ABC | Volume 111, Nº1, Julho 2018

Minieditorial Variabilidade da Frequência Cardíaca em Pacientes com Diabetes e Hipertensão Heart Rate Variability in Coexisting Diabetes and Hypertension Paula F. Martinez 1 e Marina P. Okoshi 2 Faculdade de Fisioterapia, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, 1 Campo Grande - Brasil Departamento de Clínica Médica - Faculdade de Medicina de Botucatu, Universidade Estadual de São Paulo (UNESP), 2 Botucatu, SP - Brasil Minieditorial referente ao artigo: Efeitos da Coexistência de Diabetes Tipo 2 e Hipertensão sobre a Variabilidade da Frequência Cardíaca e Capacidade Cardiorrespiratória Correspondência: Marina P. Okoshi • Departamento de Clínica Médica - Faculdade de Medicina de Botucatu, UNESP. Rubião Junior, S/N. CEP 18.618-687, Botucatu, SP - Brasil e-mail: mpoliti@fmb.unesp.br Palavras-chave Hipertensão; Diabetes Mellitus; Doença Crônica; Frequência Cardíaca; Sistema Nervoso Autônomo. DOI: 10.5935/abc.20180118 O sistema nervoso autônomo regula a frequência cardíaca através da resposta simpática e parassimpática a diferentes estímulos. A flutuação entre os intervalos dos batimentos cardíacos consecutivos, denominada variabilidade da frequência cardíaca (VFC), é ferramenta valiosa para avaliar a atividade do sistema nervoso autônomo. 1 Uma diminuição da VFC é um marcador de tônus parassimpático reduzido e de tônus simpático aumentado, há muito considerado como tendo impacto negativo no prognóstico da doença cardiovascular. 2 Em 1996, a Sociedade Europeia de Cardiologia e a Sociedade Norte-Americana de Marca-Passo e Eletrofisiologia sugeriram padrões para a avaliação, a interpretação fisiológica e o uso clínico da análise da VFC nos domínios ‘tempo’ e ‘frequência’ em registros de curto e longo prazo. 3 Sugeriu‑se que algumas medidas não lineares funcionavam melhor do que as tradicionais para a predição de eventos adversos futuros em vários grupos de pacientes. Mais recentemente, novas ferramentas computacionais foram obtidas a partir de dinâmica não linear e sistemas complexos. 4 Embora a base fisiológica das medidas não lineares da VFC seja menos compreendida do que a das medidas convencionais, especula-se que a dinâmica não linear forneça melhor compreensão do comportamento não linear que comumente ocorre nos sistemas humanos devido à sua natureza dinâmica e complexa. 5,6 Alinhado com isso, observou-se uma boa concordância entre algumas medidas não lineares de VFC e o escore de risco cardiovascular de Framingham, sugerindo que eles pudessem ser utilizados para triar risco cardiovascular. 7 Em 2015, o e-Cardiology Working Group da Sociedade Europeia de Cardiologia e a Associação Europeia de Ritmo Cardíaco lançaram uma revisão crítica das novas metodologias para analisar a VFC, incluindo taxa de entropia, escala fractal e plot de Poincaré, e sua aplicação em diferentes estudos fisiológicos e clínicos. 8 Alterações nos índices dos domínios ‘tempo’ e ‘frequência’ da VFC foram observadas com frequência em doenças crônicas, como diabetes e hipertensão, sendo associadas com disfunção cardíaca autônoma. 9,10 Como a coexistência de diabetes mellitus e hipertensão arterial sistêmica é muito comum, alguns estudos compararam a VFC de pacientes diabéticos tipo 2 com e sem hipertensão, chegando a resultados contraditórios ao usar análise da VFC nos domínios ‘tempo’ e ‘frequência’. 11-13 Entretanto, o uso da dinâmica não linear para análise da VFC na coexistência de diabetes tipo 2 e hipertensão ainda carece de estudo. Nesta edição dos Arquivos Brasileiros de Cardiologia , Bassi et al., 14 publicaram um estudo que avalia a influência da hipertensão arterial sistêmica na modulação cardíaca autônoma e na capacidade cardiopulmonar de pacientes diabéticos tipo 2, que foram divididos em dois grupos: normotenso (n = 32, idade = 51 ± 7,5 anos) e hipertenso (n = 28, idade = 51 ± 6,9 anos). Os dois grupos apresentaram controle glicêmico inadequado (grupo normotenso: hemoglobina glicada = 8,00 ± 2,14%; grupo hipertenso: hemoglobina glicada = 8,70 ± 1,60%; p = 0,39), tendo o grupo hipertenso maior resistência insulínica [grupo normotenso: índice de resistência insulínica (HOMA-IR) = 4,0 ± 4,0; grupo hipertenso: HOMA-IR = 8,0 ± 6,6; p = 0,02). Esses autores descobriram que indivíduos com hipertensão e diabetes apresentaram menor SD1 (derivada do plot de Poincaré) e entropia de Shannon, ambas sendo medidas não lineares da VFC, em comparação aos pacientes diabéticos não hipertensos. Além disso, SD2 (derivada do plot de Poincaré) e entropia aproximada correlacionaram-se negativamente com as variáveis de capacidade de exercício. Embora não se tenha avaliado um grupo controle, os resultados sugerem que a hipertensão arterial sistêmica comprometa ainda mais a VFC em diabéticos. Tais dados reforçam os achados epidemiológicos, mostrando que a combinação de diabetes mellitus e hipertensão induz maior remodelamento cardíaco do que qualquer uma das condições isoladas. 15 Alémdisso, a insuficiência cardíaca é mais prevalente em pacientes com as duas doenças. Estudos adicionais são necessários para estabelecer o papel da disfunção nervosa autônoma como preditora de mau prognóstico em pacientes com diabetes e hipertensão coexistentes. Agradecimento Suporte financeiro através de FUNDECT (Proc. n. 23/200.495/2014) e CNPq (Proc. n. 308674/2015-4). 73

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