ABC | Volume 111, Nº1, Julho 2018

Artigo Original Luo et al Função ventricular direita por 2D-STE em pacientes com LES Arq Bras Cardiol. 2018; 111(1):75-81 Introdução Lúpus eritematoso sistêmico (LES) é uma doença autoimune que envolve muitos órgãos e sistemas, tais como pulmões, músculos, pele, articulações e coração, especialmente o ventrículo direito (VD). Além disso, a função ventricular direita é um fator crucial no prognóstico de pacientes com LES. 1 A hipertensão pulmonar (HP) é uma complicação comum e muito grave do LES e sua prevalência varia entre 0,5 a 43%. 2 A HP é um fator independente de mortalidade por LES, com uma taxa de sobrevida em 3 anos de 44,9%. 3 Combinado à HP, o LES pode causar disfunção ventricular direita, e sua mortalidade tem forte relação com a função do VD. 4 Assim, a detecção precoce de disfunção subclínica do VD é importante para o estabelecimento de estratégia terapêutica e melhora do prognóstico de pacientes com LES e HP. Apesar de a ressonância magnética cardíaca e a angiografia de radionuclídeos de equilíbrio serem consideradas padrão ouro na avaliação da função sistólica do VD, a ecocardiografia ainda é amplamente utilizada por ser um método simples, de baixo custo e não invasivo. 5 Contudo, a avaliação do VD é limitada por sua fina parede e complexa anatomia – um formato triangular pelo plano lateral e formato crescente no plano transversal. 6 Estudos relataram que a medida do strain e do strain rate pela técnica de rastreamento de pontos por ecocardiografia bidimensional ( two-dimensional speckle tracking echocardiography , 2D-STE), um novo método menos dependente do ângulo e da variação intra- e entre examinadores, pode detectar precocemente, qualitativamente e com confiabilidade, a disfunção do VD. 7-9 Neste artigo, strain refere-se particularmente ao strain longitudinal de pico sistólico longitudinal ( ε ), e representa o grau de deformação miocárdica. Strain rate (SR) é a velocidade de encurtamento do miocárdio, isto é, representa a mudança na deformação ao longo do tempo. 10 O SR inclui o SR sistólico (SRs), o SR diastólico precoce (SRp) e o SR diastólico tardio (SRt), que reflete a contração cardíaca durante sístole e diástole respectivamente. 11 No presente estudo, nosso objetivo foi avaliar a função ventricular direita pelo strain e SR obtidos do 2D-STE em pacientes com LES e HP estimada por ecocardiografia. Métodos População do estudo Foram considerados elegíveis para o estudo, 102 pacientes (91 mulheres) com LES com idade entre 20 e 52 anos (média 43,2 ± 9,3 anos) e 30 voluntários sadios controle (grupo A) pareados por idade (27 mulheres) com idade entre 23 e 51 anos (média 422,1 ± 10,5 anos), pressão sistólica da artéria pulmonar (PSAP) 22,54 ± 4,31 mmHg. O estudo foi conduzido entre outubro de 2015 e maio de 2016 em nosso hospital. Os critérios de elegibilidade para o diagnóstico de LES seguiram os critérios estabelecidos pelo Systemic Lupus International Collaborating Clinics (SLICC) de 2012. 12 Os critérios de exclusão incluíram insuficiência ventricular esquerda, doenças cardíacas congênitas, doença coronariana, cardiomiopatia e doença valvar cardíaca, derrame pericárdico, uso de drogas cardiotóxicas, história de hipertensão, miocardite infecciosa e doenças pulmonares obstrutivas. Oito pacientes com resultados ecocardiográficos de baixa qualidade e dez pacientes que não aceitaram a participar do estudo foram excluídos. Os pacientes selecionados foram divididos em três grupos com base na PSAP estimada por ecocardiografia – Grupo B incluiu 37 pacientes com PSAP ≤ 30 mmHg, o qual foi considerado como um grupo sem HP (33 mulheres, idade entre 21 e 51 anos, idade média 45,3 ± 8,4 anos, PSAP média 23,61 ± 3,11 mmHg); Grupo C incluiu 34 pacientes com 30 < PASP < 50 mmHg, considerado como grupo com HP leve (30 mulheres, idade entre 20 e 52 anos, idade média 41,3 ± 9,6 anos, PSAP média 45,11 ± 5,50 mmHg); e Grupo D incluiu 31 pacientes com PSAP ≥ 50 mmHg, que foi considerado como o grupo com HP moderada a grave (28 mulheres, idade entre 23 e 51 anos, idade média 43,3 ± 7,5 anos, PSAP 72,95 ± 7,92 mmHg). Todos os participantes assinaram o consentimento informado após receberam uma explicação detalhada do protocolo do estudo. A proposta do delineamento, os métodos de coleta dos dados, e análise do estudo foram aprovados pelo Comitê de Ética do hospital. Aquisição e análise das imagens Os exames de ecocardiografia bidimensional foram realizados utilizando-se o sistema Vivid 7 (GE Vingmed Ultrasound, Horten, Noruega) equipado com um transdutor M3S de 1,7-3,4 MHz. Após um período de repouso de 15 minutos em posição supina em uma sala tranquila a 23°C, a pressão arterial (PA) e a frequência cardíaca (FC) de todos os pacientes foram medidas três vezes, e calculada a média dessas medidas. Um eletrocardiograma também foi registrado simultaneamente. As medidas e as fórmulas foram calculadas segundo recomendações para quantificação das câmaras cardíacas da American Society of Echocardiography and the European Association of Cardiovascular Imaging (ASE‑EACVI). 13 Durante o registro ecocardiográfico em decúbito lateral esquerdo a uma taxa de quadros estável, o diâmetro diastólico final do VD foi obtido no terço médio da diástole, aproximadamente entre o maior diâmetro da base e o ápice do VD, ao nível dos músculos papilares ao final da diástole na visualização apical de quatro câmaras com o ápice do ventrículo esquerdo (VE) ao centro do campo. A espessura da parede anterior do VD foi obtida abaixo do anel tricúspide, a uma distância aproximadamente igual ao comprimento da válvula tricúspide anterior totalmente aberta e paralelamente à parede livre do VD visualizada por um plano subcostal em quatro câmaras. Ambos os parâmetros foram medidos por uma ecocardiografia bidimensional convencional, em escalas de cinza. 13 A excursão sistólica do anel tricúspide (TAPSE) e o pico de velocidade sistólica (onda S) também foram medidas pela porção lateral do anel tricúspide por ecocardiograma modo M e imagens Doppler tecidual (TDI) de onda pulsada na visualização apical de quatro câmaras, respectivamente. A variação da área do VD (RVFAC, right ventricular fractional area change ) foi medida e calculada na visualização apical de quatro câmaras do RVFA = 100 x [área diastólica final (ADF) – área sistólica final (ASF)]/ADF. 13 A fração de ejeção 76

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