ABC | Volume 111, Nº1, Julho 2018

Artigo Original Stevens et al Os custos das doenças cardíacas no Brasil Arq Bras Cardiol. 2018; 111(1):29-36 Tabela 6 – Análise multivariada de sensibilidade CP TM STE Custo total (R$) 5.832 68.891 58.538 QALY total 3,99 5,45 5,30 Custos incrementais (R$) 60.059 52.706 QALY incremental 1,46 1,31 Custo incremental (R$) por QALY 41.123 40.309 QALY: anos de vida ajustados por qualidade; CP: cuidado padrão; TM: telemedicina; STE: suporte telefônico estruturado. podem deixar passar o impacto maior que tal condição exerce na economia, bem como seu verdadeiro custo ao serem considerados outros impactos fiscais. Embora o estudo tenha focado o uso de conjuntos de dados administrativos para custos de saúde, pois há maior probabilidade de refletirem a alocação de custo por pagador, os próprios conjuntos de dados podem não refletir os reais custos para cada condição. Por exemplo, a codificação e o relato das condições acham-se sujeitos ao julgamento individual dos clínicos para a indicação da causa de base, da condição ativa ou da condição crônica como a condição primária, e tal escolha pode mudar o relato dos impactos atribuíveis. Uma revisão sistemática e meta-análise de banco de dados administrativos para IC identificou que os conjuntos de dados não capturam um quarto dos casos, 27 enquanto uma revisão sistemática de dados médicos eletrônicos para FA mostrou a existência de foco desproporcional em dados de pacientes hospitalizados, sendo necessária pesquisa adicional incorporando códigos de pacientes externos e achados eletrocardiográficos para identificar corretamente as apresentações de FA. 28 Logo, enquanto os custos relatados refletem o atual julgamento clínico e o relato administrativo, a alocação de custo atribuída a cada condição pode continuar a ser melhorada. Ao atribuir gravidade relativa às condições, seu tratamento e impacto nas condições relacionadas devem ser considerados. O tratamento de uma dessas condições poderia aliviar o desenvolvimento futuro de outra, e detalhes das relações entre as condições ainda estão sendo estabelecidos. Por exemplo, enquanto a HTN é considerada um fator de risco comum para doenças cardíacas, há evidência cada vez maior sugerindo a associação entre FA e IM. 29 Logo, abordar a FA poderia aliviar futuros casos de IM e o custo correspondente a ele atribuído. A maior limitação deste estudo foi a ampla disponibilidade de dados. Três pressupostos principais na metodologia tiveram que ser estabelecidos, o que pode ter tido um impacto nos resultados. Primeiro, nossas estimativas de custos de saúde foram guiadas por estatísticas hospitalares relatadas para cada uma das condições. Isso deve ser mais apropriado para condições que requeiram significativo manejo de cuidado agudo (e.g. IM), mas pode sub‑representar o verdadeiro custo das condições com maior ênfase no cuidado primário ou manejo farmacológico, como a HTN. Segundo, comum a todas as estimativas de produtividade que usam uma abordagem de capital humano, a taxa de desemprego no Brasil pode ou não ser suficientemente baixa para ficar sujeita a uma perda permanente de produtividade. A partir da perspectiva societária, uma perda de produtividade por doença cardíaca só equivale a uma perda de produtividade para a economia se a taxa de desemprego não aumenta de forma acelerada, de modo que qualquer redução em horas trabalhadas devido a enfermidade não possa ser reposta em longo prazo com a admissão ou o aumento de horas de outros trabalhadores substitutos. Terceiro, embora TM e STE tenhammostrado efeitos benéficos na redução da mortalidade por todas as causas para pacientes de IC que receberam alta recentemente no estudo original, 24 tais resultados foram estatisticamente inconclusivos. Embora tal incerteza quanto às estimativas tenha sido avaliada na análise de sensibilidade, essas estratégias terão que ser reexaminadas à medida que surjam novas evidências. Conclusão Este estudo mostrou que, no Brasil, as doenças cardíacas exercem significativo impacto financeiro e no bem-estar, com um custo de R$ 56,2 bilhões apenas em 2015 para as quatro condições. Prevenção ou melhor manejo das doenças cardíacas poderia resultar em significativos benefícios para melhorar o bem-estar e preservar a economia. A TM e o STE são mecanismos custo-efetivos para aprimorar o manejo da IC. Este estudo foi financiado pelo Grupo Novartis. Os autores são os únicos responsáveis pelo seu conteúdo. Agradecimentos Os autores de Deloitte Access Economics desenharam o estudo, coletaram dados, realizaram a análise e esboçaram o manuscrito. Todos os autores leram, comentaram e aprovaram o manuscrito final. Esta pesquisa é parte de um estudo maior da América Latina, com identificação de resultados específicos para alguns países, como México, Chile, Peru, Venezuela, Colômbia, Equador, Panamá e El Salvador. Os resultados do Brasil foram apresentados no Congresso Europeu ISPOR em Viena em novembro de 2016 e no Congresso Cardiovascular Mundial em junho de 2016. Contribuição dos autores Concepção e desenho da pesquisa: Stevens B, Pezzullo L, Verdian L; Obtenção de dados: Stevens B, Tomlinson J; Análise e interpretação dos dados: Stevens B, Pezzullo L, Verdian L, Tomlinson J; Análise estatística: Stevens B, Tomlinson J; Obtenção de financiamento: Pezzullo L; Redação do manuscrito: Stevens B, Verdian L, Tomlinson J, George A; 35

RkJQdWJsaXNoZXIy MjM4Mjg=