ABC | Volume 110, Nº6, Junho 2018

Ponto de Vista Santos Impacto do consumo de ovos inteiros nos lipídios Arq Bras Cardiol. 2018; 110(6):585-587 (p = 0,001), LDL em 150 para 162 ng/dL (p = 0,001), HDL de 42 para 45 ng/dL (p = 0,02), e apolipoproteína B (p = 0,05). Observou-se a diminuição da VLDL de 103 para 95mg/dL (p = 0,007) neste estudo, o que provavelmente não era esperado. 9 Estudos atuais: de grandes amostras populacionais à intervenção com bom controle da ingestão de ovos de galinha inteiros Recente estudo mostrou que o consumo entre dois a quatro (n = 4493) e maior que quatro ovos (n = 214) inteiros de galinha por semana não aumentou a incidência de doenças cardiovasculares comparado a indivíduos com hábito de consumo menor que dois ovos por semana (n = 2509). Vale ressaltar que este estudo é do renomado grupo PREDIMED (PREvención con DIeta MEDiterránea), no qual os indivíduos seguiam um estilo alimentar mediterrâneo, portanto, havendo consumo habitual de azeite de oliva e oleaginosas. Logo, o aumento do consumo de ovos era acompanhado por um bom estilo alimentar, o qual foi comprovado pelo controle de macronutrientes e tipo de lipídios ingeridos, como relevante percentual de gorduras monoinsaturadas (~20% do valor calórico total) e moderada em saturadas (~10% do valor calórico total). 5 A despeito do estudo do grupo PREDIMED, 5 em um estudo também com considerável amostra (n = 1231) é disposto que quanto maior o consumo de ovos de galinha inteiros, maior foi a área da placa de ateroma na carótida (consumo semanal entre um a cinco ovos exibiu maior área da placa comparado commeio ovo semanal). Entretanto, no estudo falta o controle de exercício físico, circunferência da cintura e o principal, hábitos dietéticos. Não obstante, o aumento da área da placa foi relacionado com maior idade e histórico de fumar. 10 Outro recente estudo mostrou que a ingestão diária de dois a três ovos inteiros de galinha aumentou a funcionalidade da HDL e carotenoides plasmáticos, os quais são fatores anti-inflamatórios e antioxidantes. Trinta e oito participantes saudáveis participaram de um estudo em que inicialmente ficaram um período de 2 semanas sem comer ovo, e posteriormente consumiram um ovo inteiro de galinha por 4 semanas, e progressivamente dois e três ovos inteiros diariamente a cada 4 semanas; a intervenção durou um total de 14 semanas. Em comparação com o momento da privação da ingestão de ovos, o consumo de um a três ovos/dia resultou em concentrações aumentadas dos níveis da LDL grande (21-37%), HDL grande (6-13%) e apolipoproteína AI (9-15%), ao passo que a ingestão de dois a três ovos/dia promoveu um aumento da apolipoproteína AII em 11% e a luteína e zeaxantina plasmática em 20-31%, enquanto a ingestão de três ovos/dia resultou no aumento de 9-16% na atividade de paraoxonase-1 sérica em comparação com a ingestão de um a dois ovos/dia. A ingestão de um ovo/dia foi suficiente para aumentar a função da HDL e a concentração de partículas da LDL grande. Já, a ingestão diária menor que três ovos/dia favoreceu à melhora do perfil da partícula de LDL menos aterogênica, melhorou a função da HDL e aumentou os níveis de antioxidantes plasmáticos em adultos jovens e saudáveis. 6 Esta recente intervenção adiciona à literatura um impacto mais detalhado biologicamente em função do consumo de ovos de galinha inteiros, pois vai além de marcadores clássicos do perfil lipídico na prática clínica, analisando precursores das lipoproteínas e caráter antioxidante. 6 O aumento dos níveis da paraoxonase-1 e apolipoproteína AI em função da ingestão dos ovos são benéficos, pois são percursores da formação da HDL, proporcionadomaior funcionalidade. 11,12 A respeito do aumento dos valores da LDL grande, ele não representa um fator ruim, e sim uma modulação benéfica da molécula, pois quanto maior o volume dela, menor é a propensão à penetração endotelial nas artérias, diferentemente da LDL de menor volume (i.e., a sdLDL, a lipoproteína de baixa densidade pequena e densa). 13 Posicionamento de diretrizes diante do consumo de colesterol A V Diretriz Brasileira de Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose incentiva a ingestão de colesterol <300mg/d para pacientes no geral, sendo que para dislipidêmicos o incentivo é < 200 mg/d. 14 Em concordância com as recomendações mais recentes na literatura médica, um novo consensual da American Heart Association , 15 baseado principalmente nas diretrizes dietéticas da Dietary Guidelines for Americans , 16 no período de 2015a2020, oconsumode colesterol ainda é limitado igualmente ao preconizado pela V Diretriz Brasileira de Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose. 14 Porém, tais recomendações não especificam de onde o colesterol dietético é proveniente, por exemplo, se é principalmente de uma alimentação do estilo ocidental rica em frituras como um todo, ou se é de um tipo de alimentação com equilíbrio nutricional rica em substâncias funcionais. Opróprio posicionamento recente da AmericanHeart Association incentiva a alimentação mediterrânea, citando o grupo PREDIMED, a qual, paralelamente, pode ser baseada com considerável frequência semanal da ingestão de ovos inteiros. 15,16 Discussão Analisar um alimento de forma isolada requer ajustes pormenorizados, e o ovo é umalimento que, indubitavelmente, permanece em resultados polêmicos. Existem duas vertentes, uma mais cautelosa e outra que superestima o potencial do ovo como alimento. Seguir as recomendações tradicionais da ingestão de colesterol tem certa importância, entretanto, deve-se considerar o estilo de vida como um todo. Provavelmente, em indivíduos que praticam exercício físico e têm bom controle alimentar, a ingestão rotineira de ovos inteiros não ocasionará malefícios no perfil lipídico, uma vez que, presumivelmente, o organismo se encontra em um bom equilíbrio redox, sendo um fator protetor para desfechos cardiovasculares. 17 Até mesmo em indivíduos idosos, o consumo diário de ovos, pelo menos de forma não abusiva, pode ser insignificante na alteração do perfil lipídico. 18 Em um estudo cross-over composto por 33 idosos (média de 79 anos), o consumo diário de um ovo de galinha inteiro, durante cinco semanas, não alterou nenhum marcador tradicional do perfil lipídico comparado ao mesmo período sem a ingestão de ovos, e ainda aumentou marcadores antioxidantes séricos (+26% de luteína e +38% de zeaxantina). 19 586

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