ABC | Volume 111, Nº1, Julho 2018

Artigo Original Warpechowski Neto et al Síndrome de brugada – coorte e registro de 19 anos Arq Bras Cardiol. 2018; 111(1):13-18 A tabela 1 sumariza os achados clínicos, eletrocardiográficos e eletrofisiológicos dos pacientes incluídos no estudo. Não houve diferença entre os grupos com e sem indução de arritmia (Tabela 2). Cardiodesfibrilador foi implantado em 16 casos (45,7%). Desses, apenas 2 não tiveram arritmia desencadeada (razão do implante história de morte súbita e síncope). Dois pacientes com arritmia ventricular (um deles com taquicardia ventricular não sustentada e outro com fibrilação ventricular) se negaram a receber o CDI a despeito da indicação clínica. Em seguimento médio de 5 anos, 1 dos 16 pacientes (6,25%) que receberam CDI teve terapia apropriada para fibrilação ventricular e 1 (6,25%) não teve consulta após o implante (Figura 1). Nenhuma morte foi registrada no acompanhamento. Outros eventos arrítmicos ocorreram em 4 (11,4%) casos, entre eles episódios de taquiarritmias supraventriculares não sustentadas e complexos ventriculares prematuros frequentes. A discriminação de eventos entre pacientes com CDI pode ser vista na Figura 2. Discussão Ainda é limitado o conhecimento quanto à taxa de eventos a longo prazo nos pacientes diagnosticados como portadores de SBr ou padrão eletrocardiográfico de Brugada, dado o relativo pouco tempo desde a descrição inicial, datada de 1992, 1 e limitação de seguimento dos trabalhos atuais, cujasmaiores linhas temporais atingem não mais do que 3 anos, em sua maioria. Heterogênea na sua prevalência ao redor do mundo, seja por traçados eletrocardiográficos não permanentes, alterações genéticas díspares ou por percentuais de pacientes não reconhecidos, potenciais eventos arrítmicos e morte súbita são perenes ao longo da vida nas populações acometidas e fazem com que seguimentos de longo prazo se tornem importantes no conhecimento da doença e na elaboração de ferramentas para estratificação de risco e abordagem terapêutica – sobretudo pelo acometimento de populações jovens e longo tempo de exposição a possíveis desfechos. O predomínio masculino encontrado no presente trabalho, já presente na descrição inicial em percentual de 75%, 1 é concordante com os achados da literatura global, cujos percentuais variam conforme a localização geográfica, constituindo 84,3% dos pacientes em grande coorte japonesa, 5 70% em coorte espanhola 9 ou 57,9% em trabalho belga 10 - a proporção mantém-se em populações geograficamente próximas, com coorte argentina com tamanho semelhante (43 pacientes), onde o percentual masculino atingiu 85%. 11 A idade média de 43,89 anos, da mesma forma, reflete os Tabela 1 – Características clínicas, eletrocardiográficas e do estudo eletrofisiológico Apresentações Clínicas N = 35 Homens 25 (71,42%) Idade 43,89 ± 13,1 anos Assintomáticos 23 (65,7%) Síncope 5 (14,3%) Palpitação 6 (17,14%) Apresentações Eletrocardiográficas Tipo I 22 (62,85%) Tipo II 12 (34,30%) Tipo III 1 (2,85%) Estudo eletrofisiológico Taquiarritmia ventricular 16 (45,7%) Período refratário 228 ± 36 ms Intervalo HV 49 ± 8,6 ms Ajmalina/Procainamida 11 (31,4%) Tabela 2 – Características quanto à indução de arritmia ao estudo eletrofisiológico Arritmia induzida Arritmia não induzida p Número (%) 16 (45,7) 19 (54,3) Idade 44,625 (± 13,69) 43,26 (± 13,30) 0,768 ¶ Sexo masculino 12 (75) 13 (68,42) 0,7304 ¶ Padrão eletrocardiográfico Tipo I 10 11 0,8034 † Tipo II 6 7 Tipo III - 1 Manifestação clínica Assintomático 10 13 0,99 † Palpitações 2* 4** 0,82 † Síncope 3 2** 0,83 † HF morte súbita 2* 1 0,87 † * No grupo de pacientes com arritmia induzida, um apresentava associação de palpitações e morte súbita familiar. ** No grupo de pacientes sem arritmia induzida, um apresentava a associação de palpitações e síncope. HF: história familiar. ¶ : Teste t de Student; † : Teste Qui-quadrado / exato de Fisher. 15

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