ABC | Volume 111, Nº2, Agosto 2018

Artigo Original Marcolino et al Satisfação de médicos dos serviços de urgência Arq Bras Cardiol. 2018; 111(2):151-159 médicos do SAMU, e a satisfação de médicos de hospitais nível II foi inferior nesses mesmos itens quando comparada à de médicos de hospitais nível III e IV. A satisfação quanto à “tecnologia disponível para o diagnóstico” foi percebida como menor em profissionais atuantes nos hospitais em relação aos profissionais do SAMU, porém não foi diferente entre médicos dos dois tipos de hospitais. Ao avaliar comparativamente médicos que realizavam atendimento em unidades do SAMU com os que atendiam nos serviços de urgência e emergência hospitalar, observou‑se maior proporção de satisfação pelos médicos do SAMU em ambos os domínios (Figura 1, Tabela 3). Na comparação entre médicos que realizavam atendimento em hospitais de nível II com os que atendiam em hospitais de nível III/IV, houve proporção semelhante de satisfação em relação ao cuidado prestado. Entretanto, quando avaliado o domínio “ estrutura do atendimento e diagnóstico ”, os profissionais médicos de hospitais de nível III/IV demonstraram-se mais satisfeitos (Figura 2, Tabela 4). Discussão Esta investigação envolveu médicos que atuam no SAMU e que atuam em serviços de urgência e emergência hospitalar de diferentes níveis. Foi predominante o perfil com pouco tempo de formação profissional, sexo masculino e especialistas (68,6%). Foi evidenciada uma insatisfação global dos médicos atuantes em serviços públicos que atendem emergências cardiovasculares na Região Ampliada do Norte de Minas Gerais. Os profissionais atuantes no SAMU apresentaram maior satisfação com a estrutura de atendimento e cuidado às doenças cardiovasculares quando comparado aos profissionais atuando em hospitais regionais. O item com a maior proporção de médicos satisfeitos em ambos os grupos foi “ ajuda técnica” para condução do caso e os itens com maior proporção de médicos insatisfeitos foi, entre médicos do SAMU, “ satisfação com o serviço prestado” e “ tecnologia disponível para o diagnóstico” (ambos com 54%) e, entre médicos atuantes em hospitais, “ tecnologia disponível para o diagnóstico” (78,4%) e “ agilidade no diagnóstico” (70,3%). O sistema de saúde da Região Ampliada Norte de Minas Gerais é configurado como uma rede assistencial regional hierarquizada de atenção às urgências. 13 Oliveira et al., 18 mencionam que o sistema de saúde seria mais bem pensado como um circuito com múltiplos pontos de entrada, no qual exista um lugar mais adequado para cada paciente, onde o tipo de atendimento que necessita possa ser oferecido. Omédico da Central de Regulação do SAMU, ao encaminhar um paciente para um serviço de urgência, deve sempre considerar a melhor opção diante dos recursos disponíveis, localização das equipes e proximidade dos serviços de saúde. 19 No caso da Região Ampliada Norte de Minas Gerais, como o próprio SAMU é regionalizado, o número de ambulâncias de suporte avançado é restrito. Tendo em vista que o cálculo do número de ambulâncias segue apenas um critério populacional, sem levar em conta as grandes distâncias, muitas vezes o “suporte avançado” mais próximo das ambulâncias de suporte básico é um pronto atendimento de hospital regional, independente da gravidade do paciente ou mesmo da capacidade técnica do serviço. Tabela 1 – Distribuição dos profissionais médicos quanto ao tempo de formação, sexo e especialidade Característica Total geral (n = 137) Não SAMU (n = 74) SAMU (n = 63) Hospitais de nível II (n = 28) Hospitais de nível III/IV (n = 46) Total não SAMU (n = 74) Tempo de formação (mediana, IQ) 5,3 (1,8-12,7) 2,3 (1,5-5,0)* 11,0 (2,4-23,2)* 5,5 (1,9-15,3)† 5,3 (1,8-10,7)† Sexo masculino 93 (67,9) 13 (46,4) 35 (76,1) 48 (64,9) 45 (71,4) Categoria/especialidade médica Generalista 43 (31,4) 12 (42,9) 8 (17,4) 20 (27,0) 23 (36,5) Especialista 94 (68,6) 16 (57,1) 38 (82,6) 54 (73,0) 40 (63,5) Clínica Médica 40 (29,1) 9 (32,1) 18 (39,1)‡ 27 (36,4)‡ 13 (20,6) Pediatria 13 (9,4) 3 (10,7) 5 (10,8) 8 (10,8) 5 (7,9) Cirurgia Geral 10 (7,2) 1 (3,5) 4 (8,6)‡ 5 (6,7)‡ 5 (7,9) Ginecologia e Obstetrícia 10 (7,2) 1 (3,5) 6 (13)‡ 7 (9,4)‡ 3 (4,7) Cardiologia 4 (2,9) 0 (0) 0 (0) 0 (0) 4 (6,3) Medicina da Família e Comunidade 4 (2,9) 0 (0) 0 (0) 0 (0) 4 (6,3) Outras§ 16 (11,6) 2 (7,1) 8 (17,3)‡ 10 (13,5)‡ 6 (9,5) SAMU: serviço de atendimento móvel de urgência; IQ: intervalo interquartil. * Comparação entre tempo de formação de profissionais de hospitais de nível II e hospitais de nível III/IV: p ≤ 0,01; † Comparação entre tempo de formação de profissionais que atendiam no SAMU e que não atendiam no SAMU: p = 0,64; ‡ Dois profissionais médicos eram multiespecialistas: um tinha duas especialidades (Clínica Médica e Cirurgia Geral) e o outro tinha três especialidades (Anestesiologia, Ginecologia e Obstetrícia, Medicina do Trabalho). Ambos trabalhavam em hospital de nível III/IV; § Outros inclui: Anestesiologia (3, sendo 1 no SAMU e 2 em hospital de nível III/IV), Cirurgia Cardiovascular (2, no SAMU), Cirurgia Torácica (2, sendo 1 no SAMU e 1 em hospital de nível III/IV), Medicina Intensiva (2, sendo 1 no SAMU e 1 em hospital de nível III/IV), Neurologia (1, em hospital de nível II), Dermatologia (1, em hospital de nível II), Medicina do Tráfego (1, no SAMU), Medicina do Trabalho (2, em hospital de nível III/IV), Ortopedia e Traumatologia (1, em hospital de nível III/IV) e Psiquiatria (1, em hospital de nível III/IV). 154

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