ABC | Volume 111, Nº2, Agosto 2018

Artigo Original Marcolino et al Satisfação de médicos dos serviços de urgência Arq Bras Cardiol. 2018; 111(2):151-159 Tabela 4 – Descrição dos níveis de satisfação entre profissionais médicos de hospitais de nível II e de hospitais de nível III/IV para a escala CARDIOSATIS-Equipe Domínios/Itens da escala Hospitais de nível II (n = 28) Hospitais de nível III e IV (n = 46) Insatisfeitos (1-2) Mais ou menos satisfeitos (3) Satisfeitos (4-5) Insatisfeitos (1-2) Mais ou menos satisfeitos (3) Satisfeitos (4-5) Domínio 1: Satisfação com o cuidado prestado (5 itens) Satisfação com o atendimento prestado 13 (46,4) 1 (3,6) 14 (50,0) 24 (52,2) 6 (13,0) 16 (34,8) Estrutura do município para diagnóstico 18 (64,3) 2 (7,1) 8 (28,6) 31 (67,4) 6 (13,0) 9 (19,6) Estrutura para condução das doenças cardiovasculares 16 (57,1) 2 (7,1) 10 (35,7) 30 (65,2) 5 (10,9) 11 (23,9) Precisão no diagnóstico 21 (75,0) 4 (14,3) 2 (7,1) 23 (50,0) 10 (21,7) 11 (23,9) Ajuda técnica 9 (32,1) - 19 (67,9) 18 (39,1) - 27 (58,7) Domínio 2: Estrutura de atendimento e diagnóstico (6 itens) Condições materiais para diagnóstico das doenças cardiovasculares 24 (85,7) 1 (3,6) 3 (10,7) 18 (39,1) 17 (37,0) 10 (21,7) Qualidade de equipamentos e materiais 15 (53,6) 12 (42,9) 1 (3,6) 19 (41,3) 22 (47,8) 4 (8,7) Tecnologia disponível para diagnóstico 21 (75,0) 3 (10,7) 4 (14,3) 37 (80,4) 4 (8,7) 5 (10,9) Agilidade no diagnóstico 23 (82,1) 3 (10,7) 2 (7,1) 29 (63,0) 8 (17,4) 9 (19,6) Adequação do serviço 23 (82,1) 3 (10,7) 1 (3,6) 17 (37,0) 21 (45,7) 6 (13,0) Resolutividade 23 (82,1) 2 (7,1) 2 (7,1) 26 (56,5) 9 (19,6) 10 (21,7) Valores apresentados são n (%). diagnóstico” , “adequação do serviço” e “resolutividade” , itens em que seria esperado menor insatisfação em profissionais de hospitais nível II. Talvez essa baixa satisfação com o serviço possa estar relacionada com uma mais alta expectativa desses profissionais, pois sabe-se que a satisfação se relaciona tanto à adequação dos serviços quanto às expectativas dos indivíduos no que se refere ao cuidado considerado de qualidade. 16,20 Outro ponto que merece destaque é a alta proporção de profissionais sem residência médica (31,4%), ou seja, “generalistas”, ou de áreas da medicina em que habitualmente não há capacitação específica para atuação em emergências cardiovasculares em adultos (por exemplo, pediatria e ginecologia). Os achados da presente investigação mostram a importância de promover programas de educação continuada na região, a fim de melhorar a formação dos profissionais médicos atuantes em serviços de emergência para as doenças cardiovasculares. O fato de “ ajuda técnica” ter se destacado como um item de maior proporção de satisfeitos é positivo nesse contexto. Além disso, esses achados reafirmam a importância de maior valorização do ensino da emergência nos currículos médicos. O profissional médico, no Brasil, termina a graduação sem a experiência necessária para atuar no ambiente de urgência e emergência, fato que é reconhecido pela Associação Brasileira de Educação Médica, que relata que “a maioria dos médicos recém-formados acaba trabalhando em plantões, seja em prontos-socorros, unidades de pronto atendimento ou atendimento pré-hospitalar”, mas as Diretrizes Curriculares Nacionais pouco valorizam essa área da prática médica. 21 Realmente, as Diretrizes Nacionais Curriculares para o curso de graduação em Medicina anteriores não incluíam a medicina de urgência e emergência nas disciplinas obrigatoriamente integrantes dos internatos do curso médico. 22 As diretrizes vigentes preconizam que o mínimo de 30% da carga horária prevista para o internato médico da graduação em medicina seja desenvolvido na Atenção Básica e em Serviço de Urgência e Emergência do SUS, “respeitando-se o mínimo de dois anos desse internato”. 23 Entretanto, a carga horária dedicada à formação em urgência e emergência ainda é limitada na maioria das escolas médicas do país, 24 fato esse que tende a se agravar com a ampliação do número de escolas médicas e a escassez de espaços nos cenários de prática. Em 2015, a medicina de emergência foi reconhecida como especialidade médica pelo Conselho Federal de Medicina, Conselho Nacional de Residência Médica e pela Associação Brasileira de Educação Médica. Apesar dessa capacitação estar em estruturação para emergência, no momento de realização desse estudo, ainda não existe um programa oficial de formação do médico para o atendimento pré-hospitalar. Os serviços de urgência enfrentam grandes desafios nos dias atuais que passam por várias esferas: escassez de mão de obra qualificada, superlotação dos serviços de urgência/emergência, baixa qualidade da assistência prestada àqueles que realmente necessitam de atendimento de urgência, alta rotatividade de profissionais e exposição dos profissionais ao risco diante do aumento da violência nos grandes centros. 19 Diversos estudos avaliaram a organização dos serviços de urgência/emergência, mas há escassez de dados quanto à análise da satisfação 157

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