ABC | Volume 111, Nº1, Julho 2018

Artigo Original Bassi et al DM2 e HAS na VFC e status cardiorrespiratório Arq Bras Cardiol. 2018; 111(1):64-72 Introdução A prevalência de hipertensão em pacientes com diabetes mellitus tipo 2 (DM2) é de até três vezes maior que empacientes sem DM2. 1 A coexistência de hipertensão em pacientes diabéticos aumenta significativamente a probabilidade do desenvolvimento de doença cardiovascular (DCV). 2 A associação entre essas duas condições pode causar efeitos deletérios sobre o sistema cardiovascular, acelerando o processo de aterosclerose envolvido tanto no DM2 como na hipertensão. 3 Alémdisso, sabe-se que a neuropatia autonômica cardíaca (NAC), que resulta de danos nas fibras autonômicas que inervam o coração e vasos sanguíneos, é uma séria complicação da DM2 e hipertensão arterial sistêmica (HAS). 4,5 O sistema nervoso autonômico tem papel importante no sistema circulatório e na regulação da pressão sanguínea. 6 Danos nas fibras autônomas que inervam o coração e os vasos sanguíneos levam a anormalidades no controle da frequência cardíaca (FC) e dinâmica vascular. 7 Análise da variabilidade da frequência cardíaca (VFC) é uma ferramenta amplamente utilizada para avaliar a regulação autonômica cardíaca. 8 Essa análise é comumente realizada por modelos lineares, tais como domínio no tempo e análise espectral. No entanto, métodos não lineares foram propostos como novas ferramentas para investigar a complexidade da dinâmica da FC. 9 Muitos estudos já relataram que uma VFC reduzida está associada com várias doenças, incluindo DCVs, tais como hipertensão 10 e diabetes. 11 Contudo, apesar da evidência de que a VFC esteja diminuída na presença de qualquer uma dessas condições, ainda não se sabe se está alterada na coexistência de DM2 e HAS. Além disso, já está bem estabelecido que a capacidade de exercício, a qual é um forte preditor de mortalidade cardiovascular emortalidade geral, 12 está reduzida empacientes com DM2 em comparação a indivíduos não diabéticos 13 e a indivíduos hipertensos. 14 Apesar de se desconhecer as causas dessa redução, uma desregulação na função autonômica cardíaca pode ter papel importante no desenvolvimento de doenças cardíacas empacientes diabéticos, consequentemente afetando a capacidade de exercício. 15 Recentemente, novas variáveis obtidas no teste de exercício cardiopulmonar (TECP), tais como potência circulatória (PC) (do inglês circulatory power ) e potência ventilatória (PV) ( ventilatory power ) têm sido usadas na avaliação clínica de pacientes com insuficiência cardíaca como importantes marcadores de limitação no exercício. 16 Esses índices poderiam forneceriam uma medida valiosa da função cardiopulmonar na coexistência de DM2 e HAS. Considerando essa lacuna no conhecimento, o objetivo primário neste estudo foi avaliar a modulação autonômica cardíaca em pacientes com DM2 com e sem HAS. O objetivo secundário foi verificar se os índices de VFC correlacionam-se com a capacidade de exercício nesses pacientes. Nossa hipótese é a de que pacientes com DM2 e HAS teriam controle autonômico cardíaco em comparação a pacientes diabéticos e que existiria uma correlação entre os índices de VFC e a capacidade de exercício. Métodos Delineamento O presente estudo é um estudo transversal. Participantes Um total de 60 pacientes (média ± DP 51 ± 7 anos; 42 homens e 18 mulheres) diagnosticados com DM2, acompanhados no ambulatório cardiovascular da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), concordaram em participar do estudo. Os pacientes foram divididos em dois grupos de acordo com a presença de HAS: 1) DM2 (n = 32; 20 homens e 12mulheres) e DM2+HAS (n=28; 20 homens e 8mulheres). O tempo de DM2 e HAS foi registrado com base no relato dos próprios pacientes. Os experimentos foram conduzidos no Laboratório de Fisioterapia Cardiopulmonar da UFSCar. Os critérios de inclusão para ambos os grupos consistiram em idade entre 40 e 60 anos e com diagnóstico clínico de DM2 – estabelecido com base na glicemia de jejum e na hemoglobina A1c (HbA1c), de acordo com diretrizes atuais – em uso de hipoglicemiantes e clinicamente estáveis por no mínimo 6 meses. Todos os pacientes eram sedentários (relatado pelos pacientes). No grupo DM2 + HAS, os indivíduos diabéticos apresentavam diagnóstico clínico de HAS e estavam em terapia hipoglicemiante e hipertensiva. Os critérios de exclusão foram história de doença coronariana ou outras doenças respiratórias concomitantes. Registro do intervalo RR Os intervalos RR foram registrados continuamente utilizando-se um sistema de telemetria Polar S810i (Polar Electro Oy, Kempele, Finlândia), a uma taxa de 500Hz, e esses foram usados para obtenção dos índices de VFC. O sinal do intervalo RR foi registrado continuamente durante 10 minutos, com paciente em repouso, posição supina, e respiração espontânea. Os participantes foram instruídos a não conversarem desnecessariamente durante a avaliação para se evitar interferência no sinal da frequência cardíaca. Análise da VFC Os sinais do intervalo RR foram transferidos para um microcomputador e revistos por um examinador independente para verificar a qualidade dos sinais e detectar qualquer anormalidade. Os segmentos que apresentaram qualquer anormalidade foram descartados. Os dados foram transferidos para o programa de análise de VFC Kubios (MATLAB, versão 2 beta, Kuopio, Finlândia) e uma série (estável e livre de artefatos) de 256 intervalos RR sequencias foram selecionados e analisados. Para avaliar os tacogramas, foi usada uma abordagem multivariada, que permite uma avaliação abrangente da função autonômica cardíaca. As propriedades dinâmicas não lineares da VFC foram analisadas calculando-se entropia aproximada (EnAp), 17 dimensão de correlação (DC) 18 e gráfico de Poincaré. 19 A EnAp quantifica a regularidade das séries de tempo e representa um único index da complexidade e previsibilidade 65

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