ABC | Volume 111, Nº1, Julho 2018

Artigo Original Bassi et al DM2 e HAS na VFC e status cardiorrespiratório Arq Bras Cardiol. 2018; 111(1):64-72 dessas variáveis entre os grupos foram realizadas pelo teste do qui‑quadrado. Análises estatísticas foram realizadas pelo programa Statistica 5.5 (StatSoft Inc., Tulsa, EUA). O coeficiente de correlação de Pearson foi utilizado para avaliar a relação entre índices lineares e não lineares e variáveis cardiorrespiratórias. A magnitude das correlações foi determinada considerando-se a seguinte classificação – r ≤ 0,35 baixa ou fraca; 0,36 ≤ r ≤ 0,67 moderado; r: ≥ 0,68 forte ou alto; r: ≥ 0,9 muito alto; r = 1 e perfeito. 29 A probabilidade de um erro tipo I foi estabelecida em 5% para todos os testes ( α = 0,05). Resultados Características dos indivíduos Um total de 60 pacientes foram avaliados em um período de 1 ano. A Tabela 1 mostra as características clínicas dos indivíduos dos dois grupos (DM2 e DM2+HAS). Não houve diferenças significativas de características basais entre os grupos (idade, altura, duração da DM2). No entanto, o IMC foi mais alto nos pacientes com ambas as doenças (p = 0,03), embora nenhum outro teste tenha sido realizado para melhor caracterizar a composição corporal dos participantes. Não houve diferenças significativas quanto aos outros fatores de risco para DVC e ao uso de hipoglicemiantes orais. Além disso, níveis de insulina e o HOMA-IR foram significativamente mais altos no grupo DM2+HAS que no grupo DM2, o que indica maior resistência insulínica. Não houve diferenças significativas quanto à glicemia de jejum, C-total, C-LDL, C-HDL e HbA1c. Os índices de VFC estão apresentados na Tabela 2. Os valores médios dos intervalos RR e dos índices não lineares DP1, entropia de Shannon e EnAp foram significativamente mais baixos no grupo DM2+HAS quanto comparados ao DM2. Teste de exercício cardiopulmonar A Tabela 3 mostra a comparação entre os grupos em relação aos picos das variáveis obtidas durante o TECP. Em comparação ao grupo DM2, o grupo DM2+HAS apresentou valores significativamente mais altos de pico da pressão arterial sistólica (PAS) (p = 0,05) e de pressão arterial diastólica (PAD) em repouso (p = 0,02). Considerando somente o grupo DM2, observamos que a EnAp influenciou a inclinação (R 2 = -0,40, p < 0,05) e a CV (R 2 = -0,48, p < 0,02) (Figura 1). Quando os dois grupos foram considerados, observamos que os índices não lineares influenciaram a CV (R 2 = -0,10, p < 0,03) e a inclinação de V E /VCO 2 (R 2 = -0,08, p < 0,05) (Figura 2). Não houve diferença entre os grupos quanto ao VO 2 , VCO 2 , à taxa de troca respiratória (RER), inclinação, PC e PV. A análise de regressão stepwise foi realizada para avaliar possíveis influências dos índices de VFC sobre as variáveis do TECP, o que ocorreu com três das variáveis, influenciadas pelos fatores de risco. Ainda, as seguintes influências foram determinadas – a inclinação foi influenciada pelo DP1 (efeitos de interação: R 2 = -0,28, p < 0,005) e a CV (R 2 = -0,32, p< 0,03), quando ambos os grupos foram considerados juntos. Discussão Resumo dos achados Os principais achados do presente estudo foram: (i) indivíduos com DM2 associada à HAS, mesmo controlada, mostraram maior disfunção na dinâmica linear e não linear da FC em comparação aos pacientes somente com DM2; (ii) novos parâmetros obtidos do TECP. Emnosso conhecimento, este é o primeiro estudo a enfatizar a importância clínica da avaliação precoce da função do sistema nervoso cardíaco, uma vez que a associação entre DM2 e HAS altera a modulação autonômica cardíaca. Relevância do presente estudo Este é o primeiro estudo, em nosso conhecimento, a avaliar a dinâmica linear e não linear da VFC na coexistência de HAS e DM2. Estudos prévios relataram disfunção autonômica cardíaca em indivíduos diabéticos e em indivíduos hipertensos; 30 o estudo é relevante ao mostrar uma influência simultânea de HAS e DM2 sobre os índices não lineares da VFC e sobre novos parâmetros obtidos no TECP. Além disso, a PV e a PC, índices que combinam parâmetros do TECP com hemodinâmica sistêmica durante o exercício representa medidas fisiológicas importantes relacionadas à capacidade de se responder, sinergicamente, à exaustão aeróbica. No presente estudo, esses índices mostraram-se como importantes marcadores de limitação cardiocirculatória ao exercício tanto no DM2 e como na HAS. Efeitos da coexistência de DM2 e HAS sobre a dinâmica linear e não linear da VFC A VFC está reduzida em pacientes com DM2 31 e em pacientes comHAS, 32 e sua redução está associada com baixo prognóstico cardiovascular. 33 O desequilíbrio autonômico pode ser uma via comum final para morbidade e mortalidade aumentadas na presença de várias condições, incluindo DCV. 34 Apesar de um estudo prévio 35 ter mostrado maior sensibilidade dos parâmetros domínio da frequência e domínio do tempo da VFC, neste estudo, não encontramos mudanças significativas nesses parâmetros. Roy e Ghatak, 36 em um estudo com pacientes com diabetes mellitus tipo 1, diagnosticados há cinco anos ou mais, mostraram que os índices espectrais da VFC foram melhores indicadores da prevalência de NAC em comparação a testes de reflexo cardiovascular. Enquanto isso, o uso da análise espectral da VFC apenas para o diagnóstico de NAC deveria ser considerado, uma vez que estudos prévios 30,37 mostraram baixa reprodutibilidade da avaliação da VFC por análise espectral. A presença de NAC está intimamente associada com complicações macrovasculares, mortalidade por arritmia cardíaca fatal, hipoglicemia grave, e morte súbita. 38 Contudo, índices não lineares mostraram-se melhores métodos em comparação a métodos convencionais para identificar alterações sutis na modulação autonômica em muitas condições patológicas, tal como na doença arterial cardiovascular. 39 Análise não linear forneceu um novo entendimento sobre a dinâmica da VFC emmuitas condições 67

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