ABC | Volume 111, Nº1, Julho 2018

Minieditorial Risco Genético em Doença Arterial Coronariana Genetic Risk in Coronary Artery Disease Paula F. Martinez 1 e Marina P. Okoshi 2 Faculdade de Fisioterapia da Universidade de Mato Grosso do Sul, 1 Campo Grande, MS - Brasil Faculdade de Medicina de Botucatu (UNESP), 2 Botucatu, SP – Brasil Minieditorial referente ao artigo: Análise de Risco Genético da Doença Arterial Coronariana em um Estudo Populacional em Portugal, Usando um Score de Risco Genético com 31 Variantes Correspondência: Marina P. Okoshi • Departamento de Clínica Médica. Rubião Júnior, S/N. CEP 18618-000, Rubião Júnior, Botucatu, SP – Brasil E-mail: mpoliti@fmb.unesp.br Palavras-chave Doença da Artéria Coronária/genética; Polimorfismo Genético; Estudo de Associação Genômica Ampla. DOI: 10.5935/abc.20180130 A doença arterial coronariana (DAC) é a principal causa de morte no mundo, sendo mais comumente causada por aterosclerose nas artérias coronárias. A DAC tem etiologia complexa, devendo-se principalmente a uma combinação de fatores de risco tradicionais e predisposição genética. Os fatores de risco tradicionais incluem diabetes tipo 2, dislipidemia, hipertensão arterial e tabagismo. 1 Entretanto, esses fatores não são suficientes para identificar indivíduos assintomáticos com alto risco e não explicam todos os casos de DAC. A influência da hereditariedade na suscetibilidade à DAC é responsável por 40% a 50% dos casos. 2 Polimorfismos são variações genéticas comuns, presentes em mais de 1% da população. 3 O polimorfismo é uma substituição de nucleotídeo que não altera a estrutura primária do aminoácido da proteína resultante. 3 O polimorfismo de nucleotídeo único (SNP, sigla em inglês) é uma variação no DNA em um único nucleotídeo que ocorre em posição específica do genoma. O SNP pode ser um marcador de suscetibilidade a doença. 3 Populações de indivíduos saudáveis e afetados podem ser avaliadas por genotipagem de SNP em um gene e suas sequências reguladoras. 4 Estudos de associação genômica ampla (GWAS, sigla em inglês) foram usados para criar escores de risco genético para melhorar a predição de risco de DAC. 4-6 Entretanto, seu valor como preditor independente de risco para DAC não é claro. Nesta edição dos Arquivos Brasileiros de Cardiologia , Pereira et al., 7 apresentam interessante estudo sobre a geração de um escore de risco genético multilocus baseado em variantes comuns já associadas comDAC. Os autores avaliaram se o escore de risco genético era independentedos fatores de risco tradicionais e se aprimorava a predição de risco de DAC em comparação ao modelousando apenas omodelo comfatores de risco tradicionais. Após avaliar dados do Instituto Nacional de Pesquisa do Genoma Humano, os autores analisaram33 variantes genéticas previamente associadas com DAC. A população estudada foi selecionada do GENEMACOR ( GENEs in a population from the Portuguese island of MAdeira with CORonary artery disease ), um estudo populacional caso-controle com 1.566 casos e 1.322 controles. O risco coronariano foi determinado por análise de regressão logística. Duas curvas ROC foram construídas, uma com e outra sem o escore de risco genético, sendo o teste de DeLong usado para compará-las. A área sob a curva ROC do fator de risco tradicional foi estimada em 0,72, que estatisticamente aumentou para 0,74 quando o escore de risco genético foi adicionado, revelando melhor adequação do modelo. A força do estudo está na avaliação de amostra grande e homogênea, pois apenas residentes permanentes da Ilha da Madeira foram incluídos. Os escores de risco genético têm sido muito estudados, resultando em grande progresso para a melhor compreensão do papel da influência genética na DAC e da função de cada novo locus . 4,8-13 Entretanto, o papel da maioria das variantes genéticas no desenvolvimento da doença permanece desconhecido. 10 Além disso, a presença ou ausência de um fator de risco tradicional pode determinar se um fator genético vai contribuir ou não para a doença. 5 Embora no estudo de Pereira et al., 7 a adição do escore de risco genético tenha resultado em um escore estatisticamente superior para a identificação de pacientes de alto risco, a diferença entre as duas curvas de fator de risco foi pequena. Portanto, considerandoo baixo controle dos fatores de risco tradicionais na população geral e o alto custo financeiro envolvido na determinação de escores de risco genético, é importante manter o foco na prevenção e no controle dos fatores de risco tradicionais até que o papel dos escores de risco genético seja melhor esclarecido. Agradecimento Agradecemos a Colin Edward Knaggs pela editoração em inglês. Financiamento por Fundect/MS (Proc. n. 23/200.495/2014) e CNPq (Proc. n. 308674/2015-4). 62

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