, Espanha), sendo realizadas três medidas para adoção do valor intermediário. Isolamento do cardiomiócito Quarenta e oito horas após a última sessão de exercício, miócitos do VE foram isolados conforme descrito por Locatelli et al. 15 Resumidamente, os animais foram pesados e sacrificados por deslocamento cervical, sendo o coração removido e pesado. Em seguida, foi canulado via artéria aorta em umsistema Langendorff e perfundido comsolução de isolamento 173

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